Por Brener Nunes e Lucas Eurílio

O Ministério da Saúde confirmou, nesta sexta-feira, 29, a primeira morte por varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil.

O paciente, um homem de 41 anos com graves problemas de imunidade, estava internado no Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, e morreu na quinta-feira, 28.

Na última segunda-feira, 29, o Tocantins confirmou o primeiro caso da doença no município de Nazaré, no Bico do Papagaio. O homem, com histórico de viagem a São Paulo, ficou 21 dias em isolamento, e recebeu alta um dia após a confirmação do caso.

A Gazeta procurou o médico Neilton Araújo para falar um pouco sobre a doença e como o Tocantins deve atuar para não ser tão afetado por essa possível nova epidemia. Primeiro, ele contextualiza explicando que varíola dos macacos é uma infecção viral originária dos roedores, e foi observada pela primeira vez nos macacos. “Embora, tenha este nome, não é uma infecção do animal macaco. Ela estava restrita a alguns países da África de forma não epidêmica, e a partir de alguns anos atrás ela voltou a se espalhar e ser transmitida de humanos para humanos”, conta.

Atualmente, na Europa, todos os países já têm casos. No Brasil, já existem quase mil casos confirmados. A doença caracteriza-se como de baixa letalidade, não tendo grande risco de morte. “As pessoas assustam mais pelo quadro clínico, pois ficam cheias de pequenas vesículas, caracterizando o caso antigo de varíola no Brasil, que já não existia há muito tempo. É preciso entender que nem todos os casos possuem muitas vesículas pelo corpo todo. As vezes são um, ou quatro pequenas, e elas ficam com uma secreção purulenta, e depois que estouram fica uma feridinha que demora de duas a quatro semanas para regredirem”, explica Neilton.

O médico explica que a varíola dos macacos não limita as pessoas a fazerem suas atividades. “Não há limitações de grande da atividade das pessoas. O que é mais interessante, que neste período de duas a quatro semanas é que ocorre a transmissão de pessoa para pessoa, seja por contato respiratório, da pele, beijo ou por contato sexual também. Então, deve haver cuidado porque já está aparecendo casos em todos os estados do Brasil, em quantidade pequena como é no começo de qualquer epidemia”.

“Cada caso que se descobre, é preciso fazer uma busca de contactantes, encontrar estas pessoas e isolá-las. Adotar medidas de prevenção porque senão vai ser transmissão intensa. Nos casos mais graves, as pessoas ficam em casa, mas nos leves, as vezes, as pessoas nem fazem um diagnóstico, e confinam circulando, e com isso contaminando”, pondera o médico sobre a importância do diagnóstico do doença.

O médico confirma que o Ministério da Saúde criou um comitê de operações especiais e está orientando a todos os estados e os municípios maiores a criarem também os seus comitês de observação e acompanhamento.

Neilton ainda destaca que não existe um tratamento específico. “Não existe um tratamento específico, é um tratamento de feridinha de pele, com higiene, alguns antissépticos e pomadas. E a vacina antiga varíola, protege contra esses casos novos de varíola dos macacos. Hoje uma nova vacina está sendo produzida na Dinamarca e o Ministério da Saúde já começou tratativas para adquirir vacinas. Sabemos que todo começo de epidemia, as vacinas não são em doses suficientes para fazer a cobertura que aparecem no mundo todo. Então, é momento de cuidado vigilância e observação. E qualquer sintoma procurar uma unidade de saúde para fazer o diagnóstico, pois o exame demora cerca de 15 dias, pois vai ao Rio de Janeiro, mas os estados já estão sendo capacitados para ter também forma de fazer o diagnóstico que vai demorar dois, três dias. Não há motivo para alarme neste momento, mas manter vigilância”, finaliza.

Nos últimos tempos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de letalidade da varíola dos macacos foi de cerca de 3% a 6%; para a varíola humana maior, esse percentual chegava a 30%.

Como explicou o médico ouvido pela Gazeta, a doença ainda não tem uma vacina específica, mas três vacinas já existentes contra a varíola humana podem ser usadas para proteger contra a varíola dos macacos. Alguns países já estão aplicando uma delas, mas ainda não há previsão de chegada no Brasil.

Casos no Brasil

Até esta quarta-feira (27), o Brasil tinha 978 casos confirmados de varíola dos macacos, em 15 estados e no Distrito Federal:

  • São Paulo (744)
  • Rio de Janeiro (117)
  • Minas Gerais (44)
  • Paraná (19)
  • Distrito Federal (15)
  • Goiás (13)
  • Bahia (5)
  • Ceará (4)
  • Santa Catarina (4)
  • Rio Grande do Sul (3)
  • Pernambuco (3)
  • Rio Grande do Norte (2)
  • Espírito Santo (2)
  • Tocantins (1)
  • Mato Grosso do Sul (1)
  • Acre (1)

 

Os números podem variar em relação aos das Secretarias Estaduais de Saúde por causa do tempo de notificação ao ministério.

Inicialmente, o Ministério da Saúde havia informado que o paciente que morreu nesta semana era de Uberlândia (MG). Depois, entretanto, o governo de Minas Gerais afirmou que o homem era de Pará de Minas (MG), município a cerca de 80km de Belo Horizonte.

Emergência de saúde global

No sábado, 23, a varíola dos macacos foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma “emergência de saúde global”.

A decisão pode levar a um maior investimento no tratamento da doença e avançar na luta por vacinas, que estão em falta. Na prática, o estado de emergência obriga agências sanitárias pelo mundo a aumentar medidas preventivas.

Atualmente, só há outras duas emergências de saúde deste tipo: a pandemia do coronavírus e o esforço contínuo para erradicar a poliomielite.

Mais de 18 mil casos e 5 mortes pela doença já foram relatados à organização, em 78 países. Mais de de 70% das infecções vêm da Europa e 25%, das Américas.

Com informações do G1