O conceito de Smart Cities – as cidades inteligentes – está relacionado a construção de espaços urbanos tecnológicos e responsáveis que proporcionam bem-estar à população que ali reside. Em outras palavras, uma solução à expansão urbana desordenada.

O especialista em cidades inteligentes Renato de Castro revelou em palestra ao TED Talk que em 2016, 18 pessoas mudaram-se para São Paulo por minuto. Como resultado, foram quase 10 milhões de novos habitantes somente naquele ano. Esse acréscimo pode ser percebido na economia, no trânsito, na saúde pública e em inúmeras outras áreas que impactam diretamente na vida de todos os cidadãos.

Buscando uma solução para estes problemas, o designer Guto Indio da Costa desenvolvou o MyCitySmart, um sistema integrado de mobiliário urbano inteligente e conectado. Nele câmeras, sensores e tecnologia de transmissão de dados são instalados a bancos, lixeiras, abrigos de ônibus, totens, bicicletários e postes de iluminação. Todos esses equipamentos comunicam-se com smartphones e oferecem uma série de serviços à população, polícia, bombeiros, ambulâncias e outros agentes públicos.

Ainda que seja uma tecnologia de alto custo e que esbarra na dificuldade de implementação da Internet das Coisas, como a falta de conexão rápida para a transferência dos dados, os primeiros passos já foram dados. Guto assina o projeto das plataformas do corredor BHLS Transoceânica em Niterói, no Rio de Janeiro. Este é um dos primeiros projetos que utiliza o conceito de Smart City conectando passageiros e ônibus no Brasil.

Confira nosso bate-papo com Guto Indio da Costa e saiba mais sobre o corredor BHLS e como as cidades brasileiras irão se transformar nos próximos anos.  

Como funcionam as plataformas do corredor BHLS Transoceânica em Niterói, no Rio de Janeiro?
Guto Indio da Costa | 
É um corredor expresso de ônibus, parte da frota elétrica, com plataformas abertas, transparentes e integradas à paisagem urbana. Os ônibus têm piso baixo alinhado com as calçadas e portas de ambos os lados, facilitando o embarque e desembarque e permitindo que circulem no corredor e também na cidade. Cada plataforma tem pelo menos 10 bicicletários para que o passageiro deixe a bike, embarque no ônibus e pegue a bike novamente quando voltar. Por fim, cada abrigo tem um megatotem eletrônico interligado aos ônibus que informa os passageiros a posição de cada veículo e o tempo de espera previsto ao longo do corredor. Tudo isso com uma linguagem de design contemporânea, limpa e elegante, com materiais resistentes e de excelente qualidade.

 E o projeto MyCitySmart, como funciona na prática?
GIC |
 O poste inteligente pode, por exemplo, ao “ouvir” o barulho de um tiro ou explosão, alertar imediatamente os policiais mais próximos, disponibilizando em tempo real as imagens das câmeras do local do incidente. 

Já o abrigo de ônibus pode manter os passageiros informados do tempo de espera e chegada dos ônibus, vender e validar passagens pelo celular, conectar os passageiros à polícia, bombeiros ou ambulâncias em caso de emergência, monitorar o entorno através de câmeras e sensores, oferecer Wi-Fi e tomadas para celulares, etc. 

A lixeira inteligente pode avisar ao lixeiro mais próximo (ou ao caminhão de lixo) quando estiver cheia, agilizando e racionalizando a coleta. Sensores podem monitorar as vagas de estacionamento. O motorista é direcionado através de seu celular à vaga disponível mais próxima. Todo o pagamento é feito também pelo celular.

Uma central da prefeitura pode enviar mensagens diretamente aos totens, painéis ou abrigos de ônibus em toda a cidade, informando a população em caso de emergência. Enfim, é uma revolução urbana que estamos prestes a experimentar.

 Em suma, o que torna uma cidade inteligente?
GIC |
 É um conceito muito amplo, que vai do saneamento a todo tipo de serviço urbano. Mas em poucas palavras, a cidade inteligente é aquela capaz de oferecer a melhor condição de vida a seus habitantes através do uso intensivo de tecnologia, minimizando a violência urbana, facilitando o trânsito, controlando a poluição, melhorando e tornando a iluminação pública mais eficiente, conectando as pessoas e monitorando o espaço urbano sempre em busca de melhores soluções para o planejamento urbano.

CJ | Como funciona a aplicação desse tipo de tecnologia no Brasil? 
GIC |
 O grande limitador, hoje, para essa tecnologia chamada internet das coisas é a capacidade de transmissão e gestão de dados. Com a chegada do sistema 5G toda a transmissão de dados terá seus custos reduzidos, pois a capacidade do 5G é muito maior que a atual e evitará cabos e fibras óticas ainda necessários para uma banda larga. A infinidade de dados que tudo isso vai gerar será resolvida pelos sistemas de big data, capazes de analisar com muito mais rapidez um volume muito maior de dados. Rompidas essas duas limitações tecnológicas, a internet das coisas vai crescer exponencialmente, revolucionando de forma absurda o mundo que hoje conhecemos.

 Em quanto tempo você acredita que teremos exemplos mais claros de cidades inteligentes no Brasil?
GIC | 
Em dois ou três anos imagino que haja uma explosão em busca de soluções tecnológicas para as cidades brasileiras se tornarem cada vez mais inteligentes. Até lá o custo será bem menor e as capacidades e abrangência muito maiores. Prepare-se para um novo mundo, de fato conectado, onde equipamentos tomam decisões de forma autônoma, monitoram e analisam dados, comunicam-se entre si e também com você.

fonte: Casa e Jardim