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Correm tempos de salários baixos e preços altos: conseguir economizar um pouco de dinheiro no fim de mês é quase impossível, mas nem por isso deixamos de tentar. Principalmente no início de um novo ano, quando nos dispomos a mudar de hábitos e definimos metas. Na Espanha, as pessoas economizam apenas 6,5 euros (25 reais) de cada 100 euros (388 reais) que chegam à sua conta bancária (depois de descontados os impostos), segundo dados de outubro do Instituto Nacional de Estatística. É menos da metade do que ia para o cofrinho em 2009. Mas essa é a média: de cada 10 espanhóis, 6 não conseguem economizar nem um só euro.

Os principais erros na hora de economizar

Economizar não é fácil, pois não basta querer. “O principal erro que as pessoas cometem é querer economizar no fim do mês”, afirma Luis Pita, assessor financeiro do Preahorro, engenheiro e autor do livro Ten Peor Coche que Tu Vecino (“tenha um carro pior que seu vizinho”). “Quando recebemos o salário, vamos somando gastos ao longo do mês. E o que sobrar no final, economizaremos. Esse método está condenado ao fracasso, porque, como todos sabemos, no fim do mês o que sobra no nosso bolso é zero.”

O especialista aponta outros dois erros, menos importantes, mas também frequentes. Um deles é deixar nossas economias em uma conta que não rende juros. O outro é gastar naquilo que não necessitamos. “Vivemos em uma economia comportamental e usamos como referência as pessoas que nos rodeiam. Se meu vizinho acabar de comprar um iPhone X, há uma probabilidade muito alta de que eu comece a pensar em comprar um também. Acabamos adaptando nosso nível de gastos ao das pessoas do nosso entorno, em vez de gastar no que realmente nos dá satisfação.”

Um sistema mais simples e eficaz

Conseguir chegar ao dia 30 de cada mês com um saldo positivo exige determinação e organização: é preciso manter um registro rigoroso das despesas familiares. Mas nem todo mundo tem espírito de contador. Para isso são vendidos aplicativos, mas, como ocorre com a maioria desses produtos, acabamos nos cansando logo deles. No entanto, há um sistema que muitos consideram mais simples e eficaz, que vem avalizado por seu sucesso no Japão: kakeibo (pronuncia-se “kakebo”). É de uma simplicidade zen. Trata-se de ir anotando em um caderno, para que possamos visualizar facilmente, quanto dinheiro ganhamos, quanto queremos economizar e quanto gastamos.

É um diário de economia doméstica, equivalente ao diário de calorias no qual a pessoa anota o que come e o que queima. A chave deste sistema é que registramos por escrito as receitas e as despesas, em vez de mantê-las na cabeça. Como descreve Luis Pita, “isso traz visibilidade, pois permite que você perceba que está gastando muito em determinadas coisas e possa fazer algo a respeito”. Não se trata de deixar de lado essas coisas, simplesmente de reduzir o excesso.

A chave é a disciplina

Fumiko Chiba é autor de um desses diários para economizar e explica desta forma seu funcionamento: “No Japão, um típico proprietário de kakeibo se sentaria com seu diário no dia de pagamento e planejaria cuidadosamente quanto dinheiro entrará e em quê o gastará. Com os ganhos do mês reunidos fisicamente diante de si, ele dividiria então o dinheiro em categorias: aluguel, contas, mantimentos, lazer, viagem, poupança, e atribuiria uma quantia para cada item”.

Mas esse e outros métodos não economizam sozinhos; para que funcionem, o interessado tem de ser perseverante. “Eles requerem que a cada dia você revise seus gastos e tome decisões”, esclarece Luis Pita. “Há uma pequena porcentagem da população que é muito disciplinada e faz isso muito bem, mas a maioria não quer dedicar tanto tempo e atenção a isso. É um método muito bom para poder economizar 200 euros (quase 800 reais) ao mês, se você for muito disciplinado.”

O método do envelope

Para os menos disciplinados, existem outros sistemas que podem ser muito úteis, apontados por Luis Pita. Um deles é o método do envelope, que limita as despesas com lazer. Como seu nome indica, trata-se de colocar em um envelope, no início de cada mês, o dinheiro que queremos destinar ao lazer. Nós o usamos até que acabe, “de modo que, a partir daí, será preciso recorrer ao lazer de custo zero”, diz Pita. “É uma forma de fazer um orçamento sem ter efetivamente de fazê-lo.”

Outro método é o dia das contas. Consiste em dedicar um dia por ano para revisar todas as contas. “Ataque os gastos fixos: as mensalidades da academia, assinaturas de revistas, contas de luz… Os objetivos são eliminar e reduzir. Por exemplo, pode ser que anos atrás nos interessasse o arco e flecha e tenhamos assinado uma revista sobre isso. Agora essa febre passou, mas, por preguiça, mantemos a assinatura. É hora de eliminá-la. Com contas de luz ou gás, dedico esse dia a pensar em como posso reduzir esses gastos.”

No fim, tudo se reduz a uma regra comum: “As pessoas que economizam de verdade — e não me refiro a economizar 20 euros [78 reais] no fim do mês, mas 15% ou 20% do salário — sempre fazem isso da mesma forma: no início de mês e de modo automático”, diz o especialista. “Assim como destinamos no início do mês uma quantia para a hipoteca, é preciso destinar outra para poupar.” Se nada disso funcionar, sempre podemos seguir os conselhos do prêmio Nobel de economia de 2017, Richard Thaler, para não gastar de forma irracional.

Por Miguel Ángel Bargueño

Fonte: El País