A preocupação com a Floresta Amazônica é tão grande que muitas vezes nos esquecemos do bioma Cerrado, que luta pela sua valorização e resistência as chamas, além da própria Amazônia.

Por Marco Aurélio Jacob

Além da Amazônia, as consequências das queimadas no Cerrado brasileiro

Preocupada com as questões relacionadas com os incêndios e queimadas que assolam neste momento toda a região centro oeste, norte e nordeste brasileira, a Gazeta do Cerrado prepara uma série de reportagens que trará conceitos, números e consequências de toda a pratica sem critério de queimadas que o Brasil está exposto.

Uma das principais preocupações da atualidade, relacionadas com a interdependência e inter-relação entre os biomas e que um depende do outro. Por isso mesmo a preocupação, pois o Cerrado não tem a mesma proteção que a Amazônia, mas se acabar o Cerrado, acaba a Amazônia. E pior: Se acabar o Cerrado, acaba a chuva da América Latina.

Foto Fernando Tatagiba/ICMBio

O contato com o Greenpeace Brasil, nos passou o nome da Ecóloga (especialista em natureza, organismos e suas interações e relações) Isabel Figueiredo, que é Coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, organização que trabalha no Cerrado ha 29 anos.

As consequências das queimadas no Cerrado brasileiro

A floresta amazônica tem chamado muita atenção dentro e fora do país com as queimadas desenfreadas registradas nas ultimas semanas. A preocupação com este que é o território que é considerado o pulmão verde do mundo já não concebe o viés ideológico apenas, é uma questão que está sendo tratada como crise ambiental global.

Até por isso que tantos países e líderes de diversas partes do mundo demonstraram além da preocupação, intenção de romper importantes relações comerciais e se o Brasil não arregaçar as mangas e combater com todas as forças às queimadas criminosas que assolam o país.

“De fato a sociedade se preocupa menos com as queimadas no cerrado, pois o cerrado evoluiu com o fogo”, alega pesquisadora, especialista em cerrado, a ecóloga, Isabel Figueiredo:

FOGO NATURAL

Ela explica que o fogo natural é provocado por relâmpagos, e o regime natural seria a cada sete anos ou mais. Este ocorre no início da estação chuvosa e não atinge grandes extensões, pois é geralmente apagado pela chuva.

Foto Fernando Tatagiba/ICMBio

FOGO CRIMINOSO

O que é diferente do fogo antrópico utilizado para “limpar uma área” e que pode escapar da área desejada e se tornar um incêndio florestal de grandes proporções.

As queimadas provocadas pelo homem possuem maior frequência que queimadas naturais, podendo ocorrer todos os anos na mesma área, além disso, ocorrem no final da estação seca, período em que o fogo se torna extremamente prejudicial para a vegetação nativa, pois afeta floração e frutificação

FOGO DAS PRATICAS TRADICIONAIS

As praticas tradicionais de uso do fogo devem ser consideradas e respeitadas, no entanto, elas também devem ser adaptadas ao contexto atual, de grande proximidade entre as propriedades e às enormes consequências de uma eventual falta de controle do fogo. Há enorme acúmulo de conhecimento acerca do manejo correto do fogo por comunidades tradicionais e indígenas para a limpeza da roça de toco e até mesmo para a prevenção de incêndios.

Foto Fernando Tatagiba/ICMBio

O CERRADO

A Isabel explica que “O Cerrado é um bioma composto por múltiplos tipos de vegetações, como campos tipo savanas e florestas. Alguns destes tipos de vegetação, tais como as matas ciliares, são tão sensíveis ao fogo como a floresta amazônica. E o grande risco está na perda das vegetações que protegem as águas como a mata ciliar.”

FOGO EM ÁREAS URBANAS

E na área urbana, o recomendado é não queimar as folhas nem os galhos que caem, e sim varrê-las para próximos das árvores para servirem como adubo, pois os galhos e folhas são muito importantes para devolver os nutrientes ao solo.

INTERDEPENDÊNCIA – A AMAZÔNIA PRECISA DO CERRADO

Todos os biomas são interdependentes, a Amazônia a e o Cerrado inclusive. Existem fluxos de nutrientes, umidade e biodiversidade entre eles.

“Se acabar o Cerrado, acaba a Amazônia junto. O fluxo de chuva, que abastece as chuvas do sudeste até a Argentina, passa pelo Cerrado, se o Cerrado estiver degradado essa umidade pode não conseguir chegar ao Sudeste por exemplo, região mais populosa do país. Além disso, sem as chuvas  que vem da Amazônia e abastecem os rios do Cerrado, a geração de energia elétrica do Nordeste e do Sudeste fica comprometida”

COMO REDUZIR AS QUEIMADAS?

Segundo a ecóloga, o governo federal vem adotando uma política do Manejo Integrado do Fogo (MIF) em diversas unidades de conservação e terras indígenas, onde utiliza o fogo controlado como recurso para reduzir o volume do material de combustão e os riscos dos grandes incêndios florestais. Estas queimadas prescritas, se praticadas nos meses do inicio do período da seca, entre os meses de abril e maio, pode reduzir a intensidade de um fogo maior no período de julho até outubro, auge da seca. Além disso, cria-se uma diversidade de áreas queimadas e não queimadas na paisagem, evitando o alastramento de um eventual incêndio. O MIF pode ser usado também para  proteger construções, plantações, pastagens, animais, cidades e tipos de vegetação nativa mais sensíveis.

Foto Fernando Tatagiba/ICMBio

TEMOS QUE FALAR SOBRE O FOGO

O fogo é um tabu. Mas ele não deve ser visto cegamente como algo ruim. Ele pode ser usado, por meio do   manejo integrado do fogo, com uso racional, para evitar desastres maiores como o ocorrido em 2017 na Chapada dos Veadeiros.

“Temos que falar sobre o fogo. Pois apesar de ele ser visto como algo extremamente ruim e ser coibido, se ele for aplicado corretamente, ele evita danos maiores.”

Em todos os casos do uso do fogo, ele deve seguir critérios e cuidados. De acordo com a legislação, é necessário ter uma autorização legal dos órgãos de fiscalização ambiental estadual ou federal.

CONSCIENTIZAÇÃO OU PUNIÇÃO?

“Conscientização sempre, pois é difícil descobrir quem iniciou uma queimada e punir”, defende a ecóloga. ”O que falta em nossa sociedade é educação ambiental e a conscientização através da informação.”

Dentro das zonas urbanas é importante que haja ampla conscientização ambiental aplicada deste pequeno nas escolas e campanhas para os mais velhos.

ONGs E O PRESIDENTE

Questionada sobre as afirmações do Presidente Bolsonaro, que tentou culpar as Ongs sobre as queimadas, Isabel demonstra preocupação: “O papel das ONGs no Brasil é atuar nas lacunas que o governo não dá conta. O número de ONGs socioambientais brasileiras e com credibilidade internacional é enorme! Ficamos muito tristes e desapontados em saber que a visão do Governo Federal é essa. E vamos seguir com transparência, com participação da sociedade e com o nosso trabalho que sempre fizemos.” Conclui a pesquisadora Isabel Figueiredo, que é Coordenadora do Programa Cerrado e Catinga do Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, organização que trabalha no Cerrado à 29 anos.  

A preocupação com o meio ambiente, ou todo o ambiente, do ponto de vista da integração dos seres humanos como parte da natureza, não deve mais ser vista como um fator externo às preocupações cotidianas, e sim ter o mesmo concernimento que as contas de água e luz exigem ou mesmo saber se o local que irei transitar é seguro para ir a pé ou deixar uma criança brincar na rua.

A janela da invisibilidade deve ser aberta aos raios da informação e mais que isso, da compreensão das consequências que todos estes atos, não só das queimadas, mas no sentido mais amplo a qual o fator ser social que nos capacita como indivíduos, que justamente nos trás uma série de responsabilidades civis e ordenamentos públicos que o estado de direito nos molda e nos faz cúmplices da falta de ação, omissão ou mesmo de procurar alternativas para soluções antigas e decadentes.

Decoro, postura, educação, responsabilidade e tudo aquilo que pode e deve ser emanado em todas as direções, sem importar credo, idade e ocupação. Devemos dar as mãos e tocar o planeta e tentar sentir sua dor como juntamos um filho ao cair, e ajudar ela a levantar e se livrar dos inconsequentes que brincam com fogo, jogam lixo e espalham horrores pela humanidade e pelo ambiente por inteiro.

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