Escavar a Itália é sempre uma surpresa, tanto que grandes obras, como a construção do Metrô de Roma, conta contam com equipes de arqueólogos que vasculham tudo em busca de fragmentos históricos.

Não foi diferente em Gavello, a cerca de 40 quilômetros de Veneza. Durante os trabalhos que visa a instalação de um oleoduto, os pesquisadores encontraram os restos de um esqueleto.

O achado, em 2007, não gerou muito alvoroço. Pelo menos até o mês de abril deste ano, quando foi publicado os resultados do estudo na revista Archaeological and Anthropological Sciences.

Fraturas não curadas em um osso do calcanhar indicam que aquele homem pode ter sido morto com um grande prego encravado em seus pés, provavelmente em uma cruz de madeira.

Os autores do estudo, pesquisadores das universidades de Ferrara e Florença, na Itália, não garantira que aquele homem tenha sido realmente crucificado, já que os ossos estão em má condições, com um osso do outro calcanhar faltando, e sem indícios de que tenha sido pregados nos pulsos, o que teria sido natural na cerimônia.

Entretanto a descoberta é importante pela raridade. Quase não existem sinais arqueológicos da cerimônia que virou símbolo do cristianismo, apesar de ser frequentemente descrita em documentos históricos do Império Romano, como quando soldados executaram seis mil escravos capturados após a revolta liderada pelo gladiador Spartacus no século I a. C.

A única outra vez em que os restos mortais de uma vítima da crucificação foram encontrados foi em 1968, durante uma escavação de túmulos da era romana em Jerusalém. O arqueólogo grego Vassilios Tzaferis encontro um prego de 18 centímetros de comprimento preso a um pedaço de madeira de oliveira que havia sido parte de uma cruz onde um homem foi pendurado para morrer.

Dessa vez, o achado não foi em um túmulo, mas enterrado diretamente no chão, sem nenhum tipo de material funerário. Exames genéticos e biológicos concluíram se tratar de um homem de estatura baixa e magro, com idade entre 30 e 34 anos quando morreu.

Ao que tudo indica, se trata de um escravo subnutrido que foi executado, o que explicaria a ausência de qualquer tipo de ritual fúnebre. Segundo diz estudo, os romanos aprenderam sobre a crucificação com os cartagineses e usaram como uma forma de punição capital por quase mil anos, até que o imperador Constantino a baniu no quarto século d. C.

O objetivo principal da cruz era causar o máximo de dor possível por um longo período de tempo. Assim, as vítimas eram pregadas pelos pulsos e pés, e abandonadas para morrer lentamente, o que podia levar vários dias. Muitos eram abandonados para apodrecer ou ser devorados por animais após a morte, enquanto outros eram enterrados.

Já o homem de Galvello, pode ter tido um alívio. Uma das autoras do estudo, a antropóloga médica Emanuela Gualdi, da Universidade de Ferrara, disse ao Live Science que os braços podem ter sido amarrados à cruz, o que também era comum, e justificaria a ausência de lesões nos pulsos.

Por Revista Galileu