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A obra O Suplício de Papai Noel de Claude Lévi-Strauss mostra como a figura do bom velhinho pode ser identificada em culturas extremamente diferentes por leituras parecidas, ou seja, as estórias narradas em torno dele estão sempre em torno de um esmo enredo, do velho ancião que presenteia crianças que se mantiveram obedientes durante aquele ano.

Na obra o autor insere a ideia de que o Papai Noel não chega a ser considerado como um ser mítico porque não há um mito que dê conta de sua origem e que sua imagem está mais para uma divindade, pois no período em que comemoramos as festas natalinas é prestado verdadeiro culto por parte das crianças à figura do Papai Noel.

A única diferença entre Papai Noel e uma verdadeira divindade é que os adultos não crêem nele, embora incentivem as crianças a acreditar e mantenham essa crença com inúmeras mistificações.

Claude Lévi-Strauss, em O Suplício de Papai Noel

Neste ensaio Lévi-Strauss também introduz a ideia de que a crença de Noel estaria relacionada ao festival de Saturnália que tinha como objetivo render homenagens ao Rei Saturno no solstício de inverno (na astronomia é a época do ano em que o Sol incide com maior intensidade em um dos dois hemisférios; início do verão ou do inverno).

A crença pagã era celebrada do dia 17 à 25 de Dezembro e por entre os festejos as pessoas “trocavam” de posição social, sendo que, quem se encontrava em situação de escravidão se comportava como homem livre e vice e versa. Durante esse período também era escolhido entre os nobres uma pessoa para que se vestisse com roupas chamativas (destaque para o vermelho) e realizasse brincadeiras durante as festas.

A obra pretende apontar aspectos que assemelham as comemorações dos saturnais ao Natal cristão e mais precisamente a figura do Papai Noel.  Já na primeira parte do texto encontramos o relato publicado em jornal da época de que a igreja havia decretado a execução do Papai Noel em praça pública em 24 de dezembro de 1951.

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Igreja considera o Papai Noel um mito pagão que pretende substituir os valores do Cristo

Papai Noel foi enforcado ontem à tarde nas grades da Catedral de Dijon e queimado publicamente em seu átrio. Essa execução espetacular se realizou na presença de várias centenas de internos de orfanatos. Ela contou com o aval do clero.

Claude Lévi-Strauss, em O Suplício de Papai Noel, pág. 6

Ele escreve também que a igreja não estaria errada quando denunciara a crença no Papai Noel como um dos campos mais ativos do paganismo no homem moderno e indaga “resta saber se o homem moderno não pode também defender seus direitos de ser pagão“.

Mas também explica que nem o Natal e nem o Papai Noel são o resgate da crença pagã saturnista em si, mas que como em tudo que existe ele é a junção de elementos muito antigos e a introdução de outros novos {sincretismo} encontrando assim novas fórmulas de perpetuar, transformar e reviver os usos da velha data.

O autor conclui seu pensamento dizendo que a relação que se dá com o Papai Noel é em primeiro lugar a ideia de que crianças e adolescentes estão (ou pelo menos um dia estiveram) em um estágio de compreensão da vida e/ou maturidade diferente da dos adultos e colocando esses dois pontos ele disserta que essa situação é o objeto de estudo de diversos etnólogos que se dedicam a estudar os ritos de iniciação e passagem dessas “fases da vida” de diversas tradições e que essas se esbarram constantemente nas crenças pagãs “por vezes, tais ritos guardam uma semelhança surpreendente com os ritos que estamos examinando agora”.

Esse texto utilizou o conteúdo e informações dispostas no livro supracitado cujo título original é Le père Noel supplicié, de Claude Lévi -Strauss, publicado pela primeira vez em 1952

 


Texto: Júlia Pereira

Imagem retirada da internet