O Ártico está aquecendo mais rápido do que os cientistas esperavam: cerca de quatro vezes mais quando comparado com a média global de temperatura nos últimos 43 anos.
Isso é o que mostra um artigo publicado nesta quinta-feira (11) na revista científica Communications Earth & Environment, do grupo Nature.
Segundo os autores do estudo, esse aquecimento acelerado do Ártico sugere que a região é mais sensível ao aquecimento global do que as estimativas atuais mostram, tendo em vista que os dados divulgados diferem das simulações relatadas em diversos estudos anteriores, que afirmavam que a região está aquecendo duas vezes ou até três vezes mais rápido que o resto do globo terrestre (fenômeno conhecido como amplificação do Ártico).
“Referir-se ao aquecimento do Ártico como sendo duas vezes mais rápido que o aquecimento global, como frequentemente afirmado na literatura científica, é uma clara subestimação da situação durante os últimos 43 anos, desde o início das observações de satélite [na região]”, alertaram os autores no artigo.
Os cientistas afirmam que há duas principais hipóteses que sustentam essa nova revisão: a primeira é que estimativas anteriores podem estar desatualizadas devido ao aquecimento contínuo da região ártica e a segunda é que essa avaliação tem sido afetada tanto pela forma como o Ártico é delimitadogeograficamente como pela escolha de duração do período sobre o qual a taxa de aquecimento é calculada.
No novo estudo, a região ártica foi definida como a área dentro do Círculo Ártico (veja arte abaixo) e a taxa de aquecimento foi calculada a partir de 1979, quando observações mais detalhadas por satélite se tornaram disponíveis.
Tendências anuais de temperatura média para o Círculo Ártico. — Foto: Arte g1
“O Ártico foi definido usando o Círculo Ártico porque queríamos usar uma área que a maioria das pessoas percebe como o Ártico. Focamos em um período que começou em 1979 porque as observações após esse ano são mais confiáveis e porque o forte aquecimento começou na década de 1970”, afirmou em um comunicado Mika Rantanen, pesquisadora do Instituto Meteorológico Finlandês, que coordenou o estudo.
Por causa dessa nova análise, em algumas regiões do Ártico, como nas áreas no setor eurasiano do Oceano Ártico perto dos arquipélagos de Svalbard e Novaya Zemlya, os cientistas calcularam um aumento até sete vezes mais rápido que o resto do globo.
Ainda de acordo com o estudo, esse aumento na amplificação do Ártico nos últimos 43 anos é causado tanto pelas mudanças climáticas provocados pela atividade humana como pelas variações naturais do clima na região a longo prazo.
Durante esse mesmo período de tempo, os cientistas também identificaram que, em média, os meses de outubro a dezembro no Ártico aqueceram cinco vezes mais rápido que o resto do globo, enquanto a taxa de aquecimento entre junho e agosto fica próxima de dois.
Os pesquisadores afirmam que isso ocorre porque com o fim do outono e a aproximação do inverno no Hemisfério Norte (outubro-dezembro), áreas de água recém-abertas e livres de gelo liberam mais calor na atmosfera.
Já no verão e início do outono, embora a diminuição da cobertura de gelo tenha sido maior, a superfície do mar libera pequenas quantidades de calor justamente porque a atmosfera e o mar ficam quase igualmente quentes.
“Nossos resultados indicam que essa nova taxa de quatro vezes do aquecimento do Ártico é um evento extremamente improvável, ou os modelos climáticos tendem sistematicamente a subestimar essa amplificação”, concluíram os autores do artigo.
Ainda segundo os cientistas, essa incapacidade dos atuais modelos climáticos de simular uma amplificação do Ártico realista pode ter implicações para futuras projeções climáticas. Por isso, os autores defendem investigações mais detalhadas sobre os mecanismos por trás desse processo e sua representação em modelos do tipo.
Fonte: G1