Em A forma da água, novo filme do  mexicano Guillermo del Toro, uma faxineira afônica se apaixona, nos idos dos anos 1960, por um Tritão (na Antiguidade clássica, um deus marinho que habitava o fundo do mar). Ela não se importa com suas escamas e ele não sabe falar a língua que ela tampouco consegue pronunciar. É um belo prelúdio para uma história de amor envolvente. Mas o romance que faz pulsar esse conto de fadas da Guerra Fria não se limita ao que se desenvolve na tela entre uma mulher e um homem peixe. A forma da água, indicado na semana passada a 13 Oscars, entre eles o de Melhor Filme e de Melhor Direção, saiu diretamente do caldeirão borbulhante da paixão de Del Toro pelo cinema.

Mestre do gênero da fantasia e responsável por filmes como Labirinto do fauno e Hellboy, o cineasta é famoso por sua imaginação fértil. Suas produções variam entre o gótico e o steampunk, gênero em que histórias ambientadas no passado têm tecnologia futurística. Costumam apresentar um desfile de personagens que são, a um só tempo, temíveis e maravilhosos. As histórias em si não costumam ser tão inventivas, como é o caso de A forma da água: uma versão mais molhada de A Bela e a Fera. Mas o design sempre encanta. Grande parte da trama se passa no subsolo de uma instalação de pesquisa governamental.

A protagonista afônica, Elisa (Sally Hawkins, indicada ao Oscar de Melhor Atriz), trabalha limpando banheiros, escritórios e laboratórios. Quando não está esfregando o chão, está em seu apartamento, que fica acima de um antigo cinema de nome Orpheum. Ao sair de noite para o trabalho, o dono da edificação diz para ela em tom tristonho: “Venha assistir a um filme, Elisa. Traga seu vizinho! Ninguém mais vem ao cinema”.

 

Por Nina Finco

Fonte: Época