Foto – Pexels
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou nesta segunda-feira o fim de todas as restrições contra a Covid-19, afirmando que o país tem “níveis de imunidade suficientes” para confiar na vacina e em tratamentos, apesar da oposição política e da relutância das autoridades de saúde do país. Nem mesmo a notícia, no domingo, de que a rainha Elizabeth II teve teste positivo para o coronavírus fez o premier britânico mudar de ideia.
Com o anúncio da estratégia denominada “Vivendo com a Covid-19”, realizado no Câmara dos Comuns, o governo acaba com a obrigação legal de autoisolamento dos infectados, a partir de quinta-feira, e com sua política de testes gratuitos para detectar a doença, a partir de abril.
— Vamos aprender a viver com esse vírus — disse o premier, que aproveitou para desejar melhoras à rainha. — Sei que toda a Câmara (dos Comuns) se juntará a mim para enviar nossos melhores votos a Sua Majestade, a Rainha, para uma recuperação completa e rápida. É um lembrete de que este vírus não desapareceu. Mas graças à incrível campanha de vacinação, o país está um passo mais próximo de voltar à normalidade e de finalmente devolver a liberdade às pessoas.
Com as medidas, termina na quinta-feira a exigência legal de autoisolamento após um teste positivo, embora aqueles que forem diagnosticados sejam aconselhados a ficar em casa e evitar contato com outras pessoas por pelo menos cinco dias completos. Trabalhadores também não serão mais legalmente obrigados a informar seus empregadores quando pegarem a doença, e o auxílio do governo para quem estiver isolado acabará, assim como o rastreamento de contatos de rotina.
O fim da testagem em massa é criticada por especialistas e partidos de oposição, que acusam Boris de querer distrair a atenção do público, no momento em que seu cargo está em perigo pela investigação sobre uma série de festas na residência oficial de Downing Street durante o período de confinamento.
O premier, que também é acusado de querer agradar a representantes conservadores que estão insatisfeitos com as restrições, disse ainda que as medidas impostas há dois anos representam um “grande custo para nossa economia, nossa sociedade, nosso bem-estar mental”.
— Não precisamos mais pagar esse custo — disse o premier diante do Parlamento. — Então, vamos aprender a viver com esse vírus e continuar nos protegendo e aos outros sem restringir nossas liberdades.
Críticas de especialistas
A maioria dos integrantes da Confederação do NHS (o sistema nacional de saúde do país) é contrária ao fim das medidas de isolamento e da testagem gratuita. Nesta segunda, o presidente-executivo da confederação, Matthew Taylor, admitiu que o programa de vacinação e a chegada de novos tratamentos contra a Covid-19 oferecem uma “verdadeira esperança”, mas destacou que a pandemia não acabou.
— O governo não pode chegar, balançar uma varinha mágica e agir como se a ameaça tivesse desaparecido por completo — afirmou.
David Nabarro, delegado da Organização Mundial da Saúde (OMS) especializado em Covid-19, também disse que eliminar a lei sobre o isolamento dos infectados parece “realmente pouco sábio”.
— Realmente, me preocupa que o Reino Unido esteja adotando essa linha, que vai contra o consenso de saúde pública e que outros países afirmem: ‘Bem, se o Reino Unido está fazendo, então por que não nós? — disse Nabarro.
Para a oposição trabalhista, as medidas são como “substituir seu melhor zagueiro 10 minutos antes do fim de uma partida”.
— Boris Johnson está declarando vitória antes do fim da guerra, em uma tentativa de distrair a atenção da polícia que bate à sua porta — criticou a porta-voz de questões de saúde do Partido Trabalhista, Wes Streeting.
Mais cedo, o governo anunciou que oferecerá uma quarta dose da vacina a grupos mais vulneráveis. Segundo o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização (JCIV, na sigla em inglês), a dose extra será destinada a pessoas com mais de 75 anos ou que vivem em casas de repouso e todos com mais de 12 anos que apresentem um quadro de imunossupressão.
Fonte O Globo