Novas pesquisas sugerem que mais dinheiro à disposição permite levar uma vida mais satisfatória. Estudos realizados com ganhadores de loteria na Suécia produziram provas convincentes desta verdade.
Pessoas que ganharam na loteria afirmaram que estavam substancialmente mais satisfeitas com sua vida do que as que não ganharam. As que ganharam prêmios no valor de centenas de milhares de dólares, por sua vez, afirmaram que se sentem mais satisfeitas do que as que ganharam dezenas de milhares.
As conclusões aparecem em um relatório de pesquisa intitulado “Efeitos de longo prazo da riqueza proporcionada pela loteria para o bem-estar psicológico”, de Erik Lindqvist, da Escola de Economia de Estocolmo, Robert Ostling, da Universidade de Estocolmo, e David Cesarini, da Universidade da Nova York.
O estudo evidentemente deverá alimentar um longo debate sobre o papel que as finanças pessoais desempenham na criação do bem-estar subjetivo. Muitas análises anteriores, incluindo algumas nas quais trabalhei, documentaram que as pessoas de rendas mais elevadas costumam relatar um nível maior de satisfação com a vida.
Outros estudos destes mesmos autores acompanharam a vida econômica de ganhadores de loterias com a finalidade de analisar as consequências da riqueza. Contrariamente aos estereótipos populares, os que ganham centenas de milhares de dólares não acabam com a maior parte de seu prêmio de uma só vez. Ao contrário, eles gastam lentamente sua riqueza recém-adquirida ao longo de muitos anos. Muitos nem sequer deixam seu trabalho, mas tendem a trabalhar um pouco menos e a se aposentar um pouco mais cedo. Surpreendentemente, o aumento da riqueza conseguido graças a um prêmio na loteria tem poucos efeitos sobre a saúde física dos ganhadores ou de seus filhos.
Estes resultados proporcionam fortes provas que respaldam a visão econômica comum de que o dinheiro aumenta o bem-estar, embora não de uma maneira totalmente uniforme. E contraria a visão defendida por muitos psicólogos de que as pessoas se adaptam significativamente às próprias circunstâncias – incluindo sua situação financeira.
Em um e-mail, Cesarini caracterizou esta perspectiva como “o equívoco amplamente difundido de que a ciência provou que ganhar na loteria muitas vezes torna as pessoas infelizes”.
Este equívoco muito provavelmente decorre de uma geração anterior de estudos sobre a loteria. Talvez o mais famoso deles seja o estudo de 1978, “Ganhadores da loteria e vítimas de acidentes: A felicidade é relativa?”. Como o benefício da visão retrospectiva, esse estudo parece ilustrar a mudança dos padrões da pesquisa empírica mais do que qualquer verdade a respeito do bem-estar. Eu vi este padrão antes, como muitas vezes uma conclusão contrária ao senso comum conquista a imaginação das pessoas.
Entretanto, a ciência acaba se corrigindo. Depois de 40 anos, três economistas determinados revelaram uma verdade mais confiável, mas menos romântica: o dinheiro de fato ajuda as pessoas a levarem uma vida mais satisfatória.
Justin Wolfers é professor de Economia e Política Pública na Universidade de Michigan.
Fonte: Estadão