Em meio a tantas dietas regradas, um respiro menos programado tem sido comentado por nutricionistas e especialistas da área. Comer intuitivamente é o novo modelo de alimentação voltado para o bem-estar, que propõe que as pessoas ouçam o próprio corpo antes de dividir as refeições de três em três horas. A estratégia vale também para atender as vontades do paladar. Enquanto muitos apontam que a prática é saudável para a mente, vale a pena questionar se conseguimos mesmo adquirir saúde seguindo a própria intuição.
Caso você nunca tenha escutado sobre alimentação intuitiva, o método nasceu nos anos 1990 e conta com 10 conceitos principais. As terapeutas nutricionais Evelyn Tribole e Elyse Resch se dedicaram a desenvolver um tipo de dieta que livra as pessoas de planos alimentares fixos, o qual é descrito no livro “Intuitive Eating, 2nd Edition: A Revolutionary Program That Works”, em português, “Alimentação intuitiva, segunda edição: um programa revolucionário que funciona”.
Os princípios base para aderir ao programa são: rejeitar mentalmente dietas prontas, honrar a própria fome, fazer as pazes com a comida, desafiar políticas alimentares, respeitar a saciedade, descobrir de fato a satisfação, respeitar os sentimentos sem descontar na comida, respeitar o corpo, fazer exercíos físicos e cuidar a saúde por meio de uma boa nutrição. Todas essas regras focam em um só objetivo: a percepção corporal e os motivos que nos levam a comer.
Por oferecer uma liberdade pouco comum entre as dietas tradicionais, muitos acreditam que a técnica seja uma desculpa para dar ouvidos às tentações de pratos pouco nutritivos, sempre que possível. Mas, na verdade, deixar o corpo decidir quando você precisa comer tem mais a ver com conhecer a própria fome e utilizar a comida como simples e puro combustível para sobreviver, não por prazer.
A ideia de estudar mais a fundo sobre alimentação intuitiva veio do fato de que as estratégias de perda de peso que flutuam entre as tendências de emagrecimento ou ganho de massa não costumam ser sustentáveis. É aí que entra o efeito sanfona e os sentimentos de frustração entre as pessoas. Um estudo conduzido pelo Laboratório de Alimentação de Saúde da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, aponta que dietas com períodos determinados são grandes falhas, antes mesmo que a pessoa as inicie, o que vai muito além do autocontrole.
A coordenadora da pesquisa e professora de psicologia, Traci Mann, explicou ao site do The Washington Post que mudanças corporais (além das físicas) acontecem ao final de uma dieta. Neurologicamente, a pessoa se torna mais alerta sobre a comida, de forma que o cérebro fica mais responsivo aos alimentos, especialmente aqueles que dão prazer. Por isso, as tentações são muito mais fortes e incisivas em períodos de restrição.
Além disso, quando perdemos gordura, as quantidades hormonais que colaboram para a percepção da saciedade também diminuem, enquanto a fome aumenta, de acordo com a pesquisadora. Biologicamente falando, o metabolismo também sofre alterações e pode ficar mais lento, porque o corpo tende a utilizar as calorias consumidas de forma mais sábia, economizando energia. Notícia ruim para os tempos de fartura de fácil alcance, que vivemos hoje em dia.
Por isso, escutar o corpo se torna prioridade entre os adeptos da alimentação intuitiva. Contudo, fazer escolhas de acordo com suas vontades nem sempre leva ao emagrecimento, uma vez que cada corpo responde de forma diferente à dieta.
A nutricionista da Fundação do Conselho Alimentar Internacional, Alyssa Pikes, contou ao site Refinery29, que pode ser que a pessoa ganhe peso. “Se uma pessoa esteve se restringindo por um tempo, é possível que ela veja variações ou ganho de peso, quando ela se torna mais sintonizada as suas necessidades”. Então, se você é do tipo da pessoa que já perdeu a conta do número de dietas que experimentou, é melhor ir com calma e mudar seus hábitos restritivos devagar.
Além de ensinar os indivíduos a conhecer o próprio organismo, uma outra vantagem da dieta intuitiva é que o efeito sanfona tende a desaparecer, uma vez que a pessoa deve adotá-la como estilo de vida. Mais importante do que isso, é o convite para fazer as pazes com a comida, uma vez que somos, em grande parte dos casos, doutrinados a sempre buscar “estar em forma”. Sendo assim, esse tipo de alimentação ganha adeptos que, geralmente, estão cansados de tentar low carb e cetogênicas.
Parece fácil
Longe de desculpas sobre biotipos que são favorecidos pelo emagrecimento, comer intuitivamente é um conceito universal. Mas há uma série de desafios para antigir a devida consciência corporal.
Comer saudável é primordial em qualquer tipo de alimentação, de forma que os alimentos nutritivos necessitam ser priorizados. E ter “vontades” que fazem bem a saúde pode ser difícil se o seu paladar é acostumado a comidas gordurosas ou açucaradas. A proposta da dieta em questão é que a pessoa não fique pensando em comida o tempo todo, mas que ela sinta fome e a sacie na medida certa. Além disso, matar as vontades repentinas é importante, desde que elas não apareçam em todas as refeições, afinal, um dos princípios que precisa ser lembrado é cuidar a saúde por meio da boa nutrição.
Um lado emocional
Comer o que quiser pode ser o fim daquele sentimento de culpa que bate quando “furamos” um plano alimentar. Quando você sabe que pode escolher suas refeições, é provável que não fique salivando todas as vezes que escutar a palavra sobremesa.
Ainda assim, comida é conforto para alma e é muito comum que as pessoas a vejam como forma de consolo, após um dia difícil. O livro de Tribole e Resch explica que a linha entre a satisfação emocional e a culpa é bem tênue. Por isso, a pessoa adepta à alimentação intuitiva deve tentar, ao máximo, separar pratos prazerosos de suas emoções, para que a saúde seja adquirida de forma completa. “Estamos olhando a saúde total aqui, não apenas o que você come, mas a saúde emocional”, adverte.
Isso parte do pressuposto que o bom estado mental leva ao bem-estar físico. Saber que você pode comer aquele docinho depois do almoço pode te ajudar a se sentir melhor e atingir o equilíbrio. “Quando você é ensinado a evitar certos alimentos, só intensifica as vontades pela comida”, afirma a especialista em seu livro. É, portanto, importante que as pessoas parem de observar as comidas menos nutritivas como “porcarias” e deixem de adicionar significados saudáveis ou não a elas.
Fonte: Casa e Jardim