Apesar de a maioria dos brasileiros ter a cor “parda” ou “preta” (termos segundo classificação do IBGE), essa proporção não aparece em comerciais, filmes, telenovelas e capas de revista. Um estrangeiro desavisado que ligar a TV na novela das nove e ver a Bahia vai pensar que, no Brasil, a esmagadora maioria é branca.

Por causa desse problema, a representatividade negra, quando ocorre, é celebrada e comemorada por boa parcela da população, negros e brancos. Mas o fato também atrai a atenção dos racistas (travestidos de não racistas), que se incomodam e reagem diante dos “avanços”.

Em sua nova campanha de Dia dos Pais, a marca O Boticário colocou uma família negra estrelando o vídeo bem humorado, onde um pai não é tão engraçado quanto ele acha que é. O fato de a família ser negra, na verdade, não é o assunto do comercial. Se é uma família brasileira, nada mais natural que seja negra.

No YouTube, a versão de 30 segundos da campanha acabou virando alvo de um ataque aparentemente coordenado de racistas, que conseguiram dar 16 mil “não gostei” ao vídeo. Nos comentários, muitos tentavam se passar por bem-intencionados e perguntavam “cadê a representatividade?”, com ironia.

Para eles, o comercial era racista… porque só tinha negros. No mundo ideal deles, era para ter brancos também. Eles se esqueceram dos outros milhares de comerciais feitos só com brancos. Claro, boa intenção disfarçada de racismo. Eles acham que branco também sofre racismo.

Apesar dos ataques e do ódio, os defensores da campanha (brancos ou negros) deixaram 48 mil curtidas e mais de 6,5 milhões de visualizações do vídeo em quatro dias.

Uma mulher resumiu bem, nos comentários, a situação: “Negros: ficaram felizes em ver uma família negra em um comercial, representatividade; Brancos não racistas: nem perceberam nada, viram apenas um comercial com uma família; Brancos racistas: deram dislike e estão nos comentários destilando ódio e racismo, cobrando ‘representatividade’, sendo que 90% dos comerciais, séries, novelas, etc. são representados por brancos e eles não cobram a inclusão de negros, índios, descendentes de asiáticos.”

Assista: