O Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS), repudiou novamente a ação de madeireiros e fazendeiros que desmatam as áreas de proteção ambiental e Terras Indígenas na Ilha do Bananal. Em julho de 2021, o Instituto já havia denunciado os crimes ambientais.

Em fotos e vídeos enviados por lideranças Karajá (do Povo Iny) é possível ver as árvores derrubadas. Os criminosos abrem estradas no meio da floresta para escoar a madeira em caminhões. Além do desmatamento, os povos indígenas também denunciam a caça e pesca em seus territórios, o que ocasiona a diminuição de peixes e animais que servem de alimento para as aldeias.

Um dos indígenas da região dá detalhes sobre os crimes, mas pede para não ser identificado por medo de sofrer perseguição: “O coordenador da (CTL) Coordenação Técnica Local da Fundação Nacional do Índio, Tenente Amaral, foi denunciado, porque os madeireiros dizem que ele autorizou, que pagaram ele, pra poder retirar as madeiras e os peixes da área de preservação”. Ele conta ainda que o desmatamento nunca parou e que a fiscalização na Ilha quase não acontece, a região norte, onde há poucas aldeias, é a mais vulnerável à derrubada de árvores.

Para o líder indígena, as instituições de proteção ambiental do Governo Estadual e Federal deveriam estabelecer uma base de fiscalização com tecnologia e equipamentos para identificar e frear os crimes ambientais, já que a extensão da ilha dificulta a fiscalização.

O maior medo dos Povos Indígenas é que o desmatamento avance e os madeireiros e fazendeiros entrem em conflito com as aldeias.

 

Desmatamento e crise hídrica no Tocantins

A baixa transparência de dados relativos à autorização de supressão vegetal (ASVs) no Tocantins impede a percepção da realidade de devastação das florestas, a taxa de ilegalidade de desmatamento no estado pode chegar até 76% de acordo com estudo realizado pelo Instituto Centro de Vida (ICV), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Intituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), publicado em 2021.

Os dados disponíveis coletados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são preocupantes. Entre 2004 e 2021 o Tocantins teve um aumento de 12% do desmatamento, sendo que em 2021 mais 20 km² foram desmatados no estado. O Instituto registrou ainda 10,0007 focos de incêndio em 2021.

O monitor de Secas mostra que entre 2020 e 2021 o Tocantins teve um volume de água abaixo da média e registrou seca em 100% de seu território. Na região sudoeste do estado já é necessário empregar medidas de armazenamento para que a população não fique sem água.

 

Nota de repúdio

“O Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS) repudia toda e qualquer ação de madeireiros ilegais e fazendeiros que seguem invadindo áreas de preservação e Terras Indígenas na Ilha do Bananal, para extração e venda de madeira ilegal, além do desmatamento da floresta para criação de gado.

A maior ilha fluvial do mundo e área de proteção ambiental, onde habitam os povos Iny: Karajá, Javaé e Xambiá e ainda o povo Avá Canoeiro.

 

Este tipo de desmatamento, além de destruir o meio ambiente, agride diretamente os povos indígenas, ao invadir suas terras e desrespeitar o meio onde vivem. A extração de madeira e abertura de áreas da floresta para criação de gado nas reservas ambientais e mesmo nas áreas indígenas, pode provocar conflitos entre os Povos Indígenas e os agentes invasores, causando violência aos nativos e dano a sua cultura.

 

Em julho de 2021 o INDTINS denunciou a extração de madeira, no entanto, não foram feitas medidas suficientes pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e das autoridades estaduais para impedir o avanço da exploração ambiental.

 

É notável o crescente desrespeito e crimes ambientais nos últimos anos, o que interfere diretamente na vida dos povos indígenas em todo o território brasileiro. Ações estas ocasionadas por ausência de gestão por parte do Governo Estadual, do IBAMA, da FUNAI e, consequentemente, pelo Governo Federal, especialmente na gestão do presidente Jair Bolsonaro.

 

Esperamos que todos os madeireiros ilegais e fazendeiros autores destes crimes ambientais, sejam devidamente punidos de acordo com o que está previsto em lei.”