“Dizem que a maior parte da população brasileira é negra, mas gente não
vê essas pessoas ocupando espaços e tendo protagonismo”. Quem diz
isso é Josélia Gomes. Junto com a amiga Mickaela, a estudante criou no
Instagram uma rede de apoio e divulgação de profissionais negros do
Ceará.

Estatísticas confirmam a observação da universitária. Segundo a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), a taxa de desemprego entre pessoas negras superou em 3% a média nacional no último trimestre de 2018.

Os dados também alertam para a persistência da desigualdade étnico-racial no mercado de trabalho. “Sempre parece que o negro não tem que ser apenas bom, mas tem que ser três ou quatro vezes melhor. E a falta de visibilidade faz com que pessoas negras acabem desistindo de suas profissões”, reflete Josélia.

Intitulada “Profissionais Negros Ceará” (https://www.instagram.com/prossionaisnegrosce/), a página criada pelas estudantes já passa de 4.000 seguidores. As administradoras acreditam que mais de 100 pessoas tenham sido divulgadas durante os mais de três meses de existência do perfil. Dentre elas, estão advogados, psicólogos, veterinários, esteticistas, artesãos, atores, cantores, etc.

“É muita gente. E cada dia a gente vai encontrando mais. Isso é ótimo, é maravilhoso. A agenda de divulgação já está completa até meados de julho”, comemora Josélia.
A estudante de Agronomia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) relembra um caso marcante envolvendo um médico cubano negro. O profissional enfrentava dificuldades depois do cancelamento de contratos no Programa Mais Médicos, do Governo Federal.

“Fizemos uma ação beneficente para ele, uma festa. Conseguimos doações de outros profissionais que já haviam sido divulgados. É realmente uma rede de solidariedade. Por esses dias, conseguimos encontrá-lo e entregamos as doações”, recorda.

No último dia 6, a dupla deu outro passo importante para o projeto, com a realização do evento “Suor Preto”. O baile surgiu da intenção de promover um encontro de profissionais negros. No próximo dia 9 de junho, o espaço colaborativo Matinê será cenário
da segunda edição da festa.

Josélia ressalta que o projeto não tem nenhum m lucrativo. Ela também revela que pretendem criar um banco de dados online para catalogação de serviços prestados por profissionais negros. “Nossa intenção é aumentar essa rede de apoio e fazer com que se expanda para todo o Brasil. Queremos que as empresas procurem esse banco de dados. Esperamos que isso aconteça”, almeja a universitária.

O perfil criado por Josélia e Mickaela pode ser entendido como um catálogo que reúne profissionais invisibilizados pelo mercado de trabalho. Também é possível dizer que o projeto é uma rede de apoio entre aqueles que compartilham de uma difícil realidade. Mas,
acima de tudo, “Profissionais Negros Ceará” é ferramenta para a diminuição de uma desigualdade sentida “na pele” por inúmeros brasileiros.

fonte: Tribuna do Ceará

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