O rol de aplicativos brasileiros que ultrapassaram os 10 milhões de downloads no Android não tem só iFood e serviços de táxi. A lista também tem a presença ilustre de um app de mensagens que carrega um nome bastante familiar por aqui: o ZapZap. Se você não se lembra, não tem problema. Ele veio à tona há cerca de quatro anos, quando o WhatsApp – o original mesmo – foi bloqueado pelo governo por quase dois dias. E de lá para cá, foi baixado pelo menos 12 milhões de vezes, de acordo com seu site. Mas o que explica esse sucesso do app?
Muito provavelmente o nome, que caiu na boca do povo de alguns anos para cá. O termo “zap” é inclusive usado por personagens de novelas da Globo para se referir à troca de mensagens, e “zap zap” aparece em músicas sertanejas Brasil afora. O próprio Dicionário Informal tem a expressão registrada como verbete. Mas não dá para negar que o aplicativo teve seus méritos.
Era uma vez, no Pará…
O ZapZap foi criado por Erick Costa, um desenvolvedor paraense que resolveu transformar o apelido do WhatsApp em realidade, conforme ele mesmo explicou em uma entrevista que deu ao UOL em 2014. O aplicativo é todo baseado no hoje popular Telegram, que tem uma boa parte de seu código aberto para que programadores criem usando a API.
A ligação é tão próxima que a URL das páginas dos dois aplicativos no Google Play é basicamente a mesma – a única diferença é um “erick” ali no final do endereço. As conversas do Telegram ainda são “importadas” para o aplicativo nacional quando os dois são acessados com um mesmo número de telefone, e as notificações aparecem em dobro caso ambos estejam instalados.
A ideia foi alavancada quando o WhatsApp foi tirado do ar no Brasil por uma decisão judicial. Na busca por novas formas para se comunicar, os brasileiros foram atrás de alguns nomes óbvios, como o próprio Telegram, o Viber, o Line e outras opções que apareceram em diversas listas internet afora. O ZapZap veio nessa onda, aparecendo muitas vezes como uma alternativa curiosa justamente por causa do nome abrasileirado – e dos muitos recursos oferecidos.
O aplicativo de Costa trazia praticamente tudo que o app originário da Rússia tinha. Ainda hoje, é possível incluir milhares de pessoas em um grupo, criar e seguir canais de conteúdo, baixar e usar stickers, fazer chamadas de voz e trocar mensagens secretas. Muitos dos “podres” do Telegram, que já até relatamos aqui, também vieram junto, mas o ZapZap tem seus diferenciais.
De paquera a mensagens motivacionais
Além de tudo que o Telegram tem, o ZapZap conta com alguns grupos e canais próprios. Eles ficam “escondidos” em um menu lateral, que lista o ZapGrupos, o ZapCanais e o ZapFeed, uma espécie de mural público onde usuários postam seus bons dias e se oferecem para conversar. Nessa “rede social”, porém, podem aparecer também fotos não muito recomendas para o horário, mas todos esses conteúdo irregulares podem ser denunciados.
É entre os grupos que a história fica mais curiosa. Hoje, os mais populares e ativos do app são os dedicados a paquera, com nomes na linha de “Namora à distância”, “Paquerolândia”, “Atração Fatal” (este proibido para menores de 16 anos), “Namoro Online”, entre vários outros. Também aparecem listados grupos de compartilhamento de música sertaneja, na linha dos que existem também no Telegram, e memes. Mas os de paquera são, de longe, os mais populares.
Já nos canais, as mensagens motivacionais são o tema de alguns dos principais. Mas elas acabam se misturando com outros que distribuem de conteúdos de todos os tipos, de religiosos a adultos. É praticamente um grupo de família de WhatsApp, mas povoado por milhares de pessoas divididas em diferentes ramificações.
E aonde isso vai parar?
O ZapZap recebeu sua última atualização no dia 6 deste mês, o que indica que ainda recebe correções e novos recursos. A página do app no Facebook e a conta no Twitter, no entanto, não são atualizadas há algum tempo, e o repositório no GitHub também não está muito movimentado.
Ainda assim, Costa, o desenvolvedor por trás do aplicativo, confirmou por e-mail, que o ZapZap continua “ativo e em crescimento”. Além disso, sem entrar em muitos detalhes em um primeiro contato, disse que dará “um novo passo muito grande com o app dentro de algumas semanas”. De toda forma, dá para especular um pouco: a versão para iOS comentada na época que o programa ascendeu à fama não chegou a ser lançada até hoje. Pedimos mais detalhes, mas não tivemos resposta até a publicação desse texto.
Por Gustavo Gusmão, do TecMundo