Foto – Reprodução
Lucas Eurilio
O povo indígena Krahô no Tocantins, criticou a pré-candidata à reeleição ao Senado, Kátia Abreu (PP) após ela pedir aos amigos uma doação de roupas velhas para entregar em algumas aldeias.
Em um vídeo Kátia Abreu aparece dizendo que está em pré-campanha, andando pelo Estado em busca de apoio e solicita que doem até camiseta de propaganda e lençol velho. (Assista no final da reportagem).
“Minhas queridas amigas, bom dia, estou falando aqui diretamente da estrada de Arraias para Taguatinga, eu tô fazendo minha andanças aqui na pré-campanha atrás de apoio para o Senado Federal, mas eu queria fazer um pedido a vocês. Que vocês pudessem me ajudar a juntar roupas usadas para que eu possa dar, para os índios Krahô. Eles são uns índios trabalhadores, plantam roça e as mulheres estão muito empobrecidas. E pode ser roupa simples, camiseta de propaganda, roupa de criança que seus filhos não estão usando mais, o que vocês puderem doar, lençol velho, toalha, vocês por favor, juntem pra mim para eu levar para os Krahô, diz a senadora em parte do vídeo.
Já em outra parte, a parlamentar afirma que assim que conseguir uma quantidade boa de doações, poderá ir com os amigos em uma comitiva para fazer a entrega.
“Eu prometi às cacicas, lá tem quatro cacicas que são mulheres comandando os índios e eu queria muito, poder dar essa contribuição. Quando formos entregar, podemos até ir juntas com comitiva e chegar até lá. Eles ficam no norte do Estado, entre Itacajá e Goiatins. Valeu! Obrigada”, finalizou.
Momentos após o vídeo viralizar nas redes sociais, indígenas começaram com uma enxurrada de críticas e um deles chamou a parlamentar de cara de pau.
“Senadora porque você não compra roupa nova pra nós? Já que você recebe salário muito alto né. E você vem falando pra doar roupa velha pro povo Krahô, isso é um absurdo. Toma vergonha aí rapaz. Se quiser doar roupa velha, doa pra sua avô, não pra nós. A gente não precisa disso, a gente tem um dinheirinho, a gente compra nossa roupa e a gente nunca pediu roupas pra você. Então, vocês têm que respeita a gente”, confrontou.
Em outro momento Kátia foi chamada de mentirosa e foi cobrada a respeito de um trator.
“Oh Kátia Abreu, meu voto vale mais que roupa velha e você é muito cara de pau, fazendo propaganda de roupa velha. E você prometeu aquele trator, ficou falando, cadê esse trator? Larga dessa mentira, vai mentir em outro lugar”, finalizou.
Já a cacique da Aldeia Sol subiu o tom e disse que o Povo Krahô precisa de Saúde, Educação, Cerrado em pé e água limpa.
“Boa tarde pessoal, sou eu, a cacique da Aldeia Sol eu quero dar uma resposta à pré-candidata Kátia Abreu. Nós Krahô, precisamos ter nossos direitos garantidos na Constituição de 1988. Nós precisamos de Saúde que está precária, nós precisamos da Educação que está precária, nós precisamos de água limpa, Cerrado em pé, isso que nós queremos. Esses candidatos querem acabar com as terras dos Krahô que tá aí, o Matopiba que ia fazer nossa área acabar. Então Kátia Abreu, você é candidata, você é estudada, mas não tem muito Krahô que fica pedido roupa velha assim não. Nós temos algum dinheirinho, que nós trabalhamos e compramos nossas roupas novas e você quer uma doação, você não tem vergonha de carregar roupa velha não, Kátia Abreu? Quanto dinheiro que o governo, vocês como senadores, parlamentar, que ganha emenda.. Cadê vocês?”, questionou.
Na última parte da gravação, a cacique disse que Kátia precisa pensar mais e que não são todos os caciques que estão apoiando sua candidatura.
“Vocês só aparecem quanto estão sendo candidatos, pra você enganar os índios e depois fazer leis contra nós indígenas do Tocantins… Então você precisa pensar mais, porque não são todos os caciques Krahô que apoiam você. Aqueles que não sabem entender, que apoiam você, você engana com qualquer coisa e fala que tá ajudando e fica falando negócio de roupa velha, não é isso não. Se você tem o dinheiro, porque você não dá coisa nova? Eles não precisam só de roupa, precisam de várias coisas”, concluiu.
O Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS) também divulgou uma nota repudiando as falas da senadora. (Veja na íntegra mais abaixo).
A Gazeta do Cerrado entrou em contato com a assessoria da pré-candidata e aguardamos uma resposta.
Nota INDITINS
Repudiamos o oferecimento “ajuda” da senadora Katia Abreu, que pediu o arrecadamento de roupas velhas aos Povos Indígenas em suas redes sociais. Seu discurso assistencialista não apaga os inúmeros ataques aos Povos Indígenas e as florestas do Tocantins. Fazendeira antes de política ela e bancada do boi legalizam o desmatamento e escondem-se em discursos falsos.
Como bem disse a Cacique Creuza Kharô, da aldeia Sol, a saúde e educação dos Povos Indígenas tocantinenses está precária e mesmo após manifestações nada foi feito! Os noves Povos do estado não têm estrutura mínima para o atendimento de saúde e nem têm escolas nas aldeias como a Constituição garante ser nosso direito.
O Povo Apinajé enfrentou um surto de Tuberculose, o Povo Karajá enfrenta falta de transporte para levar indígenas doentes, nossas lideranças são ameaçadas e nossas crianças sofrem com a alta taxa de mortalidade infantil e de suicídio em adolescentes e jovens indígenas. Onde está Katia Abreu para ajudar os Povos Indígenas com todos esses problemas?
E o ataque aos Povos originários não para por aí, o Tocantins é o segundo estado que mais desmata o Cerrado no Brasil, o território indígena do Parque do Araguaia sofre invasões e teve mais de 50 km² desmatados em 2021. O território Xerente também sofre com invasões de madeireiros ilegais e traficantes que aliciam nossos jovens indígenas. Não precisamos de caridade, precisamos de políticas públicas que protejam nossos territórios, nossa cultura e nossa vida.
Veja os vídeos
Vídeo Kátia Abreu
Vídeos Indígenas Krahô
O que diz Kátia Abreu
Em nota enviada à Gazeta, a senadora Kátia lamenta que as palavras utilizadas tenham gerado interpretação equivocada e tirado o foco do que realmente importa, que é ajudar a solucionar uma demanda que recebeu de uma comunidade indígena. Nessa hora, destaca a senadora, a solidariedade precisa falar mais alto do que as diferenças políticas. Ela lembra que, se todos ajudarem, como puderem, mesmo que com simplicidade, é possível diminuir o sofrimento do próximo.
Por fim, Kátia reforça que sua vida pública sempre foi pautada em resolver problemas e que nunca cruzou os braços diante dos pedidos que chegaram a ela.