Com a chegada das chuvas nas regiões produtoras, a tendência é de que o valor pago pela arroba do boi continue em queda. De acordo com uma pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a pressão vem da demanda interna bastante enfraquecida, tendo em vista o atual contexto econômico – o desemprego elevado e o consequente poder de compra fragilizado da maior parte da população brasileira. Além disso, os preços competitivos das principais carnes concorrentes – a suína e avícola -, reforçaram a menor procura pela proteína bovina.

As cotações dos contratos futuros do boi gordo não conseguiram manter a melhora e recuaram de maneira expressiva. O ajuste do vencimento para outubro passou de R$282,85 para R$275,35, em novembro foi de R$291,15 para R$284,30 e dezembro de R$300,50 para R$293,00 por arroba.

 

Nesta segunda quinzena de outubro o cenário se repete e a arroba do boi gordo voltou a despencar em regiões produtoras, após três dias de estabilidade. Na cidade de São Paulo (SP) a arroba caiu de R$280 para R$275, na modalidade a prazo. Em Goiânia (GO) foi de R$265 para R$260 e em Cuiabá (MT), passou de R$274 para R$266. No sul do Tocantins até a última semana (10/10) a arroba do boi foi vendida entre R$269,00 e R$271,00.

Agentes de frigoríficos consultados pelos pesquisadores do Cepea, relatam dificuldades para vender a carne bovina nos atuais patamares. “Enquanto as unidades de abate que habilitadas a exportar acabam tendo as vendas internacionais como válvula de escape – favorecidas especialmente pelo dólar elevado e pela demanda externa aquecida -, as que trabalham apenas com o mercado brasileiro relataram estar com as margens apertadas ”, afirmou o Consultor do Cepea, Sérgio Aragão.

 

Que situação

 

O cenário se complica ainda mais diante do custo de produção, que está em um patamar elevado. “O pecuarista perdeu a capacidade de retenção de confinamento diante do custo maior. A chuva é um problema adicional, pois dificulta a retenção de animais no cocho. Com esse cenário, o pecuarista é obrigado a negociar esses animais, mesmo com preços mais baixos. É um cenário complicado, pois ninguém ganha com essa situação, nem frigoríficos e nem os pecuaristas”, explicou o consultor.

 

Segundo analistas de mercado, não há sinais de que a China vai reabrir, no curto prazo, o mercado para a carne bovina do Brasil. Diante disso, os preços seguirão em queda.

 

Injusta

 

Lei da oferta e procura ao que tudo indica que ficou no passado e o comportamento dos pecuaristas não está sendo justo. Em alguns casos, os produtores preferem amargarem no prejuízo, jogar o produto fora, do que baixar os preços.

 

A chef e empresária do ramo gastronômico em Palmas, Regiane Cardoso, disse que esse tem sido um complicador muito grave para tocar os negócios e manter os preços. “Diante de tudo que subiu o setor tem sofrido muito, a situação dos restaurantes ficou muito complicada, principalmente pela pandemia, e, juntamente com a pandemia veio o dobro do preço das coisas e com a carne não foi diferente. Eu comprava uma carne tipo filé mignon de vinte e cinco reais, hoje eu compro de sessenta reais, e quando há promoção pago cinquenta. A picanha, por exemplo, custava até pouco tempo cerca de trinta reais, hoje eu pago entre sessenta e sessenta e cinco reais”, relatou.

 

A empresária conta ainda que “eu não pude de forma alguma passar esses valores para o cliente e mesmo assim eles sumiram dos nossos estabelecimentos. Como voltaremos à rotina com os ingredientes com preço em dobro? Tudo dobrou, o arroz, o óleo e a carne é um dos itens mais caros do nosso estabelecimento porque a gente usa vários tipos de carnes em nossos cardápios, eu compro diariamente mais de mil reais de carnes, então é um item que pesa demais para nós”, desabafou a empresária.

Empresária – Regiane Cardoso

Ainda segundo Rejane, a qualidade é essencial para se manter no mercado, porque é o que a mantém o mercado vivo, apesar de todas as dificuldades é qualidade, “se a gente perder a única coisa que é a qualidade aí sim a gente perde de vez os clientes, isso não é permitido no estabelecimento. Se eu mudar do prato a principal característica eu perco a identidade e noventa por cento disso é a qualidade da carne”, pontuou a empresária, acrescentando que “o mais difícil aqui no Brasil é que os valores das coisas sobem e não descem, entre outras coisas os custos sobem todos os anos independentemente do cenário de oferta dos produtos”.