Maria Jose Cotrim – Jornalista, Editora Geral da Gazeta do Cerrado. Negra, Especialista em Comunicação Étnico-racial

Dia 20 de novembro. Em alguns locais do país feriado, no Tocantins um dia normal como qualquer outro em maioria dos órgãos. Como esta data pode ser invisibilizada num Estado onde segundo o IBGE mais de 74% da população é negra?

Pautar a diversidade não por obrigação mas por necessidade deveria ser um objetivo de órgãos importantes do Tocantins: seja na Justiça, no Legislativo, no governo, dentre outros.

Dia 20 de novembro ainda é uma data trabalhada apenas nas escolas com projetos voltados para a parte cultural. A população do Tocantins não é de e fato vista como sua essência de fato negra.

Enquanto isso em órgãos importantes como na Assembleia Legislativa do Tocantins, que diz ser a Casa do Povo, fatos intrigantes ainda acontecem como em março deste ano quando uma professora acusou um segurança da Casa (o Chefe do setor inclusive) de racismo numa abordagem preconceituosa. O caso foi mostrado pela Gazeta e ainda está em fase de apuração.

Quais as agendas institucionais contemplam a igualdade racial hoje? Quantos seguranças de órgãos são treinados para lidar com pessoas diferentes de norte a sul do Estado que chegam para buscar serviços? Vou mais longe nesta reflexão: a cor do nosso Estado se reflete no quantitativo do parlamento estadual? No Tribunal de Justiça? Na alta cúpula de decisões do governo?

A estrutura governamental atual tanto no Estado como nos municípios se importa em incluir, dar acesso e implantar Políticas específicas para nossa população majoritariamente negra? É essa a palavra mesmo: negra! Nada de pardo ou outras tipificações para tentar driblar a real cor.

No Tocantins além de estrutura específica nos órgãos em geral (com excessão de poucos) faltam os gestores se lembrarem que consciência negra não é só um dia e sim deve ser uma política de Estado e de Municípios para incluir os jovens, capacitar as mulheres negras, garantir acesso às universidades, melhor assistência aos quilombolas, programas para as quebradeiras de coco, respeito ao povo de santo.

Afinal…alguém se importa com a falta de representatividade em setores importantes?

Consciência negra não é só coisa de preto: é uma pauta que deveria também ser prioritária não só para movimentos específicos mas para o seio social.

Enquanto isso os casos de racismo ainda perpetuam, inclusive os de cunho institucional nestes mesmos órgãos que ainda não se importam com a pauta…ainda faltam delegacias específicas de combate a este mal… Mulheres negras ainda são mau atendidas em unidades de saúde e tantos outros absurdos! A conscientização vai ficando só por conta das escolas e o Estado passa por mais um 20 de novembro com esta pauta invisibilizada organizacional mente falando.

O Tocantins tem dados alarmantes de violência contra as mulheres, de homicídios contra jovens em sua maioria negros…e muita gente achando que Consciência negra é apenas uma data de calendário que sequer precisa ser lembrada. Os jovens negros ainda estão morrendo e o que a sociedade está fazendo para conter isso? Muitos diretos sociais ainda são negados à população Tocantinense!

No Tocantins, não adianta invisibilizar: o problema não é só dos pretos, é de maioria da população deste Estado! Falta igualdade racial virar programa de Estado! Falta parar de achar que nenhum órgão previsa se importar com Igualdade Racial! Ainda falta Tocantins…

Mas sabe o que é indignante? É que subestimam a capacidade do Estado de tratar esta temática com a atenção que merece. O Tocantins tem muitos estudiosos, professores, sociólogos, pessoas capacitadas tecnicamente para contribuírem com todos os órgãos nesta área. Fortaleçam as ouvidorias contra racismo, capacitem os servidores para o tema…promovam consciência humana nas organizações institucionais. Só não finjam que a consciência deve passar em branco!