Maria José Cotrim

Esta quinta-feira, dia 8, Dia Internacional da Mulher foi marcada por uma mobilização de vários movimentos na Assembleia Legislativa. No começo teve faixa, batucada, apitaço e gritos de guerra. Teve ocupação nas galerias de honra, lugar geralmente ocupado por visitantes ilustres. Pois é: hoje as visitantes ilustres foram elas: as mulheres de luta!Acompanhei tudo de perto fazendo a cobertura da Gazeta do Cerrado. Foi um dia de representação popular tomando conta da Casa de leis.

Lá estavam lideranças de todo o Estado em especial as quebradeiras de coco de outros estados: Piauí, Tocantins, Pará e Maranhão. Elas fizeram a voz ecoar não só nos altos falantes mas também na Casa de Leis, naturamente também a Casa do Povo.

No início a relação entre Assembleia e movimentos estava desajustada. Até que com jogo de cintura e mesmo sem a presença do presidente Mauro Carlesse ( que é pré-candidato ao Governo e estava em Brasília recebendo apoio da nacional do seu partido para lançar de fato seu nome na disputa de outubro) os poucos deputados presentes tentavam acolher as reivindicações e tirar ao menos um encaminhamento. O grupo intervia, fazia barulho…e os deputados tentavam contornar.

O clima foi se acalmando e a deputada Luana Ribeiro, vice-presidente da Casa, propôs uma audiência pública imediata para discutir principalmente o projeto que trata da atividade das quebradeiras e que impõe regras sobre a questão do babaçu.Eram poucos os deputados mas estavam lá além do autor do projeto, José Bonifácio os deputados: Valderez Castelo Branco, Elenil da Penha, Wanderlei Barbosa, Eduardo Siqueira Campos e José Roberto Forzani. No painel eral 14 com presença registrada e as ativistas cobravam: “cadê os 14”. A deputada Luana respondeu: “Eu estou aqui!”.

Na audiência pública improvisada mas que garantiu a voz de vários segmentos das mulheres ali presentes falaram pelo menos 18 mulheres. Bonifácio contrapôs sobre seu projeto da queima do babaçu mas elas mantiveram a defesa: querem a retirada e pronto! Inclusive sob risco de extinção da atividade das quebradeiras, conforme alegou o movimento das quebradeiras.

Na condução dos trabalhos estava o deputado do PT, José Roberto Forzani, alinhado ás questões sociais das mulheres presentes. Fizeram falta ali o deputado Paulo Mourão, que estava em agenda fora, e a deputada Amália Santana ( em licença médica) também defensora direta das reivindicações das mulheres.

(Divulgação)

Em meio a ânimos acalorados as mulheres tiveram suas vozes ouvidas na audiência e prometem continuar as mobilizações para retirada do projeto. É preciso pelo menos 13 votos para derrubar o projeto, ainda em tramitação nas Comissões.

Após as falas das militantes tinha deputado que ouviu atentamente e que queria falar como Eduardo Siqueira Campos, por exemplo. Na hora de fazer sua explanação o plenário se esvaziou sem ouvir que na verdade ele foi o único a anunciar que votará contra o projeto. ” Meu voto já está definido, tem meu apoio a reivindicação”, disse.

Ao final, o deputado José Bonifácio conclamou as manifestantes para apresentarem alternativas ao projeto que está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) e tem como relator o deputado Olynto Neto (PSDB). “A proposta pode ser melhorada de acordo com a demanda de vocês, pois o deputado não faz nada sozinho”, sugeriu.

(Foto: Maria José Cotrim)

Vi uma mulherada defendendo umas bandeiras e exigindo atenção a suas reivindicações mas vi também o esforço dos deputados e deputadas presentes em ser esse elo de ligação neste processo. Foi um dia de luta no Legislativo! E as mulheres sairam dali no seu dia sabendo que foram ouvidas e tiveram a representação popular respeitada.

Um poder que não se omite

Ainda em meio aos tumultos mais um: a alegação de uma professora que diz ter sofrido racismo e intolerância religiosa ao ser abordada no plenário. Durante todo dia vieram manifestações de solidariedade  a ela e repúdio a ação de um dos integrantes da Assessoria Militar mas veio também uma resposta do Legislativo. Em nota a Assembleia informou que o impasse será investigado.

“A Diretoria Geral da Assembleia determinou abertura de sindicância interna para apuração de possível episódio de desentendimento que envolveu a assessoria militar da Casa e representante de movimentos sociais na sessão especial desta quinta-feira, 8, divulgados pela imprensa. A Direção Geral da Casa reafirma o compromisso da Assembleia com a transparência e a democracia na relação com a sociedade. Portanto, todos os fatos serão apurados para as medidas cabíveis”, informou em nota a Assembleia no final do dia de hoje.

Enfim, o Legislativo não deixou não só as mulheres mas principalmente o Tocantins sem resposta.