Nova lista conta com 1.971 espécies – Fotos: Ciro Albano, Caio Brito e Tati Pongiluppi

Nós, humanos, temos a necessidade de nomear tudo aquilo que observamos. A cada olhar ou sensação, inevitavelmente a nossa mente começa a trabalhar procurando um nome. Isso faz parte da nossa linguagem. Como disse Sócrates, nomear as coisas faz parte do ato de falar.

Não poderia ser diferente no mundo da observação de aves. Quando observamos uma espécie, a primeira coisa que vem à cabeça é o seu nome. Quando não sabemos quem é aquela ave, logo a nossa curiosidade fica aguçada e iniciamos uma investigação para descobrir qual o nome da espécie.

Você já parou para pensar quem organiza todos esses nomes aqui no Brasil?

Existem vários comitês de registros ornitológicos pelo mundo, alguns mundiais e outros nacionais. Aqui no Brasil, um time de ornitólogos faz um trabalho de altíssima qualidade e muito acurado (voluntariamente!) para a organizar a lista de aves brasileiras, através do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO).

O CBRO acabou de lançar a nova Lista de Aves do Brasil, durante uma live no Canal Avistar Brasil transmitida em 23 de julho de 2021. Após muito trabalho entre janeiro de 2016 e maio de 2021, foram apresentadas as alterações feitas na relação de espécies anterior, divulgada em 2015. Essa lista, de extrema importância e amplamente utilizada pela comunidade ornitológica e da observação de aves, é base tanto para a avaliação de espécies ameaçadas quanto para a organização das lifelists (lista de espécies observadas/registradas) dos observadores de aves.

Então, vamos aos números!

Agora a lista brasileira de aves conta com 1.971 espécies (eram 1.919 na de 2015), das quais 293 são endêmicas (ou seja, ocorrem apenas em território brasileiro). Continuamos entre os três países com maior diversidade de aves do mundo! Se considerarmos o número de espécies endêmicas, ficamos atrás de apenas de dois países insulares (Indonésia e Austrália). Foram adicionadas 40 espécies à nova lista (lista primária), das quais cinco foram descritas após a publicação da última edição e as outras 35 são novas ocorrências para o Brasil. Foram incluídas também 35 espécies provenientes de desmembramentos (também chamados de splits), ou seja, quando uma espécie foi dividida em duas ou mais.

Uma das cinco espécies descritas foi o asa-de-sabre-da-mata-seca (Campylopterus calcirupicola), restrito às matas secas com afloramentos de calcário dos estados da Bahia, Minas Gerais, Goiás e Tocantins – Foto: Ciro Albano

Mas o que tudo isso tem a ver com o turismo de observação de aves?

A observação de aves, em muitos casos, acaba se tornando uma coleção. Lembra das fotos que vinham com o chocolate Surpresa ou daqueles atlas de animais? Lembro que eu via aquelas fotos e sonhava com o dia que veria aqueles animais na natureza. Na observação de aves é assim: você vê um guia de campo ou galerias de fotos e logo vem o desejo de ver/registrar (seja através de listas, fotografias ou gravações) aquelas espécies e assim vai se formando a coleção. E são essas listas a base para a organização dos registros!

Além disso, como a natureza e a Ciência são dinâmicas, a lista de aves requer constantes atualizações. E nós achando que estamos perto de completar a coleção… Doce engano! O número de espécies só aumenta a cada atualização. Para quem gosta de viajar e fazer suas coleções de registros de aves é essencial acompanhar a lista e ficar de olho nas subespécies (pode ser que um dia elas se tornem espécies). Assim, quando for viajar para uma determinada localidade, ao invés de focar apenas nas espécies novas para a sua coleção, você também pode focar nas subespécies.

Uma das espécies que foi desmembrada: o aracuã-guarda-faca (Ortalis remota) é restrita ao noroeste paulista e criticamente ameaçada pela lista nacional de fauna ameaçada de extinção – Foto: Ciro Albano

Essa lista extensa só reflete toda a exuberância e diversidade de aves do nosso país, atraindo cada vez mais os olhares dos observadores de aves do exterior e nos mantendo no posto de um dos países mais desejados pelos observadores de aves estrangeiros. Com tanta diversidade e um número altíssimo de aves endêmicas, temos muitas possibilidades de roteiros. Um único viajante, geralmente, voltará muitas vezes ao Brasil para completar a sua coleção. Os observadores de aves brasileiros tem muito com o que se divertir e a oportunidade de conhecer lugares inimagináveis atrás das aves. Eu diria que é uma atividade para a vida toda.

Uma das coisas mais legais é que a maioria dos viajantes compartilha seus registros em diversas plataformas de ciência cidadã como o eBird, o iNaturalist e o WikiAves, resultando em novos registros para o país e contribuindo com a elaboração da Lista de Aves do Brasil.

Já parou para pensar nisso? Que você vai viajar, se divertir, registrar novas espécies e ainda contribuir para o conhecimento científico da nossa avifauna? Para isso, é muito importante que os registros sejam documentados através de fotos ou gravações e compartilhados em alguma plataforma de ciência cidadã. Esses registros são muito importantes para avançarmos em diversos estudos e na conservação das aves brasileiras. Todo registro é importante. Não tem problema se a foto não está linda ou se você já postou uma foto daquela espécie. Registros em locais diferentes, épocas distintas e comportamentos das aves são muito valiosos.

Uma das coisas mais bonitas e revolucionárias da observação de aves é essa integração entre a ciência e a sociedade. As aves são a nossa grande conexão com o mundo. Pegue sua lista, estude e se prepare para viajar e entrar na corrida para alcançar as atualizações constantes da lista do CBRO (só temos a agradecer por tanta dedicação!).

Referência
– Pacheco, J.F.; Silveira, L.F.; Aleixo, A.; Agne, C.E.; Bencke, G.A.; Bravo, G.A; Brito, G.R.R.; Cohn-Haft, M.; Maurício, G.N.; Naka, L.N.; Olmos, F.; Posso, S.; Lees, A.C.; Figueiredo, L.F.A.; Carrano, E.; Guedes, R.C.; Cesari, E.; Franz, I.; Schunck, F. & Piacentini, V.Q. 2021. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee – second edition. Ornithology Research, 29(2).

 

Texto/fonte: Tati Pongiluppi – faunanews.com.br