Mesmo com toda a repercussão negativa de sua fala, e Soldado Alcivan lamentando suas palavras, o vereador de Araguaína, Marcos Duarte (SD), usou a tribuna novamente para justificar sua fala racista. Ele afirma que quando fala em ‘negro de alma branca’, esta destacando a pureza da alma de Soldado Alcivan (Progressistas).

“Na fala do negro de alma branca, o branco representa pureza, clareza, luz. E aquilo que foi colocado ali, não era de cunho racista, era da pureza da alma do Soldado Alcivan, da luz que nos traz. […] Nós aqui defendemos as pautas das minorias. De maneira alguma apoiamos qualquer tipo de racismo ou homofobia, mas temos nossas ideias claras”, disse.

Marcos ainda pediu desculpas a seu colega vereador. “Se o Soldado Alcivan se sentiu constrangido, fica nosso pedido de perdão, que é meu parceiro número um”.

Em tom de debochado, Marcos disse que ainda pode continuar utilizando termos racistas em particular. “Em particular, posso continuar chamando o Alcivan de, né…Mas ele é um amigo pessoal, sabe disso, que não teve cunho racista. As pessoas que não tem o que fazer e pegam só uma parte”, declarou.

Sem citar nomes, Duarte ainda disparou que um grupo que defende minorias utiliza esta pauta para questões políticas. “Infelizmente tem um grupo que supostamente defende minorias, mas utiliza dessa pauta para questões políticas. Nem vou falar o nome deste grupo, só para reafirmar que não tenho nenhuma preocupação em relação ao trabalho deles. O que manifestam é irrelevante, tem zero de importância”, disse o vereador, que ainda os considerou “um mal para a sociedade”.

Assista:

Alcivan lamentou fala de Duarte

Alcivan lamentou o episódio, e afirmou que mesmo em tom amistoso, a fala se caracterizou como uma prática preconceituosa. “Infelizmente um episódio lamentável roubou a cena. Falo das palavras com as quais o nobre amigo se dirigiu a minha pessoa. Mesmo em tom amistoso, se caracterizou como uma prática preconceituosa. A naturalização dessas ações, atos, situações, falas e pensamentos, fazem parte do nosso cotidiano, que promove direta ou indiretamente o preconceito racial. Isto é o que chamamos de racismo estrutural, na qual hoje em nossa sociedade, está meio que normalizado. Frases e atitudes de cunho racista e preconceituoso, que muitas vezes surgem como forma de piada ou até como forma de elogio, e que acabam nos colocando em situações degradantes”, disse o parlamentar.

“Como cidadãos de segunda classe ou raça inferior. Isso se incorporou em nossa cultura. Expressões como ‘negro de alma branca’, ‘serviço de preto’ ou ‘negro bom’, dentre outras tantas, foi incorporadas em nossa cultura com objetivo claro de reduzir ou diminuir o negro em sua importância social”, complementou o vereador.

Alcivan declarou que não viu maldade na fala de Marcos, mas que tal atitude é fruto de desconhecimento do que seja o racismo estrutural. “A alma de uma pessoa e seu caráter não tem cor, por isso, meu nobre amigo Marcos Duarte, esclareço que não vi maldade, mas talvez desconhecimento de sua parte do que seja o racismo estrutural. Por esta razão, devemos entender para combater. Esta Casa de Leis deve zelar pela dignidade humana, sobretudo; e primar pelo combate de todo racismo e preconceito, pois somos todos iguais”, finalizou.

Coletivo se manifesta

O coletivo Somos, de Palmas, condenou o termo nas redes sociais e chegou a apontar uma atitude racista por parte do novo presidente eleito do Legislativo de Araguaína.

“Essa mensagem, que está totalmente disfarçada de elogio, trás consigo um racismo que não deve ser mais tolerado. Em uma só frase ele reforça a ideia de que uma pessoa negra só é digna de elogio se for comparada à características brancas. Totalmente INACEITÁVEL!”, alega o coletivo.

Segundo o Somos, Essa fala racista não atinge somente o vereador Alcivan, mas a maioria da população de Araguaína, do Tocantins e do Brasil que é NEGRA. “Inclusive Marcos Duarte tinha ciência do caráter racista da fala, a ponto de relembrar durante seu discurso um pronunciamento racista idêntico ao seu, proferido anos atrás por um Ministro do Supremo”, acrescentou.

O coletivo disse que vai  cobrar uma posição da Comissão de Ética da Casa e também fazer uma nova provocação no Ministério Público.

Para o movimento negro e antropólogos a expressão é considerada racista pois faz uma alusão à cor branca para tentar elogiar alguém. Especialistas condenam o uso da expressão.