Na mesma noite em que Neuralice Pereira de Matos e Nataniel Gloria de Medeiros foram assassinados em Gurupi, no sul do estado, outras duas pessoas ficaram baleadas após disparos feitos por homens em uma motocicleta. A suspeita da Polícia Civil é de que os crimes tenham sido cometidos por dois sargentos da Polícia Militar. Uma das vítimas que sobreviveu contou como tudo aconteceu.

Conforme a Polícia Civil, exames de balística comprovaram que a bala encontrada no local da tentativa de homicídio teria partido do revólver aprendido com os militares. A mesma arma foi ligada aos projéteis encontrados nos corpos de Neuralice e Nataniel.

O jovem que sobreviveu a tentativa de homicídio tem medo de mostrar o rosto. Ele conta que a ação foi por volta das 11h da noite de segunda-feira (22), quando estava sentado com amigos na porta de casa.

“Eles passaram reto, descendo a avenida de moto e depois subiram e foi aí quando começaram os disparos. Aí todo mundo entrou pra dentro e fui atingido.”

Das cinco pessoas que estavam na calçada, duas foram atingidas pelos tiros. Um dos jovens foi atingido no braço. A bala entrou pelo ombro e saiu no braço. A outra vítima levou um tiro na perna esquerda.

Segundo a testemunha, foram feitos pelo menos cinco disparos em direção ao grupo. As marcas ficaram por toda parte e uma das balas ainda está no local nesta sexta-feira (26).

“Primeiramente eu vi o garupa atirando, né. Quando eu vi a arma empunhando para o nosso rumo aí eu só corri. Não deu tempo pra ver mais nada. Não se pode dizer com toda certeza firmeza que era um revólver ou uma pistola porque foi de reflexo”, contou.

Após os dois assassinatos e o atentado conta o grupo de jovens, os sargentos Gustavo Teles e Edson Vieira foram abordados pela Polícia Civil. O primeiro acabou sendo morto com um tiro nas costas.

Vieira teve o mantado de prisão decretado e deve responder pelos crimes. Durante depoimento ele alegou que o colega cometeu os crimes e confessou que estava pilotando a moto em um dos assassinatos.

O advogado dele negou a autoria dos fatos. O Governo do Estado informou que é interesse institucional que sejam apuradas as posturas dos policiais militares, 2º Sgt PM Edson Vieira Fernandes e 3º Sgt PM Gustavo Teles, bem como a forma de condução por parte da Polícia Civil na abordagem que causou a morte do militar.

Polêmica

Após a morte do sargento, o delegado que fez o primeiro atendimento do caso resolveu deixar o estado após supostamente receber ameaças. Um vídeo gravado durante o velório do sargento Gustavo Teles mostra outro policial da mesma companhia afirmando que “os combatentes vão continuar a guerra que o sargento começou”. 

“A informação que a gente teve foi de que a saída dele [do delegado] de Gurupi e do Tocantins foi em razão de ameaças que foram feitas por policiais militares e principalmente por um vídeo que está circulando nas redes sociais, em que um membro da Companhia Independente de Operações Especiais disse que a morte do colega vai ter volta e que estamos tentando denegrir a honra dele”, explicou o delegado Bruno Boaventura em entrevista ao G1.

No vídeo citado por Boaventura, um membro da Companhia Independente de Operações Especiais, da qual o sargento Gustavo Teles participava, diz que os “amigos e combatentes estarão sempre continuando a guerra que ele começou, pois a voga não vai parar. Os entendedores entenderão. O nosso irmão não morreu em vão e vai ser honrado”.

Porém, em coletiva realizada na tarde desta quinta-feira, o comando da Polícia Civil negou que o delegado tenha recebido ameaças.

A Polícia Militar informou que tem prestado todo o apoio necessário, no sentido de colaborar com as investigações. Disse ainda que já está em curso um Procedimento Administrativo a fim de se apurar as circunstâncias que envolveram os militares.

PM critica ação de policiais civis durante velório do colega — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

PM critica ação de policiais civis durante velório do colega — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Entenda

Na mesma noite da morte do policial Gustavo Teles, foram registrados outros dois homicídios na cidade. Um deles ocorreu na avenida Brasília com a rua 7. A vítima é Neuralice Pereira de Matos. O outro foi na avenida Alagoas, no centro da cidade, onde Nataniel Gloria de Medeiros, de 28 anos, também foi baleado e não resistiu.

Os crimes teriam sido praticados de forma semelhante: dois homens em uma motocicleta atiraram contra as vítimas. O vídeo de uma câmera de segurança na avenida Alagoas, no centro de Gurupi, mostra o momento em que Nataniel Gloria de Medeiros, de 28 anos, é baleado.

Outros dois jovens foram baleados de forma semelhante. Eles estavam em uma calçada junto com outras pessoas, quando atiradores passaram de moto e dispararam. Os feridos foram levados para o Hospital Regional de Gurupi.

Nota na íntegra

O Governo do Estado, por meio das Polícias Civil e Militar do Tocantins, informa que é interesse institucional que sejam apuradas as posturas dos policiais militares, 2º Sgt PM Edson Vieira Fernandes e 3º Sgt PM Gustavo Teles, bem como a forma de condução por parte da Polícia Civil naquela ocorrência da noite do dia 22, em Gurupi.

Além da investigação, que corre em segredo de justiça, cabe ressaltar que, na apuração do caso que envolve os dois militares, a PM tem prestado todo o apoio necessário à Polícia Civil no sentido de colaborar com as investigações.

Também já está em curso um Procedimento Administrativo na PM a fim de se apurar as circunstâncias que envolveram os militares.

Por fim, destaca que as polícias Militar e Civil continuam conduzindo os trabalhos de polícia ostensiva e investigativa, em todo o Estado do Tocantins, inclusive em ações conjuntas, contra o crime e a busca pela paz social.

Fonte: G1 Tocantins