Marco Aurélio Jacob – Gazeta do Cerrado
Uma série de ações estão em andamento para preservar a qualidade do abastecimento de água de Palmas, TO.
O uso, tanto de agrotóxico, como de fertilizantes contamina todo o sistema hídrico brasileiro. Assim como o gás metano emitido pela criação bovina contamina os ares.
Taquaruçu é um exemplo na luta entre a ganância pelo lucro desenfreado através do cultivo da soja e sua infeliz prática (recorde mundial) em uso de agrotóxico (mercadologicamente apelidado defensivo agrícola) de contaminação da água que todos bebem (neste caso, os moradores de Palmas, TO, mas nas regiões com práticas agrícolas que usam veneno nas plantações a contaminação também ocorre), tanto por estarem próximos a rios e nascentes como pela infiltração permanente da água nos lençóis freáticos e aquíferos.
Já foi iniciada a batalha jurídica (contra os alguns figurões do agronegócio e da especulação imobiliária) e agora é preciso o apoio popular para que a justiça seja feita e a contaminação e a destruição dos corregos e nascentes interrompida o mais rápido possível. E as alternativas de renda em áreas de preservação possam ser colocadas em prática, mesmo que seja por ordem da justiça.
CULTURAS LUCRATIVAS E NÃO POLUENTES
São tantas opções: Castanheiras do Pará e Baru, seringueiras, plantas medicinais e fitoterápicos, apicultura, fruticultura orgânica, ecoturismo, placas solares, silagem, granja… enfim, respeitando o potencial e as características de solo e microclima de cada região, as alternativas se multiplicam em centenas de opções de renda para áreas de preservação ou não, pois nada impede que um agricultor normal em uma terra que mesmo não sendo área de preservação, possa optar por uma cultura e um mercado cada vez mais crescente que é o consumo conaciente, que valorizam e buscam por opções na hora de tomar as decisões de compra. Outra opção já encontrada mundo afora, é “vender” ou “alugar” as áreas preservadas, inclusive com a venda do crédito de carbono.
ARTICULAÇÕES CONTRA A CONTAMINAÇÃO
É a grande luta do bem contra o mal. Da preservação contra a destruição.
A ONG EcoTerra, o jornal Gazeta do Cerrado, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Associação Água Doce, o Circo Social Os Kaco, a Casa das Artes de Taquaruçu, entre outras instituições se uniram na luta pela preservação da Bacia Hidrográfica responsável pelo abastecimento de Palmas, o Ribeirão Taquaruçu.
Além das ações entre a cobrança nos conselhos do entorno do lago, com audiências públicas, parcerias com veículos de imprensa, manifestações como esta, durante a palhaceata do Festival de Circo de Taquaruçu.
DOCUMENTÁRIO “ÁGUA NOSSA”
E este pré lançamento do documentário “Água Nossa” realizado em parceria entre o jornal Gazeta do Cerrado e a ONG EcoTerra, com imagens do prof. Fernando Amazônia e direção de Marco Aurélio Jacob, que denuncia tanto a contaminação pelo agrotóxico como o crescimento desordenado pela especulação imobiliária com construções irregulares próximas demais do Ribeirão Taquaruçu provocando seu assoreamento e futura condenação e secamento. E a participação destas instituições no 8° Fórum Mundial da Água e no Fórum Mundial Alternativo da Água FAMA assim como os protestos e as reclamações pela restrição de acesso ao 8° FMA.
O tarde demais está chegando e ações ou intenções absurdas como tentar transpor o Rio Tocantins para salvar o Rio São Francisco já estão em debate até no Congresso Nacional e demonstram o desespero e a total falta de preocupação e preservação do Rio São Francisco, que está neste ponto do tarde demais.
Segundo especialistas, como o Engenheiro e Professor da Universidade Federal do Tocantins Fernan Vergara:
“Transpor o Rio Tocantins além de muito caro causará mais impacto que solução, além do que ele já está sofrendo pelo desmatamento e está em uma situação delicada. Mas em ambos os casos é possível adotar una série de medidas que irão ajudar a recompor e recuperar estes rios”
Explicou o professor durante uma audiência pública realizada na OAB de Tocantins, pelo Senado Federal, para ouvir técnicos e a comunidade sobre a transposição.
QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS
Algumas medidas como reflorestar as matas ciliares, do entorno do Rio, impedir o acesso de animais nas margens dos rios, respeitar a piracema, não contaminar os rios com agrotóxico, pois ele mata o que mantém o Rio vivo com seus nutrientes e altera a composição e o PH da água, assim como seu nivel de oxigênio, destruindo tanto o estoque pesqueiro como as plantas aquaticas que alimentas os peixes, além de inviabilizar a água para o consumo dos animais e até para os seres humanos.
É um problema sério que os agricultores simplesmente ignoram, ou por falta de conhecimento, ou por respeitarem a sociedade a qual estão inseridos. Infelizmente esta e outras práticas exploratória olham para os recursos naturais como fonte interminável de riqueza, só que não, pois além de ser finito, interfere no todo com as alterações climáticas e pode ser contaminado, espalhando o veneno até nos próprios filhos, irmãos, vizinhos e moradores da região que aplicaram o veneno. Para que tanto veneno?
VALE A PENA CONSUMIR FRUTAS E VERDURAS?
Tem gente que fica em dúvida se comer frutas e verduras faz bem ou mal para a saúde, já que o Brasil é o campeão mundial em uso de agrotóxico e usa em média quatro vezes mais veneno que o resto do mundo. Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), 70% dos alimentos in natura consumidos no Brasil estão contaminados por agrotóxicos. Destes, segundo a Anvisa, 28% contêm substâncias não autorizadas. Esta é a consciência do setor que diz que sustenta o Brasil.
Segundo o Prof. Jackson Barbosa da Universidade Federal do Mato Grosso:
“Nas pesquisas que realizamos até mesmo o leite materno está contaminado com agrotóxico!.”
Demonstra o professor durante a audiência pública realizada na Câmara Municipal de Palmas sobre a poluição das bacias do Ribeirão Taquaruçu. Ele ainda apontou dados preocupantes sobre o agronegócio:
“70% da água potável do Brasil é utilizada para o agronegócio. A soja é o cultivo que mais usa água e é praticamente toda para exportação”.
OS ALIMENTOS MAIS CONTAMINADOS PELOS AGROTÓXICOS
Em 2010, o mercado brasileiro de agrotóxicos movimentou 7,3 bilhões de dólares e representou 19% do mercado global. Soja, milho, algodão e cana-de-açúcar representam 80% do total de vendas nesse setor.
Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), essa é a lista da agricultura que mais consome agrotóxicos:
Soja (40%)
Milho (15%)
Cana-de-açúcar e algodão (10% cada)
Cítricos (7%)
Café, trigo e arroz (3 cada%)
Feijão (2%)
Batata (1%)
Tomate (1%)
Maçã (0,5%)
Banana (0,2%)
MERCADO IRRISÓRIO DA AGRICULTURA BRASILEIRA
As demais culturas consumiram 3,3% do total de 852,8 milhões de litros de agrotóxicos pulverizados nas lavouras brasileiras em 2011.
Segundo dados do próprio IBGE e do Sebrae 2017, o agronegócio representa apenas 3,4% do nosso Produto Interno Bruto, mas a destruição que ele causa é muita, além de utilizar 70% da água potável disponível do Brasil. É como um carro beberrão que chama muito a atenção. É bonito de ver, mas consome muito e só beneficia o próprio dono, o resto respira e se contamina com a poluição extra do escapamento de um carro com alto consumo ou aquele velho cachorro que late e não morde.
A última crise foi dos combustíveis, a grande preocupação é se a próxima crise for da água.
Participe você também.
@ Taquarussu / Taquaruçu