Representação artística mostra o disco crescente de material endo puxado pelo buraco negro, fazendo a galáxia se iluminar. — Foto: Observatório Europeu do Sul (ESO)

“Imagine que você vem observando uma galáxia distante por anos, e ela sempre pareceu calma e inativa. […] De repente, seu [núcleo] começa a mostrar mudanças drásticas no brilho, diferente de qualquer evento típico que já vimos antes”.

O relato da astrônoma do Observatório Europeu do Sul (ESO), Paula Sánchez Sáez, traduz um pouco do entusiasmo dos astrônomos ao perceberem que estavam testemunhando um evento inédito: a ativação de um buraco negro massivo em tempo real.

A descoberta, divulgada pelo ESO, tem grande potencial para o estudo dos buracos negros, já que os pesquisadores concluíram que estão assistindo mudanças nunca vistas em uma galáxia.

Do brilho ao nada

 

Para entender a dimensão da descoberta, é preciso lembrar que outros fenômenos de emissão de luz repentina das galáxias já foram observados antes.

Os mais comuns são:

  • Explosões de estrelas chamadas de supernovas;
  • Eventos de ruptura de maré, quando uma estrela chega muito perto de um buraco negro e é despedaçada.

 

Mas, nesses casos, as variações de brilho normalmente duram algumas dezenas ou, no máximo, centenas de dias.

Já no caso da galáxia SDSS1335+0728, que está sendo observada pelos astrônomos, o brilho já dura mais de quatro anos, desde que foi visto pela primeira vez em 2019.

Observação inédita

 

Buracos negros massivos, com massa de mais de cem mil vezes a do nosso Sol, existem no centro da maioria das galáxias, incluindo a Via Láctea. Mas, em geral, esses “monstros gigantes” estão adormecidos e não são diretamente visíveis.

“No caso da SDSS1335+0728, pudemos observar o despertar do buraco negro massivo, [que] de repente começou a se banquetear com gás disponível em seus arredores, tornando-se muito brilhante”, comenta Claudio Ricci, coautor do estudo.

 

Estudos anteriores já haviam relatado galáxias inativas se tornando ativas após vários anos, mas essa é a primeira vez que o processo em si – o despertar do buraco negro – foi observado em tempo real.

Segundo os astrônomos, observações de acompanhamento ainda são necessárias para descartar outras explicações para o evento observado.

Uma outra possibilidade é que esteja sendo observado um evento de ruptura de maré extremamente lento, ou mesmo um novo fenômeno. Caso seja uma estrela sendo despedaçada por um buraco negro, é o evento mais lento e tênue já visto.

Além disso, as variações detectadas nessa galáxia, localizada a 300 milhões de anos-luz da constelação de Virgem, são diferentes de todas as vistas antes, o que chama a atenção dos pesquisadores para uma explicação distinta.

A equipe comparou dados obtidos antes e depois de 2019, e concluiu que a galáxia agora está emitindo muito mais luz em comprimentos de onda ultravioleta e infravermelho, além de ter começado a emitir raios X em fevereiro de 2024.

“Esse comportamento não tem precedentes”, afirma Sánchez Sáez.

 

Segundo os astrônomos, a explicação mais provável é que eles estariam observando como o núcleo de uma galáxia começa a se mostrar, algo nunca visto desde o início.

Fonte: G1