Em entrevista ao podcast Educação Financeira, a especialista Ana Leoni diz que essa é uma boa época para refletir sobre as finanças e iniciar uma mudança de comportamento para o próximo ano.

Foto: George Dolgikh/Pexels

 

Ter dinheiro disponível em um período de muitas promoções e campanhas chamativas pode resultar em excesso de gastos e compras por impulso. Este é um clássico de fim de ano, quando se juntam a Black Friday, o Natal e o 13º salário.

O pagamento do 13º salário para milhões de trabalhadores ocorre até o fim desta semana. Em grande parte das empresas, existem ainda outras bonificações de final de ano e pagamento de bônus. Gerando um ambiente propício para o consumismo.

Mas para Ana Leoni, educadora financeira e CEO da Planejar, a oportunidade de usar bem essa grana extra pode também representar uma possibilidade de refletir sobre as compras por impulso, sobre a direção dos gastos do dia a dia e se há necessidade de uma mudança de comportamento financeiro para o próximo ano.

A especialista foi a convidada do terceiro episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.

 

Veja a íntegra da entrevista ou os principais cortes da conversa mais abaixo:

 

Nesta reportagem você vai ver:

 

– Como o consumismo pode representar alguma falta em outra área da vida;

– Como uma mudança na forma de gastar dinheiro pode evitar compras por impulso;

– Quais atitudes podem ajudar a conter o impulso por consumir.

 

Todo excesso esconde alguma falta

 

O consumismo é o consumo exagerado, seja de bens ou serviços, muitas vezes de coisas supérfluas para a vida de quem consome. Mais que isso, explica Ana Leoni, há outros dois fatores particulares que ajudam a identificar esse problema:

– O ato de exagerar costuma estar relacionado a um estilo de vida que a pessoa quer ter (ou parecer que tem);

– A reação ao consumo costuma ser cercada de sentimentos negativos, como culpa e frustração.

1. Embora o consumismo não seja novidade, ele aparece com mais frequência hoje em dia porque a forma de consumir, de se comunicar e de desejar ficaram diferentes — e agora são mais fáceis, graças às redes sociais.

Influenciadores digitais e até o conteúdo editado de pessoas comuns mostram apenas os recortes felizes de suas vidas. Em busca de um modelo parecido, o consumidor passa a buscar os mesmos produtos, bens e serviços que proporcionem esse estilo de vida, explica Ana Leoni.

 

“Quando a gente olha uma foto muito editada, muito legal na rede social, em que a pessoa está ali naquele lugar paradisíaco, tomando um champanhe caríssimo, vestindo roupa da grife da vez… ao tentar replicar aquela imagem, consumindo aquela coisa, viajando para aquele lugar, a pessoa busca sentir o que aquela foto expressa, aquela liberdade, aquela satisfação, aquela delícia de estar naquele ambiente.”

 

Sobre essa necessidade de reafirmação, Ana fiz que “todo excesso esconde alguma falta” e o consumismo é “um sintoma de alguma coisa mais profunda que a pessoa tenha”, como a vontade de ser aceito em um grupo social ou suprir faltas de algo que se teve na infância, por exemplo.

Tudo piora com o acesso tão facilitado às compras, disponíveis em poucos passos pela internet. “As pessoas antes precisavam se deslocar para comprar qualquer coisa, hoje tudo está a um clique e com muitos gatilhos para te fazer comprar”, diz a especialista.

2. Com tanto afobamento e motivação tão supérflua, é comum que outra forte característica do consumismo seja o sentimento negativo que se segue à compra.

 

“Quando a pessoa consegue comprar tudo aquilo (que desejou para alcançar o ideal de felicidade), não necessariamente ela vai sentir para ela aquilo que ela projetou com aquela foto (nas redes sociais), e aí vem a frustração muito forte”, diz Ana Leoni.

 

“O dinheiro é feito para gastar, mas não tudo de uma vez e não em qualquer coisa, essa é uma distinção”, comenta. “O problema é você colocar no ato de consumir a busca de uma sensação que você não está encontrando em outro lugar”.

 

Mudando a forma de gastar dinheiro

 

Apesar de o sentimento negativo ser um sintoma comum, o consumismo pode também se tornar um vício, pelo prazer no ato de comprar. Para casos assim, é importante buscar ajuda especializada, para que a vida financeira não vire uma bola de neve.

Em casos menos graves, alguns exercícios podem ajudar a corrigir rotas prejudiciais e a diminuir o impulso pelo consumo.

Ana Leoni diz que é importante, por exemplo, inverter a forma de gastar dinheiro. Para a especialista, o modelo de gastos ideal segue a seguinte ordem de prioridades:

– Pagar as contas necessárias;

– Investir uma parte do dinheiro, mesmo que seja uma quantia pequena;

– Gastar apenas o que sobra depois disso.

 

“Essa é uma organização financeira mais eficiente e que, independentemente do orçamento, aproxima mais [a pessoa] da independência financeira”, explica.

 

A chegada do 13° salário e outros “extras” podem ajudar a colocar esse modelo em prática. Em vez de usar o dinheiro para comprar presentes ou esbanjar com roupas novas, vale já separar uma fatia para arcar com os gastos de começo de ano — como IPTU, IPVA, mensalidade escolar e férias —, investir um pedaço e, só então, pensar em outros desejos menos prioritários.

 

Dicas para evitar compras por impulso

 

Ana Leoni também oferece outras sugestões que podem ajudar a evitar compras impulsivas no final do ano, quando o dinheiro extra que surge se transforma em tentação. As orientações também podem ser implementadas ao longo de 2025.

 

– Evitar compras por ocasião

O primeiro passo para evitar compras por impulso é saber o que vai comprar e se manter fiel ao que foi definido. Isso vale para todo tipo de compra, dos supermercados às lojas de roupas.

Sabendo o que realmente precisa ser comprado — mesmo que a compra não seja de necessidades básicas —, a pessoa consegue buscar o produto de forma mais certeira.

 

– Atenção aos gatilhos de marketing

Campanhas publicitárias de fim de ano podem ser mais agressivas para estimular o consumo nessa época. Os gatilhos de marketing sempre vão fazer com que as promoções pareçam um ganho, não um gasto.

A estratégia, então, é sempre se perguntar se também compraria aquele mesmo produto se o preço dele fosse maior. Se a resposta for não, cabe avaliar se a compra é realmente necessária.

Vale tomar cuidado também com os gatilhos para comprar mais, como a oferta de frete grátis apenas para compras acima de determinado valor. Se para ter um frete de R$ 20 grátis, por exemplo, for necessário gastar mais R$ 50, a compra pode não compensar.

 

– Não à “Síndrome do Papai Noel”

O desejo de presentear pessoas próximas também pode acabar mal. Ana chama a situação de “síndrome do Papai Noel”.

O desejo de agradar às pessoas queridas pode gerar muitas compras por impulso e até resultarem em um gasto acima do que é possível arcar. A educadora financeira, entretanto, destaca que há outras formas de agradar que não seja fundamental comprar um presente para cada um.

Sugerir um “amigo secreto”, por exemplo, pode funcionar muito bem, pois estipula um preço para o presente, sem gerar constrangimentos quando uma pessoa ganha algo mais caro do que outra.

 

(Fonte: g1)