Um primeiro esboço da “árvore da vida” para as cerca de 2,3 milhões de espécies conhecidas de animais, plantas, fungos e micróbios – de ornitorrincos até cogumelos – foi lançado. Um esforço colaborativo entre 11 instituições, a árvore representa as relações entre os seres vivos conforme eles divergiram um do outro ao longo do tempo, remontando ao início da vida na Terra, mais de 3,5 bilhões de anos atrás.
Dezenas de milhares de árvores menores foram publicadas ao longo dos anos pela seleção de ramos da árvore da vida – alguns contendo mais de 100 mil espécies -, mas esta é a primeira vez que esses resultados foram combinados em uma única árvore que engloba toda a vida. O resultado final é um recurso digital que estará disponível gratuitamente para qualquer um usar ou editar, muito parecido com uma Wikipedia para árvores evolucionárias.
“Esta é a primeira tentativa real de ligar os pontos e colocá-lo todos juntos”, disse a principal pesquisadora, Karen Cranston, da Universidade de Duke, ao portal Phys.org. “Pense nela como a Versão 1.0”. A versão atual da árvore está disponível para navegar e baixar no site tree.opentreeoflife.org. Ele também foi descrita em um artigo publicado semana passada na revista “Proceedings”, da Academia Nacional de Ciências.
Diagramas complexos na árvore da vida
Árvores evolutivas, que mais parecem um mapa do metrô de uma cidade secreta, não são apenas para descobrir se os aardvarks são mais estreitamente relacionados às toupeiras ou peixes-boi, ou identificar primos mais próximos do mofo. Compreender como as milhões de espécies na Terra estão relacionadas umas às outras ajuda os cientistas a descobrir novos medicamentos, aumentar os rendimentos agrícolas e pecuários, e traçar as origens e propagação de doenças infecciosas, como o HIV, ebola e a gripe.
Ao invés de construir a árvore da vida do zero, os pesquisadores compilaram milhares de pequenos pedaços que já haviam sido publicados online, fazendo a “super árvore”. O projeto inicial é baseado em árvores de cerca de 500 estudos menores publicados anteriormente. O maior desafio de juntar toda essa informação em um só lugar, sob um só padrão, foi representar as mudanças de nome, nomes alternativos, erros ortográficos comuns e abreviaturas para cada espécie.
Primeiro passo
Ainda que seja algo magnífico, esse é apenas o começo. Por um lado, apenas uma pequena fração de árvores publicadas estão digitalmente disponíveis. Uma pesquisa com mais de 7.500 estudos filogenéticos publicados entre 2000 e 2012 em mais de 100 revistas constatou que apenas um em cada seis estudos tinham seus dados em formato digital para download que os pesquisadores poderiam usar.
A grande maioria das árvores evolutivas são publicadas como PDFs e outros arquivos de imagem que são impossíveis de serem inscritas em um banco de dados ou fundidas com outras árvores. “Há uma lacuna muito grande entre a soma do que os cientistas sabem sobre como os seres vivos estão relacionados e o que está disponível digitalmente”, explica a cientista.
Como resultado, as relações representadas em algumas partes da árvore, como os ramos que representam as famílias de ervilha e de girassol, nem sempre concordam com a opinião de especialistas. Outras partes da árvore, particularmente insetos e micróbios, ainda são difíceis de achar.
Isso porque até mesmo o arquivo online mais popular de sequências genéticas cruas – a partir do qual muitas árvores evolutivas são construídas – contém dados de DNA para menos de 5% das dezenas de milhões de espécies que estimamos existir na Terra. “Tão importante quanto mostrar o que sabemos sobre relacionamentos, essa primeira árvore da vida também é importante para revelar o que não sabemos”, aponta o coautor Douglas Soltis, da Universidade da Flórida.
Completar aos poucos
Para ajudar a preencher as lacunas, a equipe também está desenvolvendo um software que vai permitir que a árvore seja revisada e atualizada à medida que novos dados chegarem à respeito das milhões de espécies que ainda estão sendo nomeadas ou descobertas.
“Ela não está finalizada de forma alguma”, disse Cranston, afirmando que é de extrema importância compartilhar dados de trabalhos já publicados e recém-publicados para melhorar a árvore. “Há 25 anos as pessoas diziam que esse objetivo de árvores enormes era impossível”, diz Soltis. Ao longo das próximas décadas, a Árvore da Vida Aberta poderá servir como ponto de partida para outros pesquisadores que quiserem refiná-la e melhorá-la.
Com informações da Phys.org