Imagine o seguinte: você está voltando para casa de carro, pensando no que vai fazer para o jantar e enquanto está parado no sinal, perto de uma pizzaria, aparece na tela do painel o anúncio de um desconto de US$ 5 na pizza de calabresa.
Você fica irritado com o fato de o seu carro estar tentando lhe vender algo ou aceita com prazer a oferta? A Telenav, uma empresa que desenvolve software publicitário para carros, acha que você não vai ficar bravo. As fabricantes de veículos — que procuram ganhar um dinheiro extra — também esperam que seja assim.
As fabricantes de veículos instalam conexões sem fio em veículos e coletam dados há décadas. Mas o grande volume de software e sensores nos veículos novos, em combinação com inteligência artificial capaz de processar dados a velocidades cada vez maiores, mostra que estão surgindo novos serviços e fluxos de receita. A grande pergunta das fabricantes de veículos agora é se elas vão conseguir usar todos os dados dos motoristas que são capazes de coletar, sem perder clientes e sem se arriscar a uma reação negativa de Washington.
“As fabricantes reconhecem que estão em uma guerra pelos dados dos clientes”, disse Roger Lanctot, consultor da Strategy Analytics, que trabalha com fabricantes de automóveis na monetização de dados. “O comportamento e a localização do motorista têm um valor monetário, assim como o histórico de buscas desse cliente.”
O objetivo final das fabricantes, disse Lanctot, é construir um banco de dados das preferências dos consumidores que possa ser agregado e vendido a fornecedores externos para fins de marketing, como o Google e o Facebook fazem atualmente.
Troca
“O benefício é que nós esperamos um relacionamento melhor, porque nós conhecemos melhor o cliente, nós o entendemos melhor e podemos oferecer melhores serviços a ele”, disse Don Butler, diretor-executivo da Ford para veículos e serviços conectados, em uma entrevista em Las Vegas.
O potencial para compartilhar dados — anônimos e personalizados — com terceiros representa a maior oportunidade, disse Butler, da Ford. Como a maioria dos executivos da indústria automotiva, ele avisa rapidamente que os clientes terão a opção de optar pelos serviços que exigem informações de compartilhamento, como localização ou hábitos de direção.
Se os consumidores quiserem usar essas novas funções conectadas, especialmente fazer compras enquanto dirigem ou usar aplicativos para agendar corridas, eles terão que renunciar a um pouco de privacidade, disse Mike Abelson, vice-presidente de estratégia da General Motors. Ele disse que atualmente a empresa não vende dados a terceiros.
“Não estamos considerando isso”, disse ele. Mas acrescentou: “Eu não quero fazer uma declaração que seja definitiva”.
Por Gabrielle Coppola e David Welch, da Bloomberg