Após contratação do goleiro Bruno, Movimento alerta para violência estrutural e cobra compromisso político pela vida das mulheres

O movimento Levante Feminista tocantinense  publicou nota de repúdio pela forma como aconteceu e foi divulgada a contratação do goleiro Bruno pelo Araguacema Futebol Clube. Ele foi condenado por feminicídio.

O que move este manifesto é o compromisso político pela vida das mulheres. Causa-nos indignação a forma como o goleiro foi apresentado, com pompa e circunstância, em desrespeito às lutas históricas contra a violência de gênero”, diz a nota.

O Movimento considera ainda: “Receber e saudar a chegada de um feminicida contribui para reforçar a violência estrutural e simbólica contra as mulheres, na medida em que minimiza a gravidade social de um dos assassinatos mais bárbaros dos anos 2000. Nosso Levante não é contra a reinserção do goleiro Bruno no mercado de trabalho, mas contra a celebração que invisibiliza a matança de mulheres, colocando-o na condição de ídolo a ser admirado por meninos, jovens e adultos”, diz a nota.

Veja a íntegra da nota:

*NOTA POLÍTICA DO LEVANTE FEMINISTA TOCANTINENSE PELA VIDA, MEMÓRIA E DIGNIDADE DAS MULHERES*

Palmas – TO, 01 de abril de 2021.

O Levante Feminista Contra o Feminicídio no Tocantins recebeu com preocupação a notícia de que o goleiro Bruno Fernandes, condenado pelo assassinato de Eliza Samudio, é o novo reforço do Araguacema Futebol Clube.

Coincidentemente na noite anterior ao comunicado nas redes sociais do Clube, 30/03, foi lançado em Palmas o Levante Feminista, campanha nacional e contínua de enfrentamento à escalada do feminicídio no Brasil.

Bruno foi condenado há 20 anos e 9 meses pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho, em 2010.

Condenado, ficou preso de 2010 a 2017.

Eliza desapareceu em 2010 e seu corpo nunca foi achado. Ela tinha 25 anos, era mãe do filho recém-nascido do goleiro Bruno. Na época, o jogador era titular do Flamengo e não reconhecia a paternidade.

O que move este manifesto é o compromisso político pela vida das mulheres. Causa-nos indignação a forma como o goleiro foi apresentado, com pompa e circunstância, em desrespeito às lutas históricas contra a violência de gênero.

Receber e saudar a chegada de um feminicida contribui para reforçar a violência estrutural e simbólica contra as mulheres, na medida em que minimiza a gravidade social de um dos assassinatos mais bárbaros dos anos 2000.

Nosso Levante não é contra a reinserção do goleiro Bruno no mercado de trabalho, mas contra a celebração que invisibiliza a matança de mulheres, colocando-o na condição de ídolo a ser admirado por meninos, jovens e adultos.

O repúdio é ainda maior quando declarações dadas à imprensa tentam justificar a contratação como “uma ação social de resgatar a integridade do jogador Bruno”.

Se realmente estiverem, investidores e Clube, interessados em promover uma ação social relevante, sugerimos que assumam publicamente o compromisso com a pauta do enfrentamento ao machismo, a violência contra as mulheres e o feminicídio.

Espera-se dos times de futebol, e não apenas do Araguacema Futebol Clube, o mínimo de compromisso ético com a vida das mulheres, mediante a contínua campanha de conscientização de seus jogadores e torcedores, contra o patriarcado e todas as formas de objetificação e violência contra as mulheres.

Que o Araguacema Futebol Clube e a investidora Datamarkets: (1) promovam rodas de diálogos na região com homens sobre a violência contra as mulheres e meninas; (2) garantam, no mínimo, 10% das suas vagas para pessoas egressas do sistema prisional e socioeducativo; (3) utilizem as redes sociais semanalmente para abordar as consequências do machismo, (4) façam a doação de bens e valores para organizações do Estado do Tocantins que atendem e acolhem mulheres em situação de violência.

Este manifesto tem como foco a forma como se deu a contratação e a divulgação, mas não se coaduna com o punitivismo e o encarceramento em massa. A superlotação e o estado de desumanização do sistema prisional nos mobilizam em outras frentes, sobretudo por atingir, principalmente, corpos negros e empobrecidos.

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COLETIVA LEVANTE FEMINISTA TOCANTINENSE