É um adorno de madeira no lábio inferior que sinaliza os guerreiros e porta-vozes do povo indígena. Mais do que um líder, o Cacique Raoni, do povo Kaiapó (ou Mebêngôkre, como se autodenominam), carrega consigo o papel de liderança e mediação dos direitos da comunidade indígena brasileira.

Hoje, 21 de maio, é um dia histórico não só para o Judiciário tocantinense, mas também para o Tocantins. Conhecido internacionalmente como uma das principais vozes na luta indígena e ambiental, Cacique Raoni falou na tarde desta terça-feira (21/5) para um auditório repleto de pessoas no Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins (TJTO).

Demonstrando a potência e a relevância do líder indígena, marcaram presença os(as) representantes dos povos Kaiapó, Tapirapé, Juruna, Xavante, Xerente, Karajá, Javaé, Krahô e Apinajé. 

Abertura

Ao fazer a abertura do Evento, o desembargador Marco Villas Boas, diretor geral da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), destacou a atuação feminina indígena nas pautas ambientais e relembrou a importância das mulheres indígenas na história do Brasil.

“Saúdo, em especial, as mulheres indígenas presentes nesta tarde no Tribunal porque têm contribuído sensivelmente para que as comunidades indígenas tenham mais estruturação nas suas atividades, na lida com o reflorestamento, com programas ambientais e cuidando de fato da estruturação das sociedades indígenas”, desenvolveu.

“Nós somos diversos povos, com diversas culturas, dialogando uns com os outros, e temos de nos respeitar; é por isso que aqui no Tocantins viabilizamos esse diálogo com os povos indígenas aqui do Estado procurando uma interlocução, para que possamos compreender melhor a sociedade indígena, e eles, o sistema ocidental”, disse o desembargador Marco ao contextualizar o processo comunicativo do Judiciário tocantinense com as comunidades indígenas do Tocantins.

Em sua fala, o diretor geral da Esmat apontou para os desafios existentes nas diferenças de objetivos entre as sociedades ocidentais e os povos indígenas, como, por exemplo, os interesses econômicos. Também alertou para a importância de se construir uma interlocução benéfica, de preservação do meio ambiente e de respeito às limitações e possibilidades da natureza.

“É por isso que nós temos de aprender essas abordagens [sobre como cuidar e valorizar a natureza] e o respeito com os povos indígenas”, afirmou.

Em comentário, o magistrado Welligton Magalhães, diretor adjunto da Esmat e coautor do programa de Inclusão Sociopolítica dos Povos Indígenas, expressou sua felicidade pela realização do Evento, apontando para a importância do diálogo que vem sendo construído pelas instituições do Estado com os povos indígenas do Tocantins.

“Neste 2024, faz dez anos que tive a primeira oportunidade de visitar a aldeia Santa Isabel, os Karajás, na Ilha do Bananal, (…) e de lá para cá, o Poder Judiciário Tocantinense, por meio da Esmat e do TRE-TO, vem desenvolvendo um trabalho de diálogo constante com as comunidades indígenas. O dia de hoje sela com chave de ouro para que possamos dar continuidade a este trabalho, visto ser tão importante esse diálogo, não apenas para discutirmos o tema dos direitos humanos, assim como também a proteção do meio ambiente e dos povos indígenas”, declarou.

“Depois dos meus trinta e oito anos na Funai, prestes a aposentar, não podia sair do órgão sem esta grande homenagem ao Cacique Raoni, o maior líder dos indígenas do Brasil, com reconhecimento internacional. Quero agradecer a todas as comunidades indígenas presentes e dizer que me sinto muito feliz por ter essa interlocução com esses povos que aceitaram o convite para que pudéssemos fazer essa homenagem”, acrescentou o procurador federal da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Lusmar Soares Filho, ao citar a importância simbólica da presença do Cacique Raoni no Tocantins, como uma voz política que alastra mensagens e promove transformações.

Palestra “Direitos Humanos, Meio Ambiente e Povos indígenas”

Articulando em sua língua materna, o Cacique Raoni deixou reflexões poderosas aos(às) tocantinenses e expôs a importância do trabalho em conjunto com os brancos. Em suas palavras, Raoni deixou claro que o cuidado com a terra vem desde os antepassados, devendo ser preservado pelos mais velhos e perpetuado pelas novas gerações.

Ao discorrer sobre os impactos e as consequências negativas das interferências humanas na natureza, o líder indígena enfatizou a necessidade do diálogo.

“Nós sempre fomos contra a construção das barragens ou de qualquer outra ação que prejudique o meio ambiente e suas populações”, relatou.

Traduzindo as palavras do Cacique, o indígena Paxton transmitiu a força, a coragem e o peso da voz de Raoni na luta pelo respeito ao meio ambiente e na defesa aos territórios e povos indígenas.

“Enquanto eu tiver força, estarei lutando”, completou.