No ano em que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultural (Unesco) escolheu como tema de reflexão a importância das línguas indígenas, no Tocantins, as escolas estaduais indígenas realizam projetos e iniciativas para manter viva a cultura indígena, principalmente, a língua materna.
A Unesco escolheu 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas, como o tema “Indigenous languages matter for sustainable development, peace building and reconciliation (Línguas indígenas são importantes para o desenvolvimento sustentável, a construção da paz e a reconciliação). O objetivo é contribuir para a conscientização da necessidade urgente de se preservar, revitalizar e promover as línguas indígenas no mundo.
Também, nesta quinta-feira, 21 de fevereiro, comemora-se o Dia Internacional da Língua Materna, data instituída pela Unesco com o objetivo de promover a diversidade linguística e cultural entre as diferentes nações.
O professor Wagner Katamy Krahô Kanela leciona língua materna na Escola Estadual Indígena Wyapri, localizada na aldeia Lankraré, no município de Lagoa da Confusão. Ele contou que os indígenas Krahô Kanela estão desenvolvendo um projeto de revitalização da língua e da sua cultura, desde 2009. O projeto deu tão certo que, a partir dele, foi lançado o livro História e Revitalização da Língua e Cultura Krahô Kanela.
Por meio do projeto, foram realizados intercâmbios entre alunos, professores e as comunidades Krahô-Kanela e os Krahô. Em 2013 o projeto foi aprovado pelo Conselho Indígena e conta com o apoio da Secretaria da Educação, Juventude e Esportes (Seduc).
Durante as ações de intercâmbio foram realizadas oficinas de língua materna Krahô e atividades como cantigas, danças, comidas típicas, pintura e artesanato e foram realizadas ações nas aldeias Lakraré, Nova, Santa Cruz, Manoel Alves e Macaúba.
“Estamos utilizando o livro na sala de aula com os nossos alunos. Este é um trabalho muito importante para nós, povos indígenas, pois temos que lutar para valorizar a nossa cultura, as vestes tradicionais e passar essas informações para as crianças e para os jovens”, contou Wagner Krahô. O professor trabalha com 37 alunos, que cursam o ensino fundamental, ensino médio e Educação de Jovens e Adultos.
Waxiy Maluá Karajá, gerente da Educação Indígena da Seduc, explicou que na Educação Indígena existem disciplinas do estudo da Língua Materna e Saberes indígenas, como forma de garantir que os costumes e tradições sejam repassados para as próximas gerações. Ele disse que se emocionou quando chegou numa escola, durante uma visita, e lá encontrou os alunos estudando o alfabeto na língua materna.
“Tenho visto comentários de que o costume de sentar para ouvir os anciões contarem histórias estão reduzindo por causa da televisão e do celular. Esses anciões tem muito conhecimento e sabedoria para compartilhar. Essa interligação entre as escolas e as aldeias, com a presença dos anciões mostrando a cultura, ajuda as crianças e jovens a manterem a identidade indígena e a preservar peculiaridades que são importantes para a história dos povos indígenas”, esclareceu Waxiy.
A Secretaria da Educação, Juventude e Esportes atende atualmente 5.469 estudantes indígenas em 108 unidades escolares.