Limite não é universal, muda de acordo com perfil do consumidor e pode ficar entre uma ou quatro xícaras por dia. Estudo de julho de 2021 com 17 mil pessoas aponta que consumo de seis xícaras foi associado ao aumento de risco de demência e derrame.

Qual é a linha que separa os benefícios do café de eventuais efeitos prejudiciais sobre a nossa saúde? Em um caso que não tem relação direta com o consumo da bebida, mas com o uso da cafeína como um suplemento em pó, um personal trainer morreu após tomar o equivalente a 200 doses de café.

Para além do uso do suplemento, que deve ser visto com muitas ressalvas e ser evitado, o tradicional cafezinho é associado a efeitos benéficos para a saúde, sobretudo do coração e atuação contra doenças degenerativas. O excesso, como para todos os alimentos, é prejudicial. E, no caso do café o limite pode ser de uma até quatro xícaras por dia, de acordo com a pessoa.

“Estudos já demonstraram que o café é capaz de proteger a saúde do coração e prevenir doenças degenerativas, como Alzheimer e Parkinson”, apontou a médica Cíntia Cercato, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Por outro lado, abusar do café pode causar arritmia, agitação, irritabilidade, nervosismo e insônia. Em gestantes, o consumo acima da quantidade segura pode causar atraso na formação cerebral do feto.

Um estudo da USP divulgado na revista “Clinical Nutrition” em julho de 2019 também concluiu que o consumo acima de 3 xícaras (720 ml) de café pode causar pressão alta em pessoas predispostas a desenvolver hipertensão. A dose vai variar conforme a constituição da pessoa.

Quantidade segura

Um estudo publicado em julho do ano passado que avaliou mais de 17 mil pessoas, conduzido pela University of South Australia, apontou que pessoas que tomaram mais de seis xícaras de café por dia tiveram um aumento de 53% no risco de demência ou derrame.

A endocrinologista Cercato afirma que não há problema tomar café todos os dias, mas alerta, citando a European Food Safe Authority, que a dose diária de cafeína depende de cada pessoa:

  • Adulto saudável com cerca de 70 kg: de 300 a 400 miligramas de cafeína (o equivalente a 4 xícaras de café coado)

 

  • Crianças (a partir de 2 anos) e adolescentes: 100 miligramas de cafeína (cerca de 1 xícara coado)

 

  • Gestantes e lactantes: 200 miligramas de cafeína (cerca de 2 xícaras coado)

 

  • Sensíveis à cafeína: de 100 a 200 miligramas de cafeína

O café expresso tem o triplo de cafeína que o coado. Para fazer o cálculo de quantas xícaras tomar, deve-se considerar que

  • 125 ml (meia xícara) de café coado tem 85 mg de cafeína

 

  • Apenas 30 ml de café expresso tem 60 mg de cafeína

Vale lembrar que a cafeína está presente no cacau, no guaraná e em alguns chás. Por isso, não deve ser contabilizada somente a cafeína do café, mas de tudo o que consumimos no dia (por exemplo: chocolate, achocolatado, refrigerante à base de guaraná ou cola, chá etc).

Quem deve maneirar na dose

Além de grávidas, sensíveis à cafeína e crianças e adolescentes, Cercato alerta que devem consumir café com moderação os cardiopatas e as pessoas que fazem uso de suplementos de academia, produtos ricos em cafeína.

“O café não é proibido aos cardiopatas, mas eles devem fazer uso moderado para não sentirem seus efeitos colaterais, como a arritmia”, explica a endocrinologista do HC da USP.

Café vicia?

Segundo Cercato, não há estudos científicos que comprovem que o consumo do café pode causar vício.

Como adoçar

A nutricionista e doutora em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília, Alessandra Gaspar Sousa, explica que o ideal é tomar o café puro, mas se quiser adoçar, deve-se substituir o açúcar branco por:

  • Melado de cana
  • Açúcar demerara
  • Açúcar de coco
  • Açúcar mascavo
  • Adoçantes à base de stévia

 

A barista Isabela Raposeiras explica que o café “não precisa ser amargo. O café de qualidade, aliás, não é amargo.” Por isso, se você não tolera tomar café sem açúcar, pode ser culpa do tipo de café que toma.

Composição

Praticamente livre de contraindicações quando consumido puro e dentro do que os médicos chamam de “quantidade segura”, o café vai muito além da cafeína, famosa substância estimulante que aumenta a concentração, a disposição, a atenção, além de ajudar no desempenho esportivo.

“O café é rico em antioxidantes, minerais, vitaminas e flavonoides, mesma substância encontrada no vinho”, explica Cercato, endocrinologista do HC da USP.

Enquanto antioxidantes são substâncias químicas que ajudam a proteger nossas células de substâncias prejudiciais produzidas durante o metabolismo, os flavonoides ajudam na circulação sanguínea.

Além dessas substâncias, a ingestão de café ajuda nosso cérebro a liberar os seguintes estimulantes naturais:

  • Dopamina: popularmente conhecida como “hormônio da felicidade”, está relacionada com a motivação.

 

  • Adrenalina: hormônio relacionado com a euforia e a disposição.

Café engorda?

De acordo com o médico Audie Nathaniel Momm, nutrólogo do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, “não há correlação de ganho de peso com o consumo de café puro, exceto se o mesmo for servido com açúcar.”

O nutrólogo lembra que muitos associam o café a perda de peso por causa da sua ação termogênica e estimulante, o que acelera o metabolismo. “Isso é verdade, mas [para ajudar na dieta] seu consumo deve fazer parte de hábitos alimentares e exercícios físicos regulares”, explica Momm, afirmando que somente o café não faz milagres.

Crianças podem tomar café?

A resposta divide os especialistas, mas ainda não há estudos que comprovem malefícios do café aos pequenos.

“A recomendação geral é que crianças menores de dois anos não tomem café. Acima disso, podem consumir, mas moderadamente. Por exemplo: não vemos problema em uma pequena quantidade de café misturada no leite no café da manhã. É melhor do que usar o achocolatado”, recomenda Cercato.