A servidora pública Camila Ribeiro teve o nariz cortado por uma linha de pipa com cerol enquanto pilotava sua motocicleta em 2013 e ainda carrega sequelas emocionais e físicas do acidente. “Tenho cicatrizes e até hoje, quando vou pilotar a moto, fico com medo”, conta.
Na época do acidente, Camila fez parte das estatísticas de motociclistas vítimas de acidentes com cerol. O susto foi após um almoço de domingo com a família. “Estava passando pela Avenida Brasil, quando senti uma coceira no nariz, passei a mão e saiu muito sangue. Levei um susto, perdi o controle da moto e bati no canteiro central. Tive uma lesão na perna que rompeu parte do meu tendão”, relembra a servidora.
O mês de agosto inicia a temporada de ventos fortes que vai até setembro é comum encontrar pipas no céu da cidade. A brincadeira é saudável e inofensiva desde que não seja feita com cerol ou linha chilena, que é a mistura de cola, madeira ou vidro moído para derrubar ou cortar as pipas do “adversário”. O item pode causar lesões corporais nos motociclistas, animais de estimação, danos para a rede elétrica e até levar à morte.
Consequências
Após o acidente, Camila passou por cirurgias, fisioterapia e, até o período de recuperação, ficou três meses afastada do serviço. “Foi feita a reparação do meu nariz, por pouco não danifica a cartilagem a ponto de fazer um enxerto, mas ficou a cicatriz, e ainda fiquei seis meses sem poder andar direito usando uma bota ortopédica. Até hoje o meu pé não é 100%”, relatou.
A servidora ainda conta que adotou medidas de segurança após o trauma, desde a escolha de rotas ao voluntariado na conscientização. “Opto por transitar em regiões centrais, onde quase não tem pipas, e se eu perceber que estão brincando e fazendo uso do cerol, desço do veículo para orientar as crianças”, conta Camila.
Situação no Brasil
No Brasil, há cerca de 500 acidentes anuais com motociclistas por causa do uso de linhas chilenas ou o cerol, segundo dados do deputado federal Ricardo Silva. Ele é o autor do Projeto de Lei 3358, que está em tramitação desde 2020 e tem como intuito tipificar o uso de cerol no Código Penal como crime de perigo para a vida ou saúde de outros, com pena de três meses a um ano de detenção.
Lei Municipal
Em Araguaína, a Lei Municipal de nº 3119/2019 proíbe o uso, fabricação e comercialização de qualquer material cortante para linha de pipas. Os estabelecimentos comerciais flagrados estão sujeitos a advertência, apreensão do produto e ainda multa de R$ 1.000,00. Além disso, a Prefeitura faz uma campanha de conscientização nas redes sociais e um trabalho de fiscalização na cidade.
A população também pode contribuir com esse serviço se tiver conhecimento de estabelecimentos que vendem materiais cortantes. A denúncia deve ser feita para o Demupe (Departamento Municipal de Postura e Edificações) nos telefones (63) 3411-5640 ou 99949-5394, e mensagens no WhatsApp (63) 99972-6133.
Se o morador flagrar alguém utilizando cerol ou linha chilena, a denúncia deve ser feita para a Polícia Militar, discando 190.
Atendimento
Em caso de lesões no corpo provocadas pelo cerol ou a linha chilena, o SAMU pode ser acionado por meio do 192. Outra possibilidade é procurar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou o PAI (Pronto Atendimento Infantil) para menores de idade com até 11 anos.
Orientações de segurança
A brincadeira com pipas deve ser feita principalmente em locais abertos, como o Parque Cimba, o mais distante possível das redes de energia elétrica. Caso a pipa fique presa nos fios, a orientação é não tentar retirar de forma nenhuma por causa do risco fatal de choque elétrico. Além do perigo para os passantes, o cerol na linha também aumenta a condução da eletricidade caso tenha contato com a rede de energia. Outra recomendação é não usar papel laminado na confecção da pipa, porque também conduz energia, e evitar soltar com vento muito forte, por causa do risco de arrastar a pipa para as redes.