A pesquisa teve como objetivo ajudar a desvendar a origem e a história epidêmica da infecção pelo Zika Vírus. No trabalho, os pesquisadores geraram 54 genomas parciais ou totais do ZIKV, a maior parte deles do Brasil. Houve coleta de exames referentes à infecção pelo zika e investigação com amostras de pacientes do Tocantins.
O médico infectologista Flávio Milagres, professor do colegiado de Medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT), é um dos autores do artigo de capa da revista Nature, edição 546, no mês de agosto. A pesquisa sobre o zika vírus foi publicada em um dos principais veículos científicos internacional. No momento, o professor trabalha na continuidade de sua pesquisa como proposta de tese para o doutorado.
O professor explica que sua participação se deu por ter cursado o mestrado no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), onde a pesquisa teve início, e por residir no Tocantins, um dos locais afetados. “A entrada do zika vírus no Tocantins ocorreu em 2015. Nós tivemos o impacto muito grande de um vírus antigo que circulava em pequenas populações na Ásia e na África. Quando entrou nas Américas, trouxe a microcefalia. Por isso, o assunto é de interesse internacional”.
Para Milagres, além da carreira acadêmica do profissional, a publicação também valoriza a UFT com o aumento dos índices de produtividade em pesquisa. “Ser um dos coautores do artigo publicado na Nature, que é uma revista de impacto mundial, mostra que, mesmo estando no Tocantins, nós podemos fazer parcerias e colaborar com o conhecimento de novas doenças a nível mundial”.
Resultados
O trabalho contou com a contribuição de vários países da América com amostras de vírus positivo. Foram observadas a familiaridade e constatou-se que o vírus tinha a mesma linhagem, deu entrada no Brasil pela região nordeste e se disseminou no país e no mundo após os grandes eventos como a Copa das Confederações, Encontro da Juventude com a presença do Papa e a Copa do Mundo.
Também se chegou à conclusão de que houve dificuldade na identificação do vírus, que já estava presente desde fevereiro de 2014, mas que demorou quase um ano para a confirmação do primeiro caso. “Como continuidade, nós desenvolvemos uma parceria de Vigilância Epidemiológica entre o Estado, através do Laboratório Central de Saúde Pública do Tocantins (Lacen), e a USP, para desenvolver ações de combate ao arbovírus – transmitidos por mosquitos – e monitoramento das infecções”.
Pesquisadores
Oito pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto de Medicina Tropical são autores do artigo “Establishment and cryptic transmission of Zika vírus in Brazil and the Americas”, capa do volume 546 da revista Nature. Liderada pela professora Ester Cerdeira Sabino, a equipe é composta pelos docentes Aluísio Augusto Cotrim Segurado, Anna Sara Levin e Maria Cássia Jacintho Mendes Corrêa, da FMUSP, pela pesquisadora Tania Regina Tozetto-Mendoza (IMT) e pelos alunos de pós-graduação Ingra Morales Claro (FMUSP), Antonio Charlys da Costa (IMT) e Flavio Milagres (FMUSP). A pesquisa é resultado de uma colaboração internacional com a participação, entre outros, da Universidade de Oxford, do Instituto Evandro Chagas, da Universidade de Birmingham e da Fundação Oswaldo Cruz.