Homem dormindo em banco do Parque dos Povos Indígenas – Foto: Marco Jacob/Gazeta do Cerrado
Maju Cotrim
Abril chegou e a pandemia segue sem trégua no país e no Tocantins. Além das questões de segurança sanitária, protocolos, medidas e a preocupação com o sistema de saúde outro gargalo tem acendido um alerta em vários bairros da capital: o aumento da pobreza.
Pelas ruas da capital, pessoas com cartazes pedindo ajuda para comprar comida, vaquinhas virtuais e tem sim infelizmente casas nas quais tem faltado tudo. Desde Vaquinhas para músicos até o amparo mínimo que é a distribuição de cestas, a sociedade e poderes da capital precisam reagir na assistência social à população.
Dona Ana Santos tem 57 anos. Mora no Taquari desde o início de Palmas. Ela encaminhou uma mensagem à nossa equipe pedindo ajuda para conseguir um emprego. Ela comanda uma casa com outras seis pessoas. “Por aqui tem dia que não tem nem o arroz, coisas simples do dia a dia”, disse.
Ela conta que pessoas da sua igreja sempre que podem levam o que sobra do almoço para que ela dê para seu neto. No Parque dos povos indígenas moradores de rua também pedem ajuda a quem caminha pelo local.
Para muitas famílias da extrema pobreza o auxílio emergencial e a doação de cestas básicas através de várias campanhas de solidariedade foi o que garantiu comida na mesa desde o ano passado. O auxílio voltará nos próximos dias mesmo que em valor menor, mas as ações sociais e institucionais precisam ser reforçadas neste momento para os públicos de vulnerabilidade social.
São duas crises: a da Pandemia e a social que não pode ser invisibilizada e precisa também de combate e linha de frente.
Sociólogo: “degradação social intensa”
Para analisar este processo de intensificação da pobreza na capital a Gazeta conversou com o doutor em sociologia e professor da UFT, Marcelo Brice.
“Sobre o impacto social e o aumento da pobreza na capital: é importante salientar que a intensificação da pandemia gera além de uma crise sanitária, uma crise social intensa. Porque as pessoas perdem seus postos de trabalho e o Estado não se compromete com os efeitos dessa realidade. As pessoas não têm uma orientação para se sentirem apoiadas, protegidas, ajudadas da maneira que se sentiriam mais aptas a vivência e convivência social mais plena se elas tivessem uma inserção e proteção social significativa. E isso seria possível se a gente conseguisse minimizar os impactos na vida cotidiana das pessoas. É perceptível cada vez mais o número de moradores de rua, de pedintes, de pessoas de estado de extrema situação de vulnerabilidade”, analisou.
Ele comentou ainda: “O reflexo disso é uma degradação social intensa. As pessoas desesperançadas, as pessoas completamente marginalizadas e isso trará para nós um problema muito grave de difícil resolução a curto prazo. O que o Estado pode fazer? Gerar políticas. Faltam políticas públicas, e a mais imediata é a contenção do aumento da miséria e isso se dá por meio de medidas emergenciais”.
Brice cita a necessidade de reação do Institucional a isso: “Por exemplo, a disponibilização do auxílio emergencial é fundamental, isso associado a algumas medidas como a distribuição de cestas básicas. Além disso, algumas condições como a cobrança, suspensão de IPTU, de água, luz. Devia ser obrigatório em todo serviço que é público. Por mais que sejam empresas privadas que fizeram a aquisição da água, da energia. Essas empresas oferecem um serviço público, então, elas respondem por uma concessão pública. Nesse sentido, elas deveriam pensar em um impacto social que é você cortar a luz de uma pessoa que está em débito, cortar a água, aumenta a vendaval de juros devido a um não pagamento de IPTU. Dessa maneira os governantes deveriam pensar nisso de uma maneira mais intensa. Minimizar os impactos negativos das cobranças, e isso na se faz somente no último dia, como a prefeita fez. Isso se faz antecipadamente. Então, por exemplo, as pessoas devem sentir segurança social que neste momento de instabilidade elas não precisam ficar preocupadas com pagamento de água, luz e IPTU”, analisou.
Outra questão que ele comentou foi sobre os alugueis: “Em maior parte, a sociedade palmense vive de aluguel. Além de termos uma realidade muita alta, esse aluguel deveria sofrer um decréscimo, pelo menos uma medida de negociação por meio dos serviços de públicos, da Câmara de Vereadores, da Prefeitura que deveria oferecer contrapartida as imobiliárias para poder negociar e impactar menos a população”, sugeriu.
“O poder público pode fazer parcerias com a iniciativa privada e incentivar por meio de negociação de imposto, por meio de outros sentidos que a atividade econômica fique presente e contemple as questões mais urgentes da população”, completou.
Nota editorial:
Se você tem alguma ação social ou campanha para ajudar a população neste momento difícil encaminhe para divulgarmos.
Pobreza na América Latina
O ano de 2020 terminou com mais 22 milhões de pessoas pobres na América Latina e no Caribe. No total, 209 milhões de pessoas vivem na pobreza, segundo o relatório anual da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). É um número inédito, segundo a agência.