Movimentando-se na direção da retomada de uma candidatura presidencial que
dizia ter abandonado, Luciano Huck deve se encontrar com o presidente de honra
do PSDB, Fernando Henrique Cardoso. Informado de que a conversa poderia
ocorrer já nesta quinta-feira, em São Paulo, um correligionário do presidenciável
tucano Geraldo Alckmin reagiu com um palavrão. Classificou de “sabotagem” o
estímulo de FHC às pretensões políticas do apresentador da TV Globo.

Há dois dias, em entrevista à Joven Pan, FHC soou explícito: “É bom ter gente
como Luciano, porque precisa arejar, botar em perigo a política tradicional, mesmo
que seja do meu partido. É preciso que ela seja desafiada por pessoas portadoras
de ideias e processos políticos novos para que o próprio partido possa avançar.
Está havendo sinal nessa direção.”

O grão-mestre do tucanato como que antecipou a pauta da reunião: “Eu gosto do
Huck. Sou amigo dele e da família. Acho que para o Brasil seria bom. Seria bom ter
mais opções. Não quer dizer que esteja apoiando. Mas as pessoas que não têm
partido para governar têm muita dificuldade. Ele tem boas intenções. Não sei por
qual partido viria. Falam que pelo PPS. Mas o PPS não tem estrutura.”

Conforme já noticiado, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire, de fato se mantém em contato com Huck. E ainda cultiva a expectativa de abrigar seu projeto presidencial no partido.

Não é difícil entender as razões da irritação de Alckmin e seus correligionários com
a movimentação de FHC. Disseminava-se no ninho a suspeita de que o líder
número um dos tucanos guardasse a candidatura de Huck sob a manga como uma
alternativa de centro. Aos poucos, a suspeita vai se convertendo em certeza. Daí a
irritação.

Empacado nas pesquisas, Alckmin tornou-se motivo de preocupação para os
empresários e líderes partidários que enxergavam nele uma opção conservadora
para a sucessão de Michel Temer. E a aproximação de FHC com Huck potencializa
as dúvidas quanto à capacidade de Alckmin de chegar ao segundo turno da eleição.

Geraldo Alckmin e seus apologistas tucanos afirmam, em privado, que FHC precisa
decidir se é aliado ou um mero estorvo para atrapalhar a vida do candidato do seu
partido ao Planalto. Os operadores políticos de Alckmin recordam que foi FHC
quem estimulou o governador de São Paulo a assumir a presidência do PSDB, para
cuidar de sua candidatura ao Planalto. E não se conformam com o seu aparente
encantamento com Huck.

Por Josias de Souza