Após os conflitos que marcaram a semana, muitas famílias que integram o Movimento dos Sem Terra (MST) que haviam deixado à área ocupada nas proximidades de Brejinho de Nazaré,  retornaram ao acampamento.

Cerca de 50 famílias abandonaram o local ocupado desde maio desse ano, após homens armados terem espancado alguns membros, incluindo um senhor de 75 anos de idade que ainda se recupera das agressões em um hospital da cidade. Os homens ainda atearam fogo em alguns barracos e ameaçam disparar contra as pessoas que oferecessem resistência à desocupação forçada.   Segundo os integrantes do movimento, essa ação teria sido comandada por um político da cidade de Brejinho de Nazaré que lidera um grupo de fazendeiros que tem interesse nas terras.

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Uma reunião no Comando Geral da Polícia Militar está marcada para dia 30 deste mês para tratar do assunto.

Situação

Um dos lideres do MST no Tocantins, Manoel Messias, falou a Gazeta a sobre a atual situação das famílias e disse que o clima ainda é de tensão, pois algumas famílias querem retornar ao acampamento: “algumas famílias queriam voltar para a área hoje cedo, mas nós estamos vendo uma maneira delas não retornarem, porque o risco de conflito é iminente e pode ser que haja uma ordem de reintegração de posse, e isso com certeza só trará mais transtorno” explicou. Disse ainda que os assentados partiram sentido a cidade de Brejinho de Nazaré e que a situação pode mudar a qualquer momento, pois as famílias estão muito tensas e querem a todo custo retornar ao acampamento e finalizou: “nós estamos orientando para não voltar enquanto não houver um parecer jurídico favorável”.

Questionado sobre as ameaças o integrante do movimento disse que desde esta quinta feira, 24,não houve nenhum tipo de intimidação, mas não acredita no fim dos conflitos “sabemos como é o clima na região e pode acontecer qualquer coisa a qualquer hora” frisou.

A assessoria da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) informou que o atendimento ao pessoal do MST de Brejinho foi feito na sede da instituição em Palmas e não no acampamento, como chegou a informação á imprensa. Afirmou que algumas lideranças foram atendidas por técnicos  que deram o encaminhamento ao coordenador da Defensoria Pública Agrária (DPAGRA).

Dados

Há mais de 30 anos que não são registrados tantos casos de conflitos agrários no Estado do Tocantins, conforme a CPT – Comissão Pastoral da Terra. Somente no ano de 2016, foram registrados 1.295 conflitos por terra, sendo que no início da pesquisa da Comissão (1985) não foram registrados sequer 10% dessa totalidade. São denúncias de casos de ameaças, agressões, torturas e até mortes.

Ainda conforme a CPT, os conflitos por terra no Tocantins no ano de 2016 aumentaram 313% em comparação com o ano anterior. De 24 ocorrências em 2015, passaram para 99 no ano seguinte. Além disso, 2.639 foram famílias expulsas em 2016, número 232% maior que em 2015, que registrou 795 famílias expulsas. A expulsão é uma ação de quem se intitula “proprietário” e quase sempre conta com a participação de jagunços. No mesmo ano, 12.829 famílias foram despejadas, 17.447 famílias estiveram sob a mira de pistoleiros; 31.278 viveram sob ameaças de serem despejadas, 21.006 sofreram ameaças ou tentativas de expulsão, 3.827 famílias tiveram suas casas destruídas, 4.611 tiveram roças destruídas e 3.071 tiveram outros bens destruídos.