Pensar, discutir e construir uma comunicação para todos, que seja acessível para pessoas com deficiências ou limitações cognitivas, que agregue independente de gênero, raça, cor, status social ou orientação sexual e que não reproduza ou valide preconceitos. Essa foi a pauta da palestra “Linguagem Inclusiva na Comunicação”, ministrada por Pedro Prata no I Seminário Defcom – Defensoria e Comunicação, organizado pela Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO). A apresentação do tema encerrou, no sábado, 2, a série de palestras do Seminário.

 

Prata é coordenador do projeto Escola de Gente – Comunicação em Inclusão, organização referência em inclusão e acessibilidade premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A palestra foi mediada pelo defensor público Newton Jardim e contou, no público, com o defensor público-geral no Tocantins, Murilo da Costa Machado, defensores públicos, servidores da DPE-TO, jornalistas, assessores de imprensa da Defensoria e de outras instituições, e estudantes de Comunicação.

 

Segundo Prata, “a comunicação como é feita hoje não é pensada para todas as pessoas” sendo a fala “um recurso limitado quando você considera, por exemplo, as pessoas surdas”. No Seminário, ele ressaltou que as organizações precisam buscar uma comunicação mais acessível e também mais inclusiva, abrangendo, por exemplo, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), oferecendo recursos de audiodescrição, usando o Braille e estando preparada para atender pessoas que se comuniquem fora do espectro oral.

 

Outra sugestão é adotar uma linguagem mais simplificada, que seja clara para todos. Prata ressalta que “O limite da inclusão é você compreender que todas as formas de comunicação são humanas. Eu falando e ele gesticulando é também uma forma de comunicação”, disse o palestrante, em referência à tradução da palestra em Libras, feita pelo intérprete em Libras da Universidade do Tocantins (Unitins) Maiquel Krutzmann.

 

Para o defensor público-geral, Murilo da Costa, a palestra “deixa um legado para que todos que participaram possam dar um pontapé inicial para nos comunicarmos de maneira mais inclusiva e acessível, a começar pela adequação dos meios de comunicação próprios da Defensoria”. O mediador da palestra, defensor Newton Jardim, afirmou que a discussão foi importante para construir uma reflexão mais profunda que será usada na “construção, por parte de todos os defensores e servidores, de uma comunicação mais acessível com o público alvo da Defensoria”.

 

Legislação

O palestrante ressaltou que o Brasil é avançado quando se trata da legislação sobre inclusão e acessibilidade, inclusive na comunicação. Ele citou a Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como um idioma oficial, se equiparando ao Português, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (sancionada em 2015) e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (de 2009), que foi adotada pelo Brasil. No entanto, segundo ele, existe uma discrepância entre o que está no papel e o que realmente é aplicado e adotado em todos os níveis de inclusão.

 

Terminologia

Em se tratando da terminologia, segundo Prata, é preciso reconhecer que “as palavras têm um poder e são relevantes. A linguagem é um canal “que carrega atos discriminatórios muito fortes” e é natural que alguns termos sejam substituídos ou caiam em desuso conforme a discussão e a consciência sobre o poder da palavra avancem. “A forma como falamos sobre as pessoas contribui muito para que alguns grupos discriminados tenham avanço e reconhecimento dentro da sociedade”, afirmou dizendo também que não podemos ter medo da reflexão.

 

Descrição de imagens

De acordo com o palestrante, poucos sites e raras empresas de comunicação contam com mecanismos para que a pessoa cega consiga acessar o seu conteúdo na íntegra. Algo que é relativamente fácil de ser feito é a descrição das imagens, assim, quando uma pessoa cega acessa o conteúdo na internet, o software de leitura descreve a imagem.

 

I Defcom

O I Defcom – Defensoria e Comunicação foi realizado nos dias 2 e 3 de março na sede da Defensoria, em Palmas, e trouxe, já na abertura, uma palestra do Diretor de Comunicação da DPE-TO, André Araújo, sobre a importância da comunicação na concretização dos objetivos da instituição. No restante do dia o debate aconteceu com especialistas convidados, como o repórter do Núcleo Globo no Tocantins, o jornalista Cassiano Rolim, que falou sobre as pautas e desafios de uma cobertura jornalística.

 

A editora de Vida Urbana no Jornal do Tocantins, a jornalista Wanja Nóbrega, falou sobre a credibilidade da informação, relevância de conteúdos, edição de entrevistas, fake news, linguagem do jornal impresso e a democratização da informação.

 

Já o radialista Wagner Quintanilha falou sobre a importância social do rádio, a relação do radiojornalismo e das instituições. Ele também frisou a importância de se comunicar de forma clara, sem ruídos na mensagem.

 

A jornalista Roberta Tum discorreu sobre o funcionamento dos veículos de comunicação na internet, diferenças entre a imprensa tradicional e a digital, além de dicas sobre como se relacionar com a imprensa e conquistar espaço na mídia espontânea.

Texto: Patrícia Ströher / Ascom DPE