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Lucas Eurilio e Brener Nunes

Estresse, Sobrecarga, cansaço físico e mental… EXAUSTÃO! Palavras que têm se tornado parte do vocabulário diário dos profissionais da Saúde que atuam na linha de frente contra a Covid-19 no Brasil e Mundo a fora.

O Tocantins trava hoje uma batalha não apenas contra esse vírus que já devastou 1.860 famílias no Estado e não dá um segundo de trégua, mas também contra um colapso que todos os dias bate na nossas portas.

A nossa reportagem traz nesta quinta-feira, 25, o depoimento de quatro profissionais que combatem todos os dias esse vírus mortal.

Todos as falas foram transcritas de áudios encaminhados pelos profissionais através do WhatsApp.

O primeiro é de Matheus Negreiros. Ele é médico e faz especialização em anestesiologia do Hospital Geral de Palmas (HGP). Na pandemia, o médico contou que nessa corrida à favor da vida, aprendeu a não superestimar nem subestimar a gravidade da doença.

“Eu sou médico residente então tenho a vivência tanto no serviço específico para COVID quando no centro cirúrgico com pacientes positivos para COVID. Em pronto socorro é sempre uma caixinha de surpresas. Ao mesmo tempo que existem pessoas mais idosas e com comorbidades que evoluem muito bem, existem também pessoas jovem e hígidas com uma evolução pouco favorável. Um dos maiores desafios é saber ponderar medicações e exames. Definir quando solicitar uma tomografia de tórax, quando apenas uma radiografia já é suficiente ou quando não há necessidade de exames complementares. Sobre as medicações, até hoje há dúvidas sobre o que prescrever ou não, quando usar antibiótico associado ou mesmo o anticoagulante. Já tive experiências muito boas e outras muitos ruins, como por exemplo intubação de via aérea difícil evoluindo pra cricostomia de urgência. Disso tudo eu aprendi que o mais importante é tentar olhar o paciente como o todo, nunca superestimar nem subestimar a gravidade da doença e dos sintomas e seguir os princípios da beneficência e não maleficência, buscando o melhor pro paciente. Quanto ao cenário, tenho um olhar positivo. Espero que após a vacinação em massa os casos e a gravidade dos mesmos diminua e em breve possamos voltar às nossas rotinas ou o mais próximo delas”. 

Médico da linha de frente, Matheus Negreiros – Foto: Arquivo Pessoal

Um profissional do Hospital e Maternidade Dona Regina relatou que há muito aprendizado, porém com muita tristeza e sofrimento. Ele preferiu não se identificar.

“Nossas experiências nesse momento de pandemia são incríveis, mas também são muito difíceis. É um aprendizado muito grande com o que a vida pode nos proporcionar , é um amadurecimento profissional, mas com muita, muita, muita tristeza mesmo. As nossas dificuldades são sempre as mesmas há muitos anos, agora na pandemia, fez foi piorar. Falta equipamento de proteção individual, materiais permanentes para o uso dos profissionais, dos usuários, e a única coisa que nós queremos. é um socorro da gestão, que ela possa nos ajudar, Entendemos  as dificuldades deles, mas não podemos ficar como nós estamos. Nós precisamos de socorro, as coisas estão cada vez mais difícil. Não aguentamos mais a perdas em famílias, nas nossas famílias, Então, que a gente consiga maior apoio dos governantes, que eles possam estar presentes nas nossas maiores dificuldades e nos problemas que a população e o usuário encontram, porque nós queremos atender da melhor forma possível o usuário, o SUS, que é o que temos de grandeza, em relação à Saúde. Vamos cuidar do Dona Regina, os profissionais do centro cirúrgico merecem a gratificação da Covid. Precisamos de vacinação em massa, de uma melhor alimentação. O Dona Regina precisa de uma ultrassom pra ficar na ala Covid, não tem um termômetro na porta de entrada, em qualquer lugar que você vai tem, mas lá não tem. A visita da gestão precisa ser frequente no Hospital”.

O terceiro depoimento e da técnica de enfermagem, Amanda Oliveira. Em um desabafo à nossa reportagem, a técnica que também é estudante de Enfermagem disse que o medo de passar o vírus para familiares e para as pessoas é constante. Ela relata cansaço físico e mental.

“A nossa rotina está muito cansativa, muitas pessoas vindo procurar atendimento, muitas pessoas nos hospitais, então assim, o fluxo de pessoas positivas muito grande também. A questão de você dá a assistência, tanto fazendo medicação, aí você coloca O² – oxigênio – , cuida do paciente.. Tá deixando a gente muito estressado, cansado, com medo de pegar e passar pra alguém da família, ou de transmitir pra outra pessoa, porque vai que a gente não sabe se tá contaminado, tá muito complicado pra gente. Nosso psicológico está completamente abalado. Um ano de pandemia a gente achou que as coisas iam melhorar e fez foi piorar, Mais pacientes, mais serviço, um assistência muito maior, porque os pacientes que a gente cuida por exemplo e que posteriormente vai pra UTI, a gente continua. Então é um ciclo, a nossa rotina tá assim, não para. Mesmo com o que a Prefeita está tentando fazer, com o lockdown, mesmo abaixando os casos, a gente continua a trabalhar o tempo todo sobre pressão, com cansaço físico e mental, sem contar nas paramentações que apertam a gente, às vezes a máscara sufoca. Estamos muito triste pelas pessoas próximas e os pacientes que morrem em decorrência da Covid. Hoje mesmo perdi mais uma paciente querida”.

Por último, Estevam Rivello. Ele é representante do Tocantins no Conselho Federal de Medicina. Médico, Estevam também atua na linha de frente no HGP ele começou o desabafo chamando a atenção e dizendo que todos foram alertados ainda no início da pandemia sobre o caos na Saúde.

“Em 2020 a minha tônica foi essa, mostrar pra população do Tocantins, como que a iria passar por um problema grande de Saúde Pública, que carecia das gestões Municipal e Estadual uma atenção peculiar, no sentido de dar mais condições ao serviço, pra que a gente não fosse pego de ‘surpresa’. Falamos muito ao longo de 2020 sobre os equipamentos de proteção individual (EPIs), sobre a formação de times adicionais, sobre a implantação de leitos, reestruturação de serviço, porque essa doença, é uma doença que vinha desestruturando e desestrutura até hoje sistemas de saúde consagrados no Mundo e no Brasil não seria diferente. Precisar a data? A gente não tinha bola de cristal mas tínhamos certeza que sem a vacinação, uma hora isso poderia acontecer.  O profissional trabalhou o ano passado inteiro correndo o risco de se contaminar com a Covid, limitando o convívio com familiares, amigos e até com o cotidiano social também. Então foi um ano muito cansativo. Iniciamos 2021 com uma explosão, uma acentuada de casos no Brasil, com a nova variante que agora não respeita idade, comorbidade, e não tem mais aquela dilatação de tempo, de 10 a 14 dias o doente complicava, com essa variante o paciente tem complicado antes do quinto dia, muito rapidamente. Quando a gente abre o olho, o doente já tá complicado. Isso favoreceu para uma explosão no número de internação, uma vez que isso acontece, somos pegos de ‘surpresa’ todos os Estados brasileiros que não se preparam para a chegada desse momento. Aí a gente vê uma retenção no número e a não disponibilização de leitos de UTI, e isso faz com que nós nos adaptemos a uma nova realidade. O serviço suplementar, particular adaptando leitos em ambientes onde não eram próprios pra isso, porque tem que resolver o problema, e o serviço público da mesma forma. Criaram leitos em outros hospitais que sejam particulares ou até mesmo em outros ambientes, estruturamos novos leitos dentro da estrutura onde já detinham, mas ainda assim insuficiente para o atendimento da população que vem se contaminando… Mas esse ano temos um novo advento que é advento da vacina, e que nós, profissionais da saúde, tivemos o privilégio de fazer parte do grupo prioritário. Então se em 20 a gente passou o ano inteiro amedrontado, mesmo com as condições e as limitações pessoais, e o cansaço, esgotamento diferente em relação a tudo que vivemos, agora tá muito mais pesado…. Aí, com todo esse cenário de explosão de número de casos, O dia inteiro em um ambiente onde as paredes, insuficiência de leito, limitação do convívio social, o dia inteiro dentro de um ambiente onde nas paredes a gente não enxerga a luz do dia, ouvindo apito, sobre estresse, as chances são grandes para o surgimento de problemas emocionais, e nesse sentido a gente vivencia hoje, um momento que é muito diferente… É o momento da gente dar os braços e tentar passar juntos por esse problema”.  

Sobre as denúncias feitas pelo profissional do Dona Regina, o Gazeta do Cerrado entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) e aguardamos uma resposta sobre o assunto.