Durante depoimento para a Polícia Civil, o sargento Edson Vieira confessou que participou de um dos homicídios registrados durante a noite de segunda-feira (22) em Gurupi, no sul do estado. O militar foi detido durante uma abordagem de agentes da Civil. Ele afirma que quem atirou e matou duas pessoas naquela noite foi o outro sargento que estava com ele, Gustavo Teles.

Teles morreu durante a mesma abordagem em que Vieira foi preso. Os dois também são suspeitos de envolvimento e uma tentativa de assassinato. No áudio, o sargento afirma que estava pilotando a moto apenas no momento em que uma das vítimas foi morta. 

A confissão foi gravada pela Polícia Civil:

Delegado: Como que aconteceu lá?
Sargento Vieira: Ele emparedou com o cara e atirou no cara e matou o cara.

Delegado: Você tava junto? [sic]
Sargento Vieira: eu tava [sic]

Delegado: Você tava junto? Nesse segundo vc tava junto? [sic]
Sargento Vieira: Eu tava pilotando. A mulher primeiro eu não tava. [sic]

Delegado: Você não tava?
Sargento Vieira: Não tava. [sic]

Os exames de balística confirmaram que os tiros que mataram as duas vítimas, Neuralice Pereira de Matos e Nataniel Gloria de Medeiros, partiram de uma das armas apreendidas com os militares. O revólver também foi ligado a tentativa de homicídio.

Uma câmera de segurança registrou o momento em que Nataniel Gloria foi morto por homens em uma motocicleta.

O advogado do sargento Edson Vieira nega as acusações. “Primeiro que isso não é fato, esse revólver não foi encontrado com os militares. Foi encontrado no local. Depois, ele se colocou a disposição para fazer o exame residuográfico. Isso prova a idoneidade e assertiva de que não participou do fato. Ele nega a autoria, nega que tenha participado de qualquer fato dessa natureza e desconhece a participação do sargento Gustavo também”, disse o advogado Paulo Roberto.

Morte de sargento

Sargento foi morto durante uma abordagem da Polícia Civil em Gurupi – Divulgação

Após a primeira morte, a Polícia Civil identificou dois suspeitos em uma motocicleta e começou a perseguir o veículo. Um vídeo gravado por uma câmera de segurança mostra o momento exato da abordagem da Polícia Civil que terminou com a morte do sargento Gustavo Teles.

A motocicleta surge no vídeo e passa por cima de um morro de terra perto do meio-fio. Os militares se desequilibram e rolam no asfalto. Logo depois, o ocupante que estava na garupa da moto se levanta, leva a mão a cintura, dá alguns passos e novamente cai. Este seria o sargento Gustavo Teles, que foi baleado e morreu no local.

As imagens mostram também que Teles estava de costa quando supostamente foi baleado. O tiro teria partido da viatura ainda em movimento. A Polícia Civil não informou de que arma partiu a bala que matou o PM.

Ao mesmo tempo, o outro ocupante da moto se levanta, pega alguma coisa no chão e logo depois levanta as mãos para o alto. Ele coloca um objeto no chão e novamente levanta os braços. Este seria o sargento Edson Vieira, que sobreviveu a abordagem e está internado em um hospital após ter um ferimento no pé durante a queda.

As imagens confirmam parte da versão contatada por Vieira em depoimento. Ele afirmou que estava pilotando a motocicleta e não reagiu à abordagem dos Policiais Civis.

Por outro lado, contraria parte do que foi informado pela Polícia Civil. “Em determinado momento, o condutor da motocicleta perdeu o controle, ambos caíram e quando se levantaram, já levantaram com armas em punho. Nesse momento houve reação da equipe de policiais civis, foi efetuado um disparo e um dos ocupantes da motocicleta foi atingido. Quando esse primeiro ocupante foi atingido, o segundo se entregou e colocou a arma no chão”, afirmou o delegado Hélio Gomes, no dia seguinte à ocorrência.

G1 questionou a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública sobre as imagens e aguarda resposta. O Governo informou que ainda não teve acesso ao vídeo, mas está reunido para se pronunciar sobre o caso.

O caso

Os dois sargentos da Polícia Militar estavam sendo perseguidos porque supostamente teriam envolvimento em dois homicídios e uma tentativa. Os crimes aconteceram na mesma noite, em Gurupi. O sindicato dos policiais civis chegou a afirmar que a ação dos militares se assemelha a de grupos de extermínio.

O delegado Hélio Gomes afirmou que os policiais civis tinham acabado de fazer atendimento no local do primeiro assassinato e seguiam para outra ocorrência quando se depararam com os PMs na motocicleta.

Durante a abordagem, a Polícia Civil apreendeu três armas com os sargentos da PM. Uma das armas foi ligada aos dois assassinatos por um laudo da perícia. O sargento teve a prisão preventiva decretada por suspeita de envolvimento em dois homicídios na mesma noite.

Polêmica

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Após a abordagem o delegado que fez o primeiro atendimento do caso resolveu deixar o estado após supostamente receber ameaças. Um vídeo gravado durante o velório do sargento Gustavo Teles mostra outro policial da mesma companhia afirmando que “os combatentes vão continuar a guerra que o sargento começou”.

“A informação que a gente teve foi de que a saída dele [do delegado] de Gurupi e do Tocantins foi em razão de ameaças que foram feitas por policiais militares e principalmente por um vídeo que está circulando nas redes sociais, em que um membro da Companhia Independente de Operações Especiais disse que a morte do colega vai ter volta e que estamos tentando denegrir a honra dele”, explicou o delegado Bruno Boaventura em entrevista ao G1.

No vídeo citado por Boaventura, um membro da Companhia Independente de Operações Especiais, da qual o sargento Gustavo Teles participava, diz que os “amigos e combatentes estarão sempre continuando a guerra que ele começou, pois a voga não vai parar. Os entendedores entenderão. O nosso irmão não morreu em vão e vai ser honrado”.

O governo do estado informou que não vai se posicionar sobre o vídeo. A Polícia Militar informou que tem prestado todo o apoio necessário, no sentido de colaborar com as investigações. Disse ainda que já está em curso um Procedimento Administrativo a fim de se apurar as circunstâncias que envolveram os militares.

A Secretaria de Segurança Pública ainda não semanifestou sobre o vídeo.

Gustavo Teles e Edson Vieira estavam em motocicleta — Foto: Arquivo pessoal

Gustavo Teles e Edson Vieira estavam em motocicleta — Foto: Arquivo pessoal

Entenda

Na mesma noite da morte do policial Gustavo Teles, foram registrados outros dois homicídios na cidade. Um deles ocorreu na avenida Brasília com a rua 7. A vítima é Neuralice Pereira de Matos. O outro foi na avenida Alagoas, no centro da cidade, onde Nataniel Gloria de Medeiros, de 28 anos, também foi baleado e não resistiu.

Os crimes teriam sido praticados de forma semelhante: dois homens em uma motocicleta atiraram contra as vítimas. O vídeo de uma câmera de segurança na avenida Alagoas, no centro de Gurupi, mostra o momento em que Nataniel Gloria de Medeiros, de 28 anos, é baleado.

Fonte: G1 Tocantins