Reportagem Especial Gazeta do Cerrado

O destino de uma das maiores instituições de ensino do país ainda é incerto, tudo parecia que ia se resolver após a empresa Glory Top, de Honk Kong, ter arrematado por R$600 milhões, as seis instituições de educação superior mantidas pela Associação Educacional Luterana do Brasil (Aelbra) nas regiões Norte e Centro Oeste.

A empresa não cumpriu o prazo para depósito judicial, mesmo depois da justiça prorrogar a data de pagamento.

O juiz Luiz Fernando Bonn Henzel, titular da 3ª Vara do Trabalho de Canoas determinou a imediata reabertura dos procedimentos de venda judicial das unidades, o que, após a notificação da instituição, deverá ser definido mediante publicação de edital.

Em razão disso, o magistrado condenou a Glory Top ao pagamento de multa de 20% do valor do lance, bem como a responsabilizou pelas despesas do leilão.

Sindicato não quer a venda

A suspensão do leilão já havia sido formalmente solicitada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) e pela Aelbra no último período. “O episódio é lamentável, mas não desmotiva o Sindicato a continuar buscando uma solução para o passivo trabalhista da instituição, bem como para a manutenção dos contratos de trabalho”, destaca Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.

Profissionais apreensivos

Sem data definida para esta nova venda e solução do caso, profissionais que trabalham na instituição relataram a Gazeta do Cerrado, estarem apreensivos. Sem querer se identificar eles estão inseguros com relação ao vínculo empregatício.

“Constantemente existem comentários entre os professores, sobre a situação que nunca se resolve. Alguns profissionais por medo já começam buscar outros vínculos e formas de trabalho. Falta informação e transparência”.

Nossa fonte ressalta que a qualidade do trabalho, o compromisso com os conteúdos ministrados em sala de aula e o respeito a instituição estão sendo cumpridos e mantidos.

Alunos dizem não perceber nenhum impacto

Os estudantes de engenharia civil, da unidade de Palmas, Murilo Henrique e Larissa Aires, assim com a maioria dos demais colegas dizem não perceber nenhuma mudança, na verdade eles nem sabiam que o processo de venda ainda não havia sido concluído. “Tudo corre normalmente na sala de aula”, afirma Larissa.

Quais motivos levaram a Ulbra a esta situação?

Em 2009 a Receita Federal do Brasil e a Polícia Federal do Rio Grande do Sul deram início, à Operação Kollektor, após um ano de investigações por suspeita de fraude em execução fiscal, desvios de recursos para empresas de fachada, supostamente prestadoras de serviços à universidade, e por pratica do crime de lavagem de dinheiro.

Estima-se que o dinheiro desviado pelo esquema ultrapasse a cifra de R$ 60 milhões, já tendo sido identificados diversos imóveis de luxo, propriedades rurais e automóveis pertencentes ao grupo.

Ex-reitor condenado por lavagem de dinheiro

No início deste ano o ex-reitor Ruben Eugen Becker, de 81 anos, foi condenado pela 7ª Vara Federal de Porto Alegre pelo crime de lavagem de dinheiro. A sentença é de 5 anos e 3 meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicial semiaberto, e ao pagamento de 122 dias-multa, no valor unitário um do salário-mínimo.

A filha dele também foi condenada no mesmo processo, a 4 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicial semiaberto, e ao pagamento de 68 dias-multa, nas mesmas condições do pai. Outras três pessoas que haviam sido denunciadas foram absolvidas.

Operações fraudulentas geraram multas de 150%

O argentino Cesar Arrieta teve uma passagem pela Ulbra entre os anos de 2000 e 2001. Foi um ano antes de iniciar a Operação Tango, outra operação da Polícia Federal, que investigou crimes que Arrieta praticou fora e dentro da Universidade.

Em Canoas, o argentino recebeu a tarefa de diminuir a dívida com a Receita Federal, que já naquela época preocupava os gestores da Ulbra. Obteve uma certidão negativa de débitos falsificada e vendeu créditos do Banco Santos para abater o passivo público da Universidade, crimes documentados pela Polícia Federal na época.

Pelos serviços prestados por Arrieta, mais de R$ 21 milhões foram repassados dos caixas da Ulbra para as empresas de sua mulher, Sônia Soder. A Universidade ainda teve que arcar com uma multa de R$ 244 milhões, aplicada pela Receita Federal, que desaprovou as tentativas de renegociação de dívidas feitas pelo argentino.

Multa foi o que agravou a situação da Universidade

“A auditoria levantou algumas operações dele (Arrieta). São justamente elas que geraram as multas de até 150% que hoje complicam a saúde financeira da Universidade”, admitiu outro ex-reitor Marcos Fernando Ziemer em entrevista exclusiva ao site ligado ao Sindicato dos professores Extra Classe em janeiro de 2010.

Justiça absolve envolvidos

Indiciado pela Operação Tango, Arrieta teve a prisão decretada, mas conseguiu uma série de habeas-corpus que o mantiveram longe da cadeia. Em 2009, o juiz federal Daniel Marchionatti Barbosa absolveu os envolvidos do crime denunciado pela Operação Tango.

Quando resolveu deixar a Ulbra, o argentino colocou em seu lugar um executivo gaúcho chamado Paulo Zanchi, um homem que pode ser considerado um dos pivôs do escândalo na Ulbra.

Posicionamento da instituição

Procurada pela equipe da Gazeta do Cerrado a atual gestão informou que aguarda a justiça para dar andamento ao processo de venda e que por enquanto não têm novidades sobre o caso.