A São Clemente fez um desfile com críticas irreverentes sobre “golpes e trambiques” do Brasil. O samba teve coautoria de Marcelo Adnet. O desfile colorido e satírico abriu o segundo dia do Grupo Especial do carnaval carioca em 2020, na noite desta segunda-feira (24).
O enredo “O conto do vigário”, do carnavalesco Jorge Silveira, se baseou na expressão popular, surgida no século 18 em Minas Gerais, e mostrou outras histórias de trapaças. A São Clemente busca seu primeiro título no Grupo Especial.
A letra do samba contou casos desde portugueses enrolando Napoleão até as modernas “fake news”, entre outros golpes – venda de terreno em cemitério, troca de dentadura por votos, caixa 2 etc.
- A bateria foi fantasiada de “laranjal” – a letra também citava a fruta que virou gíria para falar do uso de identidades para ocultar a origem ou destinatário de dinheiro ilícito.
- Adnet desfilou com fantasia e carro alegórico com referências a Jair Bolsonaro, como faixas com as frases “tá ok?”, “a culpa é do Leonardo di Caprio” e “acabou a mamata”. Adnet fez flexões de braço e imitou uma arma com a mão, gestos que Bolsonaro popularizou. O humorista jogou laranjas para o público.
- Adnet ainda levou para a Sapucaí seus amigos humoristas, como Marcos Veras, Paulo Vieira, Welder Rodrigues, o apresentador Érico Brás e o ator Matheus Solano
Foi a estreia de Marcelo Adnet como compositor de samba no Grupo Especial do Rio. André Carvalho, Pedro Machado, Gustavo Albuquerque, Gabriel Machado, Camilo Jorge, Luiz Carlos França e Raphael Candeia criaram a música junto com ele.
A pista estava molhada por causa da chuva que caiu durante o dia e uma das integrantes da comissão de frente, vestida de santa, escorregou e caiu na avenida.
A comissão e o primeiro carro, com anjinhos nus e fazendo caretas, um burrinho e a imagem de uma santa, enlouquecida com a situação, contaram a origem da expressão que deu nome ao enredo. Ela nasceu da malandragem de um padre na chegada de uma imagem de Nossa Senhora a Ouro Preto.
Duas paróquias de Ouro Preto disputavam a imagem, quando o vigário de uma delas propôs que colocassem a santa no burro que a levaria e deixassem que “Deus guiasse o animal”. Tempos depois se descobriu que o burro era do tal vigário e estava acostumado a fazer o trajeto daquela igreja diariamente.
Um dos carros lembrou um golpe de vendas de terreno na Lua que aconteceu nos anos 1960 no interior do Brasil. Em 1969, aproveitando a chegada do homem à Lua, golpistas criaram este golpe. Marcos Veras saiu neste carro como um agricultor lesado, e Érico Brás como o “corretor” mentiroso.
A escola teve até uma ala que lembrou o caso da falsa grávida de Taubaté.
Na parte das vigarices políticas, a escola fez menções a “caçadores de marajás”, governantes presos na Operação Lava Jato, caixa 2 em campanhas, uso de laranjas em negócios escusos e até troca de dentaduras por votos.
Também foram lembradas falcatruas religiosas, que prometem milagres, como trazer a pessoa amada em três dias.
A vigarice da era modernas foi citada em golpes aplicados pela internet, como as fake news, a comercialização de produtos falsos e e enganação em aplicativos de encontros.
Fonte: Globo.com