Lucas Eurilio/Repórter Gazeta do Cerrado

A transsexual Byanca Marchiori relatou momentos de constrangimento enquanto estava trabalhando no Hospital Geral de Palmas (HGP). Byanca que é presidente da Associação de Travestis e Transsexuais do Estado do Tocantins (Atrato) disse à Gazeta que estava se preparando para um procedimento cirúrgico quando o médico identificado como Reginaldo Maia Júnior a chamou de moleque.

De acordo com as informações, o incidente aconteceu no dia 6 de agosto e Byanca que é instrumentadora cirúrgica  já aguardava o médico dentro da sala de cirurgia, quando ele entrou e segundo a funcionária Reginaldo teria começado a gritar com ela.

“O agressor usou palavras de baixo calão e por várias vezes gritava para que eu saísse da ‘sua’ sala, enfatizando que eu era subalterna e que não poderia questionar sua conduta. O episódio chamou a atenção de pacientes, funcionários e paralisou o centro cirúrgico. O médico me chamou ainda de ‘moleque’, ressaltando a sua transfobia por não respeitar a minha identidade de gênero”.

Em uma nota publicada nas redes sociais, a Atrato disse que é contra qualquer tipo de violência, seja ela por gênero, raça ou orientação sexual. A nota diz ainda que quando títulos hierárquicos são utilizados como pretexto para exercê-la, é ainda mais repugnante.

“Não aceitamos que profissionais que deveriam trabalhar em conjunto, formando uma equipe multidisciplinar, usem de violência para impor o seu preconceito. Fica caracterizado de forma clara, a transfobia que é cada vez mais institucionalizada”

Nossa equipe entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde para solicitar um posicionamento sobre o acontecido, relatado por Byanca, saber se o médico foi afastado e se alguma processo interno será aberto para investigar o que de fato houve, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta.

Confira na íntegra a nota da Associação de Travestis e Transsexuais do Estado do Tocantins (Atrato).

AATRATO – Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins, lamenta e repudia veemente a agressão sofrida por sua digníssima presidente, ByancaMarchiori,  ocorrida hoje 06 de agosto de 2018 em seu ambiente de trabalho – Hospital  Geral de Palmas – enquanto exercia suas funções rotineiras como instrumentadora  cirúrgica.

Byanca foi vítima de violência verbal, laboral e transfóbica por parte do intitulado Dr. Reginaldo Maia Júnior – CRM TO-0997, especialista em cabeça e pescoço, enquanto se preparava para instrumentar uma cirurgia que seria conduzida por ele. Na ocasião, o sr. Reginaldo, entrou gritando e mandando-a que saísse da sala de cirurgia no exato momento em que esta preparava os equipamentos para que fosse realizado um procedimento cirúrgico. Segundo a vítima, o agressor usou palavras de baixo calão e por várias vezes gritava para que a mesma saísse da ‘sua’ sala, enfatizando que ela era subalterna e que não poderia questionar sua conduta. O episódio chamou a atenção de pacientes e funcionários e paralisou o centro cirúrgico. O médico chamou-a ainda de ‘moleque’, ressaltando a sua transfobia por não respeitar a identidade de gênero de Byanca.

A ATRATO é totalmente contra a qualquer tipo de violência, independente de gênero, raça ou orientação sexual. Quando títulos hierárquicos são utilizados como pretexto para exerce-la é ainda mais repugnante. Não aceitamos que profissionais que deveriam trabalhar em conjunto, formando uma equipe multidisciplinar, usem de violência para impor o seu preconceito. Fica caracterizado de forma clara, a transfobia que é cada vez mais institucionalizada.

É incoerente o caso, uma vez que as associações e conselhos das  quais representam os médicos, constantemente promovem campanhas contra violências injustificadas aos médicos, que em suas atividades profissionais sofrem com a falta de segurança nas unidades de atendimento à população.

Cabe salientar que este tipo de absurdo por parte do sr. Reginaldo, é relatado outras vezes pelos próprios companheiros de trabalho. Esta Associação prima pelos direitos das pessoas  travestis e transexuais em qualquer contexto da sociedade e desde já, pedimos urgentemente que as autoridades, poder público, conselhos de medicina, entre outros, tome as devidas providências para que fatos como estes deixem de existir, afim de que outros funcionários não corram mais o risco de serem maltratados, sofrerem agressões psicológicas e morais, por pessoas que só utilizam de violência e não tem condições de conviverem em ambientes ambulatoriais e hospitalares que visam exclusivamente tratar da saúde do ser humano.

Não nos calaremos! Resistiremos até o fim. Hoje, somos todos #ByancaMarchiori.

Palmas, 06 de agosto de 2018.

RafaellaMahare
Respondendo pela ATRATO