O panorama da hanseníase no Brasil preocupa autoridades e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) que atuam para controlar a doença, levando informação e incentivando a adoção de políticas públicas que garantam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. O assunto está sendo amplamente debatido no 15º Congresso Brasileiro de Hansenologia cuja abertura aconteceu na noite desta quinta-feira, 15, e que segue até sábado, 17, no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues, em Palmas.

Com 26.875 casos novos da doença, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da Índia. Em todo o mundo o número de novos casos diagnosticados é de cerca de 210 mil. Os números foram apresentados pela coordenadora geral da hanseníase e doenças em eliminação do Ministério da Saúde, Carmelita Ribeiro. “As pessoas acometidas por essa doença precisam do nosso empenho nesse enfrentamento e controle”, enfatizou apresentando as ações de enfrentamento adotadas pelo Ministério.

Os estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste são hiperendêmicos. No Tocantins, de janeiro a outubro de 2018 foram diagnosticados 1.362 casos novos, sendo que dos 139 municípios apenas 27 não tiveram casos novos.

A coordenadora da Hanseníase da Secretaria Estadual da Saúde, Suen Oliveira, ressaltou que o número de pacientes menores de 15 anos diagnosticados é preocupante. “Muitos estão sendo diagnosticados tardiamente, já com sequelas. Se tem crianças doentes é sinal que tem também adultos doentes sem tratamento. Por isso, a avaliação dos contatos (pessoas próximas) desses pacientes é fundamental para quebrar a cadeia de transmissão”, destacou ao apresentar o Informe Epidemiológico do Tocantins elaborado pela Sesau, que aponta uma avaliação de 85,6% dos contatos.

Palmas Livre da hanseníase

O programa “Palmas livre da hanseníase” serve de modelo para o país. O número de pacientes em tratamento é de 857 pessoas, dos quais 317 já em grau 1 de incapacidade e 52  em grau 2. O número de pacientes menores de 15 anos é 55 e dos 1.496 contatos estimados, 966 já foram examinados. “Desde a implantação do programa cerca de 300 profissionais já participaram das formações em serviço com hansenólogo (aula na prática). Hoje em todos os 34 Centros de Saúde da Comunidade temos profissionais capacitados para diagnosticar a hanseníase e tratar. A busca aos contatos tem sido feita, por isso, temos esse número elevado novos casos”, resumiu.

“Por um lado, eu fico triste com tantos casos, mas por outro eu fico feliz, porque isso significa que de fato estamos diagnosticando e colocando à mostra da sociedade o enfrentando à doença”, complementou o secretário municipal de Saúde Daniel Borini.

Eduardo Manzano recebeu homenagem da Sociedade Brasileira de Hansenologia pela dedicação no tratamento da hanseníase (Foto: Divulgação)

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), Cláudio Salgado, o programa “Palmas livre da hanseníase” é o modelo de enfrentamento à doença a ser seguido. “Muitos países declararam que a hanseníase acabou, mas o que vemos são muitas pessoas diagnosticadas já com incapacidade. A hanseníase foi eliminada dos currículos das faculdades de Medicina. No cenário nacional, os exames de contatos ainda são precários e há falhas que devem ser revistas. Pesquisamos muito a hanseníase e praticamos pouco. Felizmente, o maior capital que temos são as pessoas envolvidas nesse contexto de enfrentamento”, disse Salgado.

A abertura do evento também foi marcada pela comemoração aos 70 anos da SBH com homenagens aos profissionais que contribuíram para um tratamento mais humano aos pacientes com hanseníase. Entre eles, o médico Eduardo Manzano pioneiro no enfrentamento da doença no Tocantins.

Programação

O 15º Congresso Brasileiro de Hansenologia segue nesta sexta e sábado, 16 e 17, com apresentação de trabalhos científicos e diversas mesas redondas trazendo desde a abordagem para o diagnóstico aos entraves para enfrentamento da doença, prevenção de incapacidades, exames, medicamentos, entre outros.

O evento tem o patrocínio da The Novartis Foundation e conta com o apoio da Prefeitura de Palmas por meio da Semus e da Fesp, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Organização Mundial da Saúde – Escritório Regional para as Américas, Ministério da Saúde e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

 

 

Fonte: Secom Palmas