Jovem morreu neste domingo, 28, data em que se celebra o Orgulho LGBT

Orgulho LGBTQIA+! Ontem a comunidade celebrou um dos marcos mais importantes e  históricos na luta contra a igualdade ao redor do mundo.

A Revolta de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT há mais de 50 anos,  contra uma invasão policiais da cidade de  Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, no bairro de Greenwich Village, em Manhattan (EUA).

Segundo a história, esses motins são amplamente considerados como o evento mais importante que levou ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos direitos LGBTs no país e foi encabeçado por Marsha P Johnson, mulher preta e transexual.

Nesta segunda-feira, 29,  seria uma dia muito importante para o advogado transexual Igor Lima Potencio, um tocantinense como qualquer outro. Ele tomaria posse hoje como Dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-TO) e iniciaria um marco histórico no Tocantins. O 1º Dirigente da Transexual. Igor Lima infelizmente não resistiu  a sociedade e tentou contra a própria vida neste domingo, 28.

Igor tomaria posse hoje  como Dirigente da OAB Tocantins

O caso do Igor serve para que a sociedade fique em alerta. Apesar das várias conquistas ao longo dos anos, LGBTQIA+ seguem suas vidas normalmente. Mas por trás de muitos sorrisos, se escondem episódios de violência física e psicológica e vários traumas. Igor completaria nesta terça-feira, 30,  25 anos de idade, mas sucumbiu ao sistema depois te tanto lutar.

Segundo informações, o pai do jovem não aceitava sua identidade de gênero, e por isso, ele teria  tentado contra a própria vida com uma arma do familiar.

Culpados? Ainda não sabemos,  não somos donos da verdade e proferir julgamentos em torno desta morte em especifico é algo que não nos cabe. Cada uma trava suas próprias lutas e sabe o que está passando. Transexuais são invisibilizadas todo o tempo. Essas pessoas  praticamente não existem perante a sociedade e estão na base da pirâmide, às margens de todas as vulnerabilidades sociais econômicas.

Nós enquanto seres humanos devemos repensar em que estamos contribuindo com essas pessoas, para que casos como o de vários Igors, Dandaras, Matheusas , não se tornem rotineiros em nossas vidas.  Para as pessoas trans é negado emprego, saúde.

Igor se foi e deixou um legado muito importante para todos nós. O de LUTA. Ele foi sim, vítima da sociedade e da transfobia escancarada que cerceia nosso país. Novamente eu pergunto: Culpados? Todos nós!

Identidade de gênero

Igor estava em fase de transição e compartilhava nas redes sociais sobre todo o seu processo. Em um dos seus posts mais recentes, o jovem fez um desabafo.

“Oii, meu nome é Igor, sou um homem trans (transgênero) e estou no início do início da minha transição (começando pela parte social).  Pra quem não tem ideia do que eu estou falando (identidade de gênero), vou dar uma breve explicação, de forma extremamente resumida, porque transgênero é um termo bem abrangente e inclui diferentes tipos de pessoas com diversas variantes de gênero. Pois bem, o homem transgênero é uma pessoa que teve o gênero feminino atribuído ao nascer, mas que assume uma identidade de gênero masculina ao longo da vida. Esse processo de adequar seu corpo à forma com a qual se reconhece é chamado de transição (por isso transgênero=transição de um gênero para o outro).  Aproveitando a oportunidade, nunca é demais esclarecer que identidade de gênero não está obrigatoriamente relacionada com a orientação sexual. Ou seja, um homem transgênero (mulher que se identifica com o gênero masculino), pode ser homossexual (caso sinta atração por homens) ou heterossexual (caso sinta atração por mulheres), entre outros tipos de orientação sexual.  Bem, isso é tudo pessoal. Um abraço pra todos e não vejo a hora de acabar essa quarentena e poder começar o tratamento hormonal com testosterona e realizar a mastectomia. Tchau, brigado.”

Associação Nacional de Travestis e Transexuais

A violência contra pessoas LGBTQIA+ reflete em nossa sociedade todos os dias. São mortes de várias formas e que precisam parar neste exato momento.

Um levantamento da Associação de Travestis e Transexuais, entidade importante que luta pela igualdade das pessoas Trans, mostram que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTs, principalmente travestis e transexuais.

Conforme os dados da Antra, os assassinatos de pessoas trans aumentaram 39%, ou seja, já  são 89 assassinatos entre 1º de janeiro de 25 de junho de 2020.

Grupo Gay da Bahia

Relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia informa que 329 LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia, em 2019. Foram 297 homicídios e 32 suicídios. Isso equivale a 1 morte a cada 26 horas. O grupo indica uma redução de 26%, se comparado com o ano anterior. Em 2017 foram 445 mortes e em 2018, 420.

Criminalização da LGBTfobia

Após seis sessões de julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu no dia 13/8/2019 criminalizar a LGBTfobia como forma de racismo. Ao finalizar o julgamento da questão, a Corte declarou a omissão do Congresso em aprovar a matéria e determinou que casos de agressões contra o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis) sejam enquadrados como o crime de racismo até que uma norma específica seja aprovada pelo Congresso Nacional.

Por 8 votos a 3, os ministros entenderam que o Congresso não pode deixar de tomar as medidas legislativas que foram determinadas pela Constituição para combater atos de discriminação. A maioria também afirmou que a Corte não está legislando, mas apenas determinando o cumprimento da Constituição.

Pela tese definida no julgamento, a homofobia também poderá ser utilizada como qualificadora de motivo torpe no caso de homicídios dolosos ocorridos contra homossexuais.

Religiosos e fiéis não poderão ser punidos por racismo ao externarem suas convicções doutrinárias sobre orientação sexual desde que suas manifestações não configurem discurso discriminatório.

Ordem dos Advogados do Brasil no Tocantins

A OAB emitiu uma nota lamentando a morte de Igor.

É com profunda tristeza que a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Tocantins informa o falecimento do advogado Igor Lima Potêncio.

A OAB Tocantins, representando a advocacia estadual, manifesta publicamente a consternação e a grande tristeza de toda a classe nesse momento de saudade, rogando a Deus para que conforte o coração de familiares e amigos.

Gedeon Pitaluga Júnior
Presidente da OAB/TO

Lucas Eurilio – Gazeta do Cerrado