Influenciadora Dheovana França é investigada lavagem de dinheiro e divulgação do ‘jogo do tigrinho’ — Foto: Reprodução/redes sociais

Dheovana França, conhecida influencer digital, foi indiciada pela Polícia Civil sob a acusação de lavagem de dinheiro e promoção de jogos de azar, incluindo o controverso “jogo do tigrinho”. Segundo investigações, a ex-manicure teria movimentado mais de R$ 10 milhões em apenas seis meses, distribuídos em 258 transações bancárias, a maioria via Pix. O Ministério Público denunciou que, durante esse período, Dheovana acumulou um patrimônio estimado em mais de R$ 7 milhões.

De acordo com o relatório da polícia, a maior parte das transações foi fragmentada em contas de familiares, terceiros e empresas suspeitas de serem de fachada. Entre os valores movimentados estão:

  • 146 transações totalizando R$ 2.522.080,70 com duas empresas;
  • R$ 785 mil transferidos para contas pessoais em oito transações;
  • 72 transferências no valor de R$ 51.682,02, somando R$ 3.721.105,44 para um familiar;
  • R$ 450 mil transferidos para terceiros em duas operações.

As autoridades acreditam que a fragmentação dos valores, prática conhecida como “smurfing”, tinha o objetivo de dificultar a detecção pelas instituições financeiras e órgãos de controle, como apontou o promotor de Justiça Diego Nardo: “Entre setembro de 2023 e março de 2024, Dheovana realizou 258 transações financeiras, muitas delas com valores arredondados, como R$ 30 mil e R$ 40 mil, inserindo recursos ilícitos no sistema financeiro.”

De Manicure a Milionária

Conforme a denúncia do Ministério Público, antes de se tornar milionária, Dheovana trabalhava como manicure e declarava uma renda mensal de apenas R$ 9.301. Em novembro de 2023, ela passou a ser investigada após seguidores denunciarem que foram vítimas de golpes relacionados ao jogo do tigrinho, promovido por ela nas redes sociais. Uma das denunciantes relatou que seu marido perdeu grande parte do patrimônio apostando na plataforma: “Meu esposo está perdendo todo nosso dinheiro por culpa delas, porque ficam ostentando uma vida fora da realidade e incentivando as pessoas a colocarem dinheiro nesses jogos.”

Em julho de 2024, com autorização da Justiça, a polícia bloqueou R$ 3 milhões das contas bancárias da influenciadora e apreendeu quatro veículos de luxo avaliados em cerca de R$ 1 milhão, além de nove imóveis no valor total de aproximadamente R$ 3 milhões. Entre os bens confiscados estão uma mansão em um condomínio de luxo em Palmas, avaliada em R$ 4,4 milhões, um Honda HR-V Touring, uma Chevrolet Silverado, uma L200 Triton Sport e um Hyundai HB20.

Influencer alega publicidade lícita, mas polícia contesta

Durante depoimento, Dheovana alegou que sua participação no jogo limitava-se à divulgação publicitária e que incluía avisos sobre os riscos das apostas, especialmente para menores de idade. No entanto, para a polícia, a influencer usava estratégias para atrair seguidores de forma enganosa. O delegado Elirio Putton Junior explicou: “Ela sugeria táticas para aumentar as chances de ganhar, como apertar o botão de turbo 20 vezes. Isso iludia as pessoas, levando-as a acreditar que tinham mais chances de vitória.”

Dheovana França foi indiciada por 258 crimes de lavagem de dinheiro, conforme o artigo 1º da Lei nº 9.613/98, e pela contravenção penal de participação em jogos de azar, de acordo com o artigo 50 do Decreto-Lei 3.688/41. Se condenada, a influencer pode pegar até 40 anos de prisão.

A denúncia ainda aguarda decisão judicial. O advogado de defesa, Indiano Soarez, afirmou que se pronunciará após ter acesso completo ao inquérito. Segundo a investigação, Dheovana recebia cerca de R$ 100 mil por mês promovendo o jogo, além de ganhar R$ 10 por cada novo registro na plataforma.

Vida de luxo financiada por jogo de azar

Com os ganhos obtidos na promoção do jogo do tigrinho, Dheovana adquiriu nove imóveis e uma frota de carros de luxo, além de ostentar uma vida glamorosa nas redes sociais. O Ministério Público e a Polícia Civil consideram que a influencer utilizava seu alcance nas redes para atrair mais pessoas ao esquema de apostas, o que impulsionou a denúncia por lavagem de dinheiro e jogos de azar.