Hoje é o dia da bordadeira, uma atividade que remonta aos tempos mais antigos, mas que atualmente tem se reinventado e está conquistando novos espaços, seja como expressão artística, terapêutica, dando voz aos movimentos sociais ou simplesmente como possibilidade de encontro e formação de redes de apoio entre mulheres.

Há registros de que o bordado tenha surgido ainda na pré-história, servindo para costurar e decorar vestimentas com agulhas feitas de ossos e linhas de fibras vegetais. A História também é rica em exemplos, do oriente ao ocidente, como as túnicas romanas e outras vestes, além de estandartes e outras peças que contam muito sobre como vivíamos.

No entanto, ao longo do tempo, o bordado tornou-se uma atividade basicamente feminina. Ou seja, seguindo os padrões predominante por séculos, juntamente com a mulher, o bordado ficou restrito às paredes da casa. “Assim, deixou de ser considerado arte e como tudo que é doméstico, tornou-se algo visto como menor”, explica Rayssa Carneiro, jornalista que tem encontrado no bordado uma nova forma de expressão.

Nos últimos anos, o bordado tem se destacado em outras frentes. Diversos coletivos de bordadeiras têm se destacado mundialmente ao denunciar violências e ao reivindicar direitos, promovendo debates e intervenções que utilizam o bordado como registro.  No Brasil, coletivos como o Linhas de Sampa são atuantes e têm se manifestado sobre os mais importantes capítulos da nossa História.

Artisticamente, o bordado tem ocupado galerias de arte e até grandes instalações urbanas. Outro exemplo importante no Brasil é a ilustração de livros, feita com bordados. Sempre achei lindo demais, pra mim bordar é pintar com linhas, você pode desenhar e colorir com as linhas qualquer coisa, é livre, gratificante, satisfatório e terapêutico”, comenta a artesã Jéssica Alves.

No aspecto terapêutico, destacam-se pesquisas como a do médico integrativo americano Herbert Benson, que comprovam que a realização de atividades manuais de cunho repetitivo e que estimulam a criatividade, têm efeitos similares à meditação, gerando relaxamento e amenizando situações de estresse. “É impossível não se entregar ao momento ímpar de conexão e produzir as peças que vem da exploração do imaginário. Pense num negócio que cura e gera abundância interior!”, comemora a escritora Denyzia Brito.

Para Rayssa Carneiro, esse depoimento comprova um pouca da sua experiência. “Eu aprendi a bordar bem jovem, com a minha avó, que bordava enfeites pra casa. Até então eu só achava bonito ressaltar essa memória afetiva. Mas meu primeiro bordado grande e que me marcou foi o enxoval do meu primeiro filho. A ansiedade da gravidez só foi amenizada dessa forma”, relata.

Atualmente, ela vem monta oficinas de bordado para grupos específicos e também reúne mulheres em espaços públicos para praticar o bordado livre, estimular a criatividade e proporcionar espaços de escuta mútua. “As mulheres têm descoberto que bordar é fácil e que estar juntas é prazeroso e pode também ser muito fortalecedor”, constata.

As atividades de bordado livre acontecem em praças da cidade, sempre aos finais de semana e nos horários em que a maioria das mulheres possam estar presentes. Quem nunca bordou também pode se juntar ao grupo quando sentir vontade.

Rayssa Carneiro

@poemar_arte