Operação da PF investiga corrupção no Ministério da Agricultura

Operação da PF investiga corrupção no Ministério da Agricultura

Os suspeitos de envolvimento em um esquema de corrupção na superintendência do Ministério da Agricultura do Tocantins foram liberados neste sábado (21). Somente Adriana Carla Floresta, ex-superintendente do órgão, continua presa. A servidora é suspeita de receber propina de frigoríficos e laticínios. Em troca, as empresas supostamente conseguiam burlar fiscalizações e até anular multas. Ela está presa desde a última terça-feira (16), em Palmas, quando a Polícia Federal deu início à operação Lucas.

Conforme a Justiça Federal, o tempo da prisão temporária dos suspeitos terminou e apenas o de Adriana Carla foi prorrogado por mais cinco dias. Os filhos dela já tinham sido liberados porque a Justiça entendeu que eles não tinham como ter conhecimento a respeito do esquema. Eles tiveram que pagar fiança de cinco salários mínimos cada um.

A operação Lucas foi deflagrada na última terça-feira (16). Cerca de 120 policiais federais cumpriram 62 mandados judiciais no total, sendo 10 prisões temporárias, 16 mandados de condução coercitiva e 36 mandados de busca e apreensão, nos estados de Tocantins, Pará, São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal.

Ganharam liberdade o ex-marido da superintendente, Djalma Feitosa; o atual companheiro dela, Humphrey Teixeira; o gerente de produção de uma das empresas investigadas, Antônio Augusto Machado; além do servidor da Adapec que está cedido para o MAPA, Dawes Rodrigues Sousa Lima, e a engenheira de alimentos Fernanda Alves Dias.

Já tinham sido liberados os filhos de Adriana, Luís Fernando Floresta e Luciano Floresta, um inspetor da Adapec e Myriam Pinto de Amorim, que é sócia de algumas das empresas investigadas. Ela foi liberada em função da idade e vai responder a investigação em liberdade.

Esquema

As propinas que teriam sido pagas a ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Tocantins, podem ter servido até para pagar os custos do velório e do enterro da mãe dela. É o que apontam as investigações da Polícia Federal. Segundo as investigações, ela usava dinheiro de propina para custear despesas com a faculdade de medicina dos filhos, além de viagens turísticas.

A decisão cita também que frigoríficos e laticínios usavam produtos proibidos na produção de alimentos, além de comercializar mercadorias contaminadas. Essas irregularidades, segundo o juiz, “têm sido acobertados por dirigentes da Superintendência Federal da Agricultura no Estado em troca de propina”. Porém, a decisão não especifica quais produtos teriam sido utilizados e quais alimentos foram contaminados.

São citadas na decisão as empresas Paraíso Indústria e Comércio (Frango Norte), Indústria e Comércio de Laticínios Veneza, Laticínio Fortaleza, Minerva S.A., Masterboi e a Cooperativa dos Produtores de Carne e Derivados de Gurupi (Cooperfrigu).

Durante o período investigado, entre 2010 e 2016, a PF descobriu por meio da quebra de sigilo bancário, que houve uma movimentação no valor de R$ 13 milhões em contas ligadas a superintendente e parentes. Destes, apenas R$ 3 milhões eram provenientes de remuneração salarial.

“O que excede a isso é uma movimentação de crédito sem uma origem. Boa parte dessa movimentação não identificada que chega a R$ 8 milhões é uma movimentação de origem de alguns frigoríficos ou pessoas ligadas a frigoríficos e laticínios. Houve decretação de bloqueio de bens de aproximadamente R$ 2,2 milhões do núcleo familiar da servidora porque até o momento é esse o valor que temos a certeza de que houve a locupletação pelo ilícito”, disse o superintendente da PF Arcelino Vieira.

Os pagamentos, segundo a Polícia federal, eram feitos mensalmente com valores fixos entre R$ 4 e 5 mil. Um dos frigoríficos chegou a fazer 40 depósitos na conta de Adriana Carla. Com o pagamento de propinas, as empresas supostamente conseguiam burlar fiscalizações do Ministério da Agricultura e até anular multas.

Outro lado

O advogado de Adriana Floresta, Humphrey Teixeira, Luis Fernando Floresta e Luciano Floresta disse que a defesa da família ainda está se interando sobre as acusações e que só poderá se pronunciar após ler o conteúdo completo do inquérito.

A defesa de Dawes Rodrigues Lima disse que ele já prestou todas as informações para esclarecer a origem das tranferências para a Polícia Federal.

A Cooperfrigu informou que nunca se envolveu em casos ilícitos e se colocou à disposição da Justiça para colaborar com a operação. O frigorífico Frango Norte não se posicionou sobre o caso.

O Laticínio Veneza informou que não tem nada a declarar. O frigorífico Masterboi não atendeu as ligações. Ainda não conseguimos contato com o Laticínio Fortaleza.

O frigorífico Minerva Foods informou que está sempre colaborando com as autoridades para a investigação envolvendo servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disse ainda que segue rígidas normas de governança corporativa e que cumpre toda a legislação aplicável em suas operações, adotando rigorosos padrões de qualidade e segurança.

A Masterboi disse que ficou surpresa com as notícias divulgadas a partir da deflagração da Operação Lucas, e que ainda está tomando conhecimento sobre os detalhes da ação. Informou ainda que, nos seus mais de 17 anos de história, sempre pautou suas atividades no respeito à legislação e aos seus consumidores repudiando qualquer tipo de ato ilícito. A empresa se colocou à disposição da Justiça para esclarecer todos os fatos.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento disse que apoia integralmente a ação da Polícia Federal e vem colaborando com as investigações. Afirmou ainda que todos os servidores envolvidos na ação foram afastados preventivamente por 60 dias e, os que possuem cargos em comissão, exonerados das funções.

“Sobre a operação Lucas, envolvendo a Superintendência do Estado do Tocantins, é importante destacar que a servidora já estava exonerada há mais de 30 dias e que as investigações não atingem o sistema como um todo, se referindo a desvio de conduta de uma servidora”, diz nota.

O G1 ainda tenta contato com as defesas dos demais citados.

Fonte: G1 Tocantins