Mãe negra amamentando – Foto -JGI/Tom Grill/Getty Images
Uma pesquisa feita com mais de 2 mil entrevistadas mostra que um quarto das mães negras trabalhadoras já receberam um salário menor que colegas que realizavam a mesma função, mas tinham uma raça/cor diferente. Entre mães não negras, 16% afirmam terem passado por uma situação semelhante.
Os dados são de um levantamento realizado pela iO Diversidade e Instituto Locomotiva, e mostram que o olhar interseccional de raça e gênero ainda demanda atenção, seja de políticas públicas, seja das políticas de diversidade, equidade e inclusão – DE&I – das empresas.
De acordo com Rachel Rua, diretora-executiva da iO Diversidade e uma das responsáveis pelo estudo, esse olhar é fundamental para que nas formulações de políticas DE&I, voltadas para mães, sejam consideradas as especificidades que o perfil étnico-racial tem na vida dessas mulheres.
A pesquisa ainda aponta que 30% das mães negras afirmam já terem sido discriminadas por colegas ou gestores no trabalho por causa de raça, ou cor, sendo que entre mães não negras o número chega a 8%.
Além disso, 6 em cada 10 mães negras afirmam que já sofreram preconceito ou foram discriminadas por causa de sua raça, ou cor.
Rua diz que o objetivo da pesquisa foi entender, a partir dessa perspectiva de ser mãe, a dificuldades de entrada e a permanência no mercado de trabalho como um todo.
“A gente queria entender qual a diferença entre ser uma mãe negra ou não negra. Como a questão racial se juntava à questão de gênero para ter impacto nas experiências dessas mulheres.”
Para conseguir responder esses questionamentos, a pesquisa fez as entrevistas com abrangência nacional, online, com mulheres.
A partir das respostas dessas mulheres foi possível mostrar o quanto é importante pensar na questão da desigualdade de gênero a partir também de um olhar racial.
Igualdade salarial
No dia 5 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre homens e mulheres quando exercerem atividades de igual valor ou mesma função.
O empregador que descumprir a lei terá de pagar multa equivalente a dez vezes o valor do novo salário devido. Em caso de reincidência, será aplicada a multa em dobro. Mesmo com pagamento da multa, a pessoa discriminada pode ingressar com pedido de indenização por danos morais.
Sobre essa questão, Rua afirma que essa lei é um avanço, pois agora se tem, formalmente uma lei que obriga e garante que mulheres negras tenham direito ao mesmo salário que qualquer outra pessoa que esteja exercendo a função semelhante a ela.
Porém, ressalta que entre uma lei promulgada e uma lei que, no popular é como conhecida como “lei que pega”, tem um desafio.
“Existe uma pressão na sociedade para que essa lei efetivamente funcione, e tenho uma certa vigilância sobre isso.”
Para Ruas, além da questão salarial, o dado apresentado na pesquisa é muito importante, dada a experiência de preconceito e discriminação no ambiente de trabalho, o que impacta em outras coisas que não são mensuráveis como salário.
“Tem muito a ver com a vida dessas mulheres e as suas possibilidades de desenvolvimento de oportunidade em carreira. À medida que você sofre esses processos de preconceito e discriminação, essas mulheres, de alguma maneira, estão sendo ditas a ela que ali não é o lugar dela, que ali ela não é bem-vinda. Portanto, expulsa essas mulheres desse mercado formal de trabalho”, destaca.
Essa situação, segundo ela, causa uma situação de insegurança psicológica a essas mulheres. “Imagina você vivendo num lugar onde está sujeito, o tempo inteiro, a situações parecidas com essa? Então, penso que esse caso exige outro tipo de preocupação que parte das políticas, não só públicas, mas também políticas das empresas”.