Marielle Franco e o motoristas Anderson Gomes foram assassinados em 2018 – Foto – Divulgação

Operação Élpis, deflagrada na segunda-feira (24/7), prendeu mais um suspeito de envolvimento nas execuções da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorridas em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. O ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel, é acusado de participar do monitoramento da vítima, além de ter fornecido apoio logístico aos assassinos.

Dois ex-policiais militares estão presos preventivamente desde março de 2019 e aguardam julgamento: Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz. Este, por meio de delação premiada, revelou novos detalhes sobre o crime e a participação de outras pessoas no planejamento e na execução.

Mais de cinco anos depois do crime, a investigação volta a mostrar avanços, mas ainda sem responder duas questões fundamentais: quem foi o mandante e qual foi a motivação dos assassinatos. É principalmente nessa direção que se voltam, a partir de agora, as atenções dos investigadores. A ideia é usar as novas informações para ir além da situação atual e ampliar o foco.

“Não há crime perfeito”

Em coletiva de imprensa nessa segunda, o titular da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que a participação de outros indivíduos ainda não revelados é “inquestionável”. “Passos concretos, efetivos, relevantíssimos que estão sendo dados mostram que estamos próximos de esclarecer. Não há crime perfeito. Outras novidades com certeza ocorrerão nas próximas semanas”, afirmou o ministro, que também confirmou relações dos assassinatos com a milícia e com o crime organizado.

Dino já apontou a possibilidade da ocorrência de novas operações policiais. Ele entende que a delação de Élcio é um elemento importante, pois esclarece a dinâmica da execução da vereadora e de seu motorista. Além disso, o ministro avalia que isso vai possibilitar a abertura de novas linhas de investigação no caso. No entendimento dele, agora é hora de buscar mais fatores externos.

Como o próprio Dino indicou, as atenções agora se voltam para as demais relações em torno do Caso Marielle. A investigação quer esclarecer a quem interessava a morte de Marielle, questão que a família dela tem cobrado há anos.

“Enquanto a gente não combater a violência política neste país, enquanto a gente não souber quem mandou matar Marielle, a nossa democracia segue fragilizada”, destacou, em vídeo, a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, irmã da vereadora assassinada.

Pontas

Um dos problemas nas pontas a serem juntadas na investigação a partir de agora é que um personagem fundamental na trama não está vivo para trazer mais luz sobre o caso. O sargento reformado Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, foi executado a tiros em novembro de 2021, ao 54 anos. O crime ocorreu, em plena luz do dia, em Bangu, na zona oeste do rio. Na delação, Élcio trouxe informação nova ao revelar que Macalé foi o elo entre mandantes e executores do crime.

A delação de Élcio de Queiroz foi importante, como destacou Flávio Dino. Mas ainda não restou capaz de apontar, diretamente, quem foram os mandantes ou mandante das execuções.

Detalhes

Na delação, o ex-PM detalhou a participação do finado Edmilson Macalé no caso. “Foi através do Edimilson que trouxe… vamos dizer, esse trabalho para eles; essa missão para eles foi através do Macalé, que chegou até o Ronnie”, revelou Élcio.

Após Edimilson entrar em contato com Lessa para realizar o assassinato, os acusados começaram a monitorar a vereadora junto a Suel. No fim de 2017, adquiriram o Chevrolet Cobalt que seria utilizado no dia do crime e passaram a realizar campanas.

Enquanto isso, o ex-bombeiro Suel também auxiliava no planejamento da ação e fornecia apoio logístico para encobrir os executores. Suel já havia sido condenado por atrapalhar as investigações, mas cumpria pena em regime aberto.

Ele deveria ser o motorista da ação, e chegou a participar de uma tentativa anterior de assassinar Marielle. Na ocasião frustrada, Suel dirigia o veículo, Lessa portava uma submetralhadora no banco do carona e Macalé um fuzil, no banco de trás. O trio teria perseguido a vereadora, que estava em um táxi. No momento da abordagem, porém, o ex-bombeiro disse que o carro falhou, mas Lessa acreditava que o motorista havia hesitado.

Élcio substituiu Maxwell na direção do veículo no dia do crime. O delator afirma não ter participado do planejamento do ato. No depoimento que baseou a delação, inclusive, o ex-militar disse que só ficou sabendo quem seria o alvo no dia da ação e que, até então, não sabia quem era Marielle Franco.

Na delação, Élcio confirmou que dirigia o carro usado para o crime. Segundo ele, Lessa ficou no banco de trás e atirou com uma submetralhadora MP5 no Chevrolet Agile branco em que estavam Marielle, Anderson e a assessora Fernanda Chaves, única sobrevivente do ataque.

Outras seis pessoas foram alvo de mandato nessa segunda:

  • O irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, que pediu um táxi para Ronnie e Élcio quando estes chegaram à casa da mãe dos Lessas depois da execução;
  • Edison Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, suspeito de fazer o desmanche do carro utilizado;
  • João Paulo Vianna dos Santos Soares, conhecido como Gato do Mato, e Alessandra da Silva Farizote, suspeitos de terem descartado armas;
  • O policial Maurício da Conceição dos Santos Junior, conhecido como Mauricinho, e Jomar Duarte Bittencourt Junior, o Jomarzinho, suspeitos de terem vazado informações a Lessa sobre a operação que o prenderia.

Além da delação de Élcio, a polícia espera que os depoimentos possam acrescentar mais elementos à investigação que tenta esclarecer quem mandou matar Marielle e Anderson.

Esperança

A operação da Polícia Federal em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro que prendeu o ex-bombeiro Maxwell foi batizada de “Élpis”, uma referência à deusa da esperança na mitologia grega.

Fonte – Metrópoles