A planta Coffea Arabica, nativa das terras altas da Etiópia e popularmente conhecida como Café, produz uma bebida estimulante, obtida a partir da torrefação e moagem de sua semente. Já no século XVI a bebida era consumida no Ocidente e a partir de então se disseminou por todo o planeta.

A C. arabica necessita de significativa umidade do ar e do solo, além de um leve sombreamento para então produzir em todo o seu potencial. Trazida para o Brasil pelos europeus, a planta se desenvolveu bem nas regiões de predominância da Mata Atlântica, onde as condições de clima e solo são favoráveis a sua cultura. Similar à Zona da Mata, as condições edafoclimáticas do Brejo de Altitude do Sertão do Pajeú-PE permitiram o cultivo dessa iguaria por mais de dois séculos nos municípios de Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde e na famosa Serra do Enjeitado, Município de Flores/PE.

É certo que o cultivo do café em larga escala concentra-se nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Todavia, a agricultura familiar predominante no Sertão do Pajeú, mais especificamente no Brejo, teve sua ampla participação na produção de café no interior pernambucano. Estima-se que cerca de 70% das propriedades agrícolas do Município possuíam pequenos cafezais até o início dos anos 90. Com a seca de 1993, as plantações sofreram um déficit hídrico bastante acentuado, situação que se agravaria na grande estiagem registrada de 1998 a 1999, com registros de cafezais completamente extintos no setor oeste no Município de Triunfo e em toda a parte brejeira do Município de Santa Cruz da Baixa Verde.

Por muito tempo, o café foi moeda de câmbio nos mercados públicos municipais da região e era comercializado nas feiras livres dos municípios de  Calumbi e de Serra Talhada, como um acepipe(iguaria), tendo em vista que tais municípios nunca foram produtores, mas possuíam ampla gama de consumidores, aquecendo um comércio em ascensão. Era comum encontrar nas estradas do Brejo, comboios de burros de carga com sacas de café, fardos de rapadura e farinha de mandioca, com destino aos centros comerciais do Pajeú.

Na Zona da Mata pernambucana, produtores rurais têm se identificado com a produção de café orgânico cultivado à sombra de árvores nativas. O produto final é um grão bem mais valorizado e que possui as características físico-químicas ideais para a fabricação de bebidas finas. Em Triunfo, o cultivo de café sombreado é percebido desde a cidade. Na Sede, encontra-se no sítio do Convento São Boaventura.  Fora dela, nas comunidades rurais do leste do município como: Fortaleza, Espírito Santo, Santa Luzia, Santa Maria e  noutras em menor escala,  sempre à sombra do tamboril, árvore de grande porte, comum na região. A mesma prática se repete no oeste do município, nos sítios Coroas, Santo Antônio e Brejinho.

Vale ressaltar que o sucesso dos cafeicultores da Zona da Mata se dá necessariamente pelo manejo adequado dos cafezais e renovação das plantas. Em Triunfo, os exemplares são remanescentes de antigos cafezais que sobreviveram às grandes secas, e mesmo apresentando certa produtividade não atendem economicamente às necessidades produtivas locais. Esse fator, aliado à falta de assistência técnica adequada à produção do café, reduz amplamente o número de sacas produzidas a cada ano.

Levando em conta aspectos intrínsecos do município de Triunfo, relacionados a produção de café, a cultura ainda é bastante indicada para a região, visto que a cidade encontra-se sobre um aquífero natural que pode suprir as necessidades hídricas por meio de um correto manejo de irrigação. O solo vermelho triunfense acondiciona os minerais necessários ao bom desempenho das plantas. Além disso, o estímulo da tradição de se cultivar café pode significar a perduração da espécie nos empreendimentos agrícolas brejeiros. Em se tratando de um produto diferenciado como o café orgânico ou agroecológico, o preço praticado no mercado vem aumentando significativamente, visto que o número de consumidores que buscam um produto genuinamente natural tem crescido nas últimas décadas.

Produzir café no Brejo do Pajeú é promover a manutenção de diversos estabelecimentos rurais, garantindo empregos, renda e qualidade de vida à  população vinculada à agricultura. Em tempos atrás, a turística cidade de Triunfo já foi considerada a “Rainha do Café Sertanejo”. E se esse café orgânico for adoçado com o produto que rendeu à vizinha Santa Cruz da Baixa Verde o título de “Capital da Rapadura” não há concorrente no mercado. A história do café nessa região possui um potencial turístico imenso e pode ser identificado nos tradicionais e específicos hábitos de consumo do povo brejeiro. Sendo assim, em um pacto matrimonial, a “Rainha do Café” e a “Capital da Rapadura”, podem garantir para si um título inédito que as unifica:“Brejo Agrícola e Turístico do Sertão do Pajeú”!

Por João Paulo Ferraz

Fonte: Blog do Robério Sá